domingo, 20 de setembro de 2009

Sinais

Por duas vezes minha mãe chegou às portas de um centro cirúrgico nos últimos tempos. Por duas vezes, ficou sem comer, se preparou para cirurgia, fez pré-operatório e... nada. Adiada. A primeira era de reconstrução de Tímpano (ela tem os dois perfurados). A segunda, de varizes.
Nas duas, os médicos deram pra trás... ou porque o corpo dela não se comportou como deveria na pré-anestesia, ou por imprevistos outros. E eu fico de cá, só captando os sinais.
Minha mãe quer consertar os estragos que o tempo fez em sua saúde. Não tem nada de vaidade, é pura cura de doença mesmo. Suas pernas tem varizes muito dilatadas, que doem muito e seus ouvidos as vezes incomodam (foram perfurados em consequência da rinite alérgica, pneumonias, etc).
 Minha mãe não teve vida fácil, começou a trabalhar cedo. Foi babá ainda menina, aos 12 anos, foi recepcionista de cinema, comerciária, atendente de médico e tudo sem carteira assinada. Voltou a estudar eu já era menina e lembro de sua luta, ia nos pegar na frente da Ação Fraternal de Itabuna, e do Divina Providência, as escolas que eu e meus dois irmãos estudávamos, cansada, após a aula. Quando eu entrei na Universidade, aos 17 anos, minha mãe também entrou, aos quase 40. Íamos juntas no primeiro ano. Eu entrei primeiro em Letras e Direito. Tentei fazer mas desisti e fui fazer jornalismo. Mas minha mãe não, ela fez vestibular, estudou direitinho e formou no tempo certo! Fez concursos, passou em todos. Aposentou há dois meses de um dos empregos (professora rede municipal). Ainda está super ativa no outro (professora da rede estadual).
Agora vejo minha mãe lutando para recompor esse corpo que é resultado dessas lutas, dessas vitórias. Mas só percebo os impedimentos cirúrgicos como sinais. No caso dela, talvez seja preciso ainda conviver com essas dores e desabores, neste corpo que acumula vivências.
E peço a ela para perceber também esses sinais.

No Pouso da palavra do Damário


Ontem fui ao Pouso da Palavra. Adoro aquele lugar. Já nem conto mais quantas pessoas já levei ali. Mas só levo quem eu gosto. Levei meus irmãos, minha mãe, Inda e Nel, minhas cunhadas queridas, minha ex-sogra-amiga Tanea, minha irmã espiritual Selmística, meu amado orientador Aleschi, minha doce Mary Ann, meu amigo Maurício, meu estimado Murilo, meus companheiros de trabalho Ricardo e de coração Rodrigão e sua esposa-minha-advogada Luciana... e tenho vontade de levar tanta gente ainda... na verdade quero que meus amigos venham todos ao Recôncavo e que eu os possa levar ao Pouso.
Lá tem poesia, tem foto, tem telas, tem desenhos, tem livros, tem axé, tem sorveja (cerveja sorvete de tão gelada), tem artesanato, tem bate-papo, tem música ambiente de terreiro e de raiz, tem histórias e tem Damário...
Quase todo mundo que levei conheceu Damário.
Damário Dacruz: O mentor, o poeta, o artista, o fotógrafo, o anfitrião, o contador de histórias daquele lugar. O Pouso é Damário e ele, respira Pouso.
Ontem Damário me falou que tem ficado mais em Cachoeira, está na quimioterapia, está se recompondo diante de doença que abala. Ele me falou de um tumor e que iniciou uma luta para viver ainda mais, com mais poesia e mais Pouso.
Para uma platéia pequena, eu, Maurício e Mafafe, ele leu Manoel de Barros, com todo o charme e talento dos grandes poetas.
Para ver o vídeo, acesse aqui. 
Falou sobre marketing, sobre construir imagens ou como matar uma marca, deu-me preciosos conselhos sobre a Ascom da UFRB.
E eu só queria ficar ali, bebendo daquela fonte... tirei fotos, gravei vídeo e senti o Risco de que ele falava no seu mais famoso poema.
Todo risco
(Damário Dacruz)

A possibilidade de arriscar
É que nos faz homens
Vôo perfeito
no espaço que criamos
Ninguém decide
sobre os passos que evitamos
Certeza
de que não somos pássaros
e que voamos
Tristeza
de que não vamos
por medo dos caminhos.

Agora eu tenho medo. Medo de não ter Damário quando for ao Pouso. Medo de perder Damário para a doença. Medo de ficar sem o poeta de Cachoeira.
Só me resta rePousar e orar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Criando um menino levado da breca

Arthur anda a testar a paciência de todos.

 Chora por qualquer coisa... vive a subir em lugares muitos altos e arriscados, não quer tomar banho, todo dia é uma novela para sair da cama e se arrumar para a escola, fica enrolando para fazer a tarefa, só quer saber dos games e filmes, não curte brincar com os brinquedos que realmente são da primeira infância (uma bike, os patins, um trator enorme que tenho aqui e me toma um espaço daqueles, os jogos de armar...) enfim... tive que tomar algumas atitudes complicadas.
Limitei horário de games e filmes, fiz uma lista de tarefas diárias com horários pré-estabelecidos, os castigos estão sempre condicionados aos finais de semana na capital e subtraindo algo que ele gosta muito, como brindes do Maclanche e outras diversões em shopping...

Mas agora entrou em cena um personagem auxílio na reeducação do meu filhote.
Eu, mãe de mente velha, sem ter como ficar aguardando que essa fase aberração passe logo, armei o plano Super Nanny. Há dias a irmã da babá de Arthur está ligando, é a secretária da Super Nanny (aquele personagem do SBT que põe ordem nas casas onde os pais não dão conta). A secretária da Super Nanny é uma figura que faz entrevistas com Arthur, pergunta como foi o dia, se ele se comportou, como ele avalia o comportamento, se há algo que ele precisa melhorar... enfim, uma ferramenta a mais na minha casa, para tentar conscientizar meu pequeno, de seis anos, da necessidade das regras e limites.
Eu dou o roteiro e escuto a conversa. Tem sido interessante. 

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Eu e os remédios, até que a morte nos separe?

Fui ao médico. Passou tantos exames, normal... mas um deles me deixou em alerta: para saber se já fui picada por barbeiro. Fui atrás para saber o que é doença de Chagas, de verdade, saber mais... o resultado do exame não saiu... então eu corro para ficar informada.
O médico achou estranho uma jovem de trinta e pouquinhos com pressão alta, sem histórico de pai ou mãe hipertensos. Mas eu falei de avó, de tios...
Ele disse que essa região do recôncavo é chegada aos insetos barbeiros. Eu já fui à fazendas, áreas de mata por aqui. Normal. Estamos investigando.
Enquanto isso, passou um remédio para controlar a pressão. Minha dieta já está modificada faz tempo. Não entra nada salgado, não como frituras, sou chegada ao queijo branco, leite desnatado e aos legumes e verduras, não misturo carboidratos na minha alimentação... enfim, o que agora me cabe direitinho com essa hipertensão sem motivo aparente.
Esse tal remedinho, que é diário, vai me acompanhar por quanto tempo? o médico não sabe. Nessa primeira consulta, depois de ver alguns exames que fiz no início do ano, quando do check up pedido pela ginecologista, ele só disse: vais tomar pelos próximos 4 meses, quando faremos um Mapa (mapeamento cardíaco e da pressão).
Olha, confesso, ter como companhia diária um remédio não é do meu agrado. Nem quando usava anticoncepcional eu aturava isso, e até mudei para injeções com super dosagens hormonais a cada três meses, só para não ter que lembrar da tal pílula de todo dia.
Mas enfim, cá estou eu, tentando relaxar, mudar meus hábitos com relação ao trabalho, procurando colocar as metas do dia ( e cumpri-las sem exagero), estabelecendo rotinas produtivas mais prazerosas e não admito mais fazer tudo como se fosse pegar o bonde atrasado.
Falando nisso, andei de bonde dentro de Salvador. No Plano Inclinado. E minhas terças corridas, indo para aula do Doutorado (aluna especial, diga-se de passagem), sempre vão vir recheadas de prazer, nem que seja na sobremesa do almoço!!!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Casa abandonada

Eu acordei dia desses com a terrível sensação de que ia morrer. Chorei. Minha cabeça doia muito, meu coração estava hiper acelerado e tirei a pressão estava 16 por 11.
Marquei cardiologista.

Mas como agora marcamos médico com dias e dias de antecedência, lá fui eu para um retiro espiritual antes de cuidar do corpo.
Ubaíra, Projeto Semente, entre morros, cachoeiras e muita paz, dias sem celular, TV, internet. Dias ouvindo sapo, cigarras, pavão, patos, búfalos... a natureza fala.
No alto de um morro há uma casa abandonada. Subi o morro. Sinto minhas panturrilhas doendo ainda, indícios da caminhada puxada.
Ao ficar de frente para a casa, vi o passado dela, linda, cheia de gente. Uma casa enorme, muitas janelas e portas altas. Construção de madeira, pedras e barro socado, com paredes grossas, sacadas, varandas... mas está vazia há anos, deteriorando ao sabor da chuva, sol e vento. Só há teias de arranhas, poeira e muita sensação de espíritos rondando.
Fotografei a casa, com minha querida Nikon FM10 analógica.


Sentei-me  em frente a casa, sem coragem de entrar.
O insight foi perceber meu corpo como aquela casa abandonada. Caindo, deteriorando, e me dando sinais... 
Tenho um tio que morreu aos 33, AVC. Uma avó que morreu dormindo aos 64, a mãe da minha mãe...

Na volta, dirigindo e ouvindo música, vim pensando que não bastará só ir ao médico, vou ter que mudar muita coisa. Eu preciso buscar mais qualidade de vida, no meu modo de lidar com o trabalho, com meu lazer e com meus romances.
Antes que eu morra.