domingo, 21 de setembro de 2014

'Acho que esse é meu primeiro concurso público, mamãe!'

Esta foi a frase que meu filho exclamou ao participar de uma etapa da seleção para estudar no Colégio Militar de Salvador, do Exército Brasileiro. A sensação que meu pequeno teve eu também tive, ao ficar aguardando por ele, na área interna da instituição. A quantidade de inscritos, o número de vagas e a percepção da importância daquela seleção me fizeram analisar o processo sob diversos ângulos. 
No site da instituição, o número oficial de inscritos foi 1.295 para 30 vagas. A quantidade de pais aguardando os filhos fazerem a prova de matemática, dessa primeira etapa, era enorme! Penso que não houve muitas desistências, já que quantidade de crianças que foram terminando a prova, realmente demonstraram que eram muitas, naquele processo seletivo.






Fiquei conversando com um engenheiro elétrico, formado na UFBA, cuja esposa era professora universitária como eu,  e também com uma senhora cuja filha, de 9 anos, estava tentando pela primeira vez, e de acordo com ela, a menina tentaria nos próximos dois anos caso não passasse agora. 
Antes de conversar com eles, ouvi algumas conversas por onde passei e o teor era sempre o mesmo: Pais buscando reduzir custos com educação, que acreditavam que ali  o filho estudaria em local com disciplina (aliás foi o que mais escutei) e que receberia conteúdo de verdade,  e que ao final teria condições de adentrar uma universidade de qualidade quando o ensino fundamental e médio acabassem. 
Tudo ali me remetia a uma série de pensamentos: o quanto estamos carentes de boas escolas; o quanto estamos tentando resgatar conceitos de limite e disciplina; o quanto estamos sedentos por educação de nossas crianças com preço justo. Muitos pais tem feito sacrifícios para manter filhos em escolas particulares, independente de quanto custam, o fato é que todo mundo tem fugido o quanto pode do ensino público comum.
Ouvi gente relatando que seus filhos tinham feito cursos preparatórios de meses para aquela seleção.
Meu filhote também recebeu reforço. Nos últimos três meses recebeu aulas extras de matemática.
Algumas vezes sentei com ele para fazer simulados dos testes dos anos anteriores. Provas cheias de pegadinhas, que exigiam concentração, interpretação e lógica.
Meu menino da geração 'tudo-ao-mesmo-tempo-aqui-e-agora' demonstrava pouco foco, concentração e tudo muito no sentimento 'obrigação'. Mas a escolha foi dele, já que é escoteiro há um ano e penso que o militarismo o atraiu.
Claro que, como pais em busca desse custo/benefício já atestado acima, nós o incentivamos, mas deixamos claro que nada mudaria caso não passasse, pois escola de qualidade é uma das prerrogativas para quem só tem um único filho e conseguiu um padrão mediano de qualidade de vida pelo estudo, como eu e o pai dele.
Pois bem, de tudo o que ensinamos nesse processo, muito me surpreendeu o quanto ele foi responsável e conseguiu administrar bem o tempo da prova. Finalizou tudo às 11h da manhã, com duas horas de prova (eram até três horas), mas permaneceu na sala, porque queria a prova e os rascunhos e só quem ficasse até o final teria esse direito. Às 9:45h  muitas crianças já  haviam entregue a prova e desciam para o pátio.
Trouxe a prova e consigo a possibilidade de conferirmos assim que o gabarito fosse divulgado. Eram 13h quando abrimos o site e toda a esperança dele se diluiu... não conseguiu acertar 50% da prova, para ir para a segunda etapa, a de Língua Portuguesa. Ficou triste em um primeiro momento, depois pareceu relaxar.
Sei que a vida do meu menino vai continuar a mesma. Mas fiquei com uma sensação de que ele perdeu muito por não conseguir entrar naquela instituição. Mas sei que a peneira  foi enorme. E depois de ver a prova, percebi que interpretação, lógica e foco foram o que realmente eliminaram meu filho... não a matemática.
Sei ainda que quem perde mesmo é a sociedade brasileira, ao termos tão poucas opções de ter um ensino de qualidade para todos, com respeito institucional, já que escola virou palco de problemas e violência.

   

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Um ano de nova morada

Casa. Moradia. Lar... eu precisava resgatar as minhas relações com esse espaço.
Há anos vivia dilemas com o local escolhido para morar...
Vamos voltar no tempo. Moradia sempre foi problema na minha história de vida. Aos sete anos, muito menina ainda, lembro-me de um lindo apartamento (soube depois que era financiado), todos comendo em volta da mesa, meu pai avisa a minha mãe que vendeu o apartamento e seríamos obrigados a mudar e morar de aluguel. Tinha bons amigos naquele lugar (Aldrin e Ro, Tita e suas irmãs, Maruse e Carlesson, entre tantos outros). Lembro da minha mãe engasgar. E dela ficar muito triste. Anos depois soube que meu pai jogava  cartas e de ter perdido o apartamento no jogo. Perda da casa. Primeira referência de perda do lugar agradável. Mudamos. Aluguel. Uma casa grande, porém velha, em rua que sofria com enchentes e um dia acordei com minha mãe nos tirando da cama, em pânico, porque a água estava beirando o estrado. Ela disse ao meu pai que não ia admitir mais um susto daquele. Ele comprou um terreno em bairro super distante e resultado, lá fomos nós morar em local complicado de acesso. Longe de amigos, de primos. Meu pai faliu de vez. Vendeu carro. Ficávamos duas horas em pontos de ônibus para ir e voltar da escola. Os amigos iam pouco em nossa casa. Tudo era complicado. Tinha que dormir na casa das amigas se tivesse uma festinha para ir, porque não dava para sair à noite. Isso dos nove aos dezenove anos. Uma relação de ódio com aquela moradia, onde a casa era confortável e o bairro era um inferno.
Aos 20 anos, quando conseguimos convencer minha mãe a voltar ao aluguel, fomos morar em casa pequena, mas bem localizada. Mas as paredes eram coladas uma casa na outra e dava para ouvir tudo o que os vizinhos faziam e ouviam. Odiava aquilo.
Quando fui morar em Cuiabá, fui para um bairro distante. Não conhecia a cidade. Engordei dez quilos em três meses, trancada dentro de apartamento pequeno, sem varanda, em cidade que eu não dava conta de andar só, quente e complicada.  Com seis meses o destino foi um local central, em apartamento bom, bem dividido, prédio com piscina e eu voltei a sentir prazer de morar.
Mas seguindo um noivo que pediu transferência, lá fui eu para Campo Grande, morar em casa velha novamente, tendo que conviver o tempo inteiro querendo reforma.
De volta à Bahia, Juazeiro, salário curto demais, fui morar em casa nova em bairro distante. Novamente a música da vizinhança me incomodava.
De volta à Itabuna,  para a casa que construí e sonhei envelhecer, acho que foi o período mais tranquilo de moradia, mas com a chegada de Arthur, a necessidade de uni-lo ao pai, largo eu mais uma vez meu sonho de casa e no interior, depois de penar em três alugueis, consigo comprar uma casa em Cruz das Almas. Boa, grande, porém em bairro distante (em frente ao estádio da cidade, perto da BR 101). Rua de lama na chuva, de poeira na seca e sempre, sempre, isolada.
Fugindo dessa solidão, vim para Salvador, no esquema dias no interior, finais de semana na capital, desta vez em Stella Maris, para mais uma vez, aproximar Arthur do pai. E eu, isolada. Em uma casa com vizinhança mais uma vez com música alta e que não combinava comigo.
Até que... Barra!!!!
Um ano de Barra. Prédio velho. Apartamento velho, mas amplo. Uma reforma de formiguinha. Que não terminou, mas que já tem me deixado feliz, porque consegui me livrar do que estava sujo e feio.
Um ano de andanças à pé. Um ano de mar perto, de mercado perto, de restaurantes e calçadão perto.
Um ano onde chego em casa sabendo que não tenho vizinhos que incomodam.
Mas para isso tive que deixar Arthur mais com o pai e ver meu filho apenas nos finais de semana.
Mas ele já tem 11. E eu precisava mesmo resolver essas pendências de moradia. Porque se nossa casa é nosso castelo, eu era uma rainha revoltada no meu, até então. É claro que, na época, havia uma paixão em andamento e isso me influenciou a vir morar no bairro em que ele morava. Havia um sentido em estar mais perto dele. Mas sem dúvida, estar na Barra é estar onde há uma das maiores qualidades de vida nesta cidade ingrata que é Salvador.
Hoje sinto meu território como ninho e cada vez mais reafirmo a necessidade de morar onde nos sentimos bem para compensar todo o esforço do dia a dia.
Agradeço ao universo esse desfecho. Eu resolvi uma pendência de uma vida inteira!