Eu ainda lembro os detalhes daquela manhã de 2003: havia meses que eu dormia mal, mas há três dias havia piorado, pois eu só tirava alguns cochilos. Então levantei às 6h, sentindo uma dor muito fina, uma cólica que não chegava a impedir nada, mas era incômoda. Era uma cólica que havia dado sinais nos dois dias anteriores, com hora para começar e terminar. Mas naquela manhã ela havia começado às 3h e ainda permanecia. Eu liguei o vídeo-cassete (sim, em 2003 usávamos fitas para gravar) e fui assistir o capítulo da noite anterior da série televisiva da Globo 'A casa das 7 mulheres'.
Enquanto as cenas se passavam, eu fui tomando consciência de que a minha cólica ficava um pouco mais forte a cada vinte minutos, ou menos, eu acho, e a barriga se contraía.
Enquanto as cenas se passavam, eu fui tomando consciência de que a minha cólica ficava um pouco mais forte a cada vinte minutos, ou menos, eu acho, e a barriga se contraía.
Eram 6h40 da manhã quando liguei para o celular do meu médico e ao falar do que eu sentia, ele pediu que eu fosse vê-lo.
Então fui avisar a minha mãe, que prontamente arrumou-se e pegou a mala do baby e de grávida, prontas para quaisquer emergência. Já eu, que calmamente via o final do capítulo, estava também a programar o vídeo para gravar o capítulo seguinte, caso precisasse ficar no hospital.
🤪
Naquela manhã, meu médico, Drº John Lee Filho, estava em plantão na maternidade que eu havia escolhido, Manoel Novais, em Itabuna. Era perfeito.
Pura sincronicidade do Universo.
🙏
Telefonei para os meus dois irmãos, que naquela data estavam na cidade, também uma boa coincidência, já que um deles residia fora, e prontamente vieram para levar-nos ao hospital.
Realizei a consulta às 8h30. Dr. John verificou que havia dilatação de pouco mais de dois dedos e eu fui enviada para uma sala de preparação íntima.
😱
Ali perdi todo e qualquer pudor. Sentir uma estranha passando um aparelho de barbear em partes íntimas que eu nem enxergava, por conta do barrigão, provou-me que eu precisava confiar nos profissionais e deixar que meu corpo fosse o veículo para que a vida do meu filho viesse ao mundo. Ele não era o meu corpo naquele dia.
Aplicaram-me soro com medicação. Imediatamente senti a bolsa de líquido amniótico a se romper.
Não demorou nadinha, pelo menos para o tempo que se conta com dor, que parece longo, mas a enfermeira disse que o bebê estava "coroando".
Então fui levada à outra sala, desta vez numa maca, para ficar com outras mulheres parturientes, que gemiam alto (e algumas gritavam, o que fazia eu me conter).
Enquanto eu repetia sem parar: 'Maria, Jesus, ajudem-me' e respirava conforme eu havia aprendido no Pilates.
Eu fazia pilates há dois anos, e na gravidez tinha feito um treinamento específico para parto normal.
Eu me sentia tranquila com aquela dor enorme que me dilacerava, mas eu sabia exatamente o motivo.
Enquanto isso, meu irmão Marcelo avisava a Cris que nosso bebê estava à caminho. Então as 9:50 hs, já numa sala de parto, Arthur nasceu, dez minutos depois do médico entrar, olhar pra mim e dizer: 'que parturiente facinha é essa? eu saio um pouco e ela faz o serviço quase todo sozinha?'
✌
Sim, tinha sido sem anestesia. E foi impressionante como toda e qualquer dor cessou quando Arthur chegou.
Arthur chorou e Cris o ouviu pelo celular. Eu, ligada em tudo, pois essa é a vantagem do parto normal, acompanhava todo e qualquer movimento. Meu filhotinho teve uma limpeza rápida na sala de parto, foi pesado e depois colocado em meu peito, para sugar com uma força que me impressionou (guri esperto).
Foi quando eu senti verdadeiramente o meu papel de mãe. Nascia um filho e nascia uma mãe. Fomos para o quarto e eu olhava aquele menininho pequenino, com 2,6 kg, de olhos enormes, e acho que ali começou o mais lindo caso de amor da minha vida. Eu estava irremediavelmente apaixonada.
Quem aparece aqui no Blog de vez em quando sabe que há muitas histórias envolvendo meu rapazinho.
Aliás a ideia do blog surgiu porque viajo muito, e como todo mortal, penso que posso ir sem falar ao meu filho tudo o que penso. O Blog serve para deixar registrado coisas que quero que ele saiba. No exercício da maternidade, a cada 13 de março, reitero esse compromisso com o Divino, de saber que a maternidade não é posse, é apenas amor sem esperar nada em troca, e um super desejo que nossa cria possa ser sempre mais e mais feliz.
Dia desses recordei, quando tive os dois sonhos premonitórios, que hoje sei que eram projeções astrais antes dele nascer.
Foi antes mesmo de saber que estava grávida.
No primeiro sonho, um jovem cheio de luz e amor no olhar, dizia-me que ia voltar para vivermos a mais bela experiência de amor juntos. Disse-me, no primeiro sonho, que já havíamos vivido vários tipos de amor mas que, daquela vez, seria a mais forte e pura de todas. Disse chamar-se Frederico.
No segundo sonho, uma semana depois, eu segurava um menino no colo. O menino fazia xixi. Estava nu. Eu ria. No sonho eu me perguntava "mas de quem é esse bebê?"
Imediatamente ouvi a mesma voz a responder "sou eu, Frederico. Estou pronto para voltar".
Eu fui acordando devagar. Com uma sensação de certeza: eu estava grávida.
Havia 28 dias do meu último encontro com o Cris. Era aniversário dele, 02 de julho de 2002. Final da copa de 2002. Comemoramos em grande estilo.
Liguei para a minha amiga Kalu, bioquímica e dona de um laboratório. Perguntei se com 28 dias era possível confirmar uma gravidez.
Ela me pediu que eu fosse até o laboratório. Coletou um pouco de sangue.
Tomávamos chá enquanto ela observava uma reação no sangue. Era taxa de algum hormônio.
Sim, eu estava, disse-me. Nos abraçamos. Foi lindo e emocionante.
Pensei:
É um menino. Frederico ia voltar.
E assim foi.