domingo, 26 de julho de 2015

A minha segunda separação oficial

Um sábado de copa do mundo mudou a minha vida e a de Arthur, meu filho. Ainda não sei em que dimensões. Ainda estou em terapia, analisando tudo o que o fato ocasionou, mas compartilho para quem tiver paciência para ler, analisar e me ajudar a entender sentimentos tão contraditórios...
Junho de 2014.  Arthur tinha ficado comigo durante a semana, estava de férias e me pediu para ir dormir na casa do pai. O pai, trabalhando direto, por conta da copa, não atendeu telefone. Liguei para a avó paterna, que mora perto do pai e expliquei. Perguntei se ela poderia buscar Arthur no escoteiro, ao final das atividades, e se poderia deixá-lo na casa do pai dele. Eu moro a 40 km do pai e a avó mora a 10km.  Era dia de jogo da copa e iria ter festa perto de onde moro, o que engarrafa e causa transtornos. Ela me disse que poderia e concordou sorrindo. Ela sempre foi muito solícita e isso é algo que tenho muito o que agradecer a ela.
Fui levar Arthur na casa da avó, a 30 km da minha casa. Eu, ele e minha mãe. Eles viram quando conversei com a avó paterna e expliquei a situação, agora pessoalmente.
Deixei Arthur e segui com minha mãe. E imaginei que estava tudo resolvido.

Um parêntese para explicar a minha convivência com a família paterna de Arthur.
Eu conheci Cristiano no ano 2000. Começamos a namorar em Juazeiro. Mudei de cidade e o namoro continuou, mesmo com uma distância de 750 km. Em 2001 já vivenciei o revellion mais animado que tinha vivido, junto com a família dele e dali não larguei mais. Em 2002, antes de Arthur nascer, vivenciei o Natal, grávida de meu filhote, neto que parecia muito esperado, com sua mãe, pai, irmã, cunhado, amigos, família. Eu sempre me senti acolhida. Foi por isso que meus natais fiz questão de estar próxima a partir de 2002 até 2013.
Com a chegada de Arthur, eu só achei natural ficar cada vez mais próxima. Adorava a família alegre e grande, cheia de encontros sem motivos, pelo simples prazer de conviver.
A separação, em dezembro de 2004 foi sofrida, dolorida, traumática. Mas ainda assim, em nome do afeto e do respeito, eu me mantive por perto.
Vivenciei situações que nenhuma ex-mulher teria vivenciado...

E, quando Cristiano foi para Porto Alegre, fiz minha parte: ligava web cam todos os dias, aproximando meu bebê na convivência com um pai a 3000km de distância.
Quando eu soube que ele estava retornando,  eu só pensava em como fazer pai e filho conviverem mais. Fiz concurso para morar mais perto, facilitar os encontros. Passei na UFRB e tudo parecia perfeito. Mas não era fácil.  Eu pegava ônibus todo final de semana e vinha de Cruz das Almas para Salvador com menino pequeno, para possibilitar que Arthur convivesse com o pai e a família paterna...

Não foi fácil conviver com um ex, vendo ele voltar com namorada nova e dizer para ela as mesmas frases que disse para mim. Dava uma sensação de déjà vu, acrescida da sensação 'o que é que eu estou fazendo aqui?'... mas o meu sentimento de mãe era mais forte e eu enterrei a ex-mulher. Virei amiga. E de coração aberto aceitei Lia, a nova namorada. Ela também fez a parte dela, foi discreta, tranquila, aproximou-se e conquistou meu filho. E isso me ganhou de vez.

Ninguém, absolutamente ninguém, na minha roda de amigos, entendeu como eu mantinha essa convivência. Eu ficava hospedada na casa da família do ex, tinha uma gaveta lá, onde guardava pertences, ia a todas os eventos, viajava com eles, passava natais, revellions, aniversários... eu era daquela família. Eu me sentia família.

Então imaginem quando, em um sábado, em plena copa de 2014, ao final do dia, ao encontrar o telefone celular que Arthur esqueceu aqui em casa, resolvo olhar o whats app do menino. Família Buscapé. Minha curiosidade foi grande, afinal, são tão divertidos e deveria ter mil coisas engraçadas.

Eu me deparei com o seguinte diálogo:

Avó de Arthur: Alguém pode me emprestar um carro para pegar Arthur no escoteiros? ele sai às 17:30h e emprestei meu carro para Verena.
Pai de Arthur: Mãe, o que houve com Alene? ela ficou de pegar Arthur.
Avó: Alene deixou Arthur aqui, pediu para eu pegar, mas não falou se voltava.
Cristiano, preocupado, disse que arrumaria carona para Arthur com pais de amiguinhos do escoteiro. E assim, eu fiquei de mãe irresponsável.
A tia de Arthur, irmã do pai, madrinha do menino, minha amiga há anos, Itana, não se conteve
:


O que será que ela quis dizer com Justiça? eu merecia perder a guarda do meu filho? ou seria a Justiça Divina, e merecia perder o que mesmo, o amor do meu filho?
O que será que ela quis dizer com 'não se assumem  mãe'? E de que forma viria a minha lei do retorno?
Pois é. Foi um susto. Na hora eu tive mil reações: raiva, tristeza, decepção, me senti injustiçada, traída, mal falada, injuriada, caluniada... tudo junto.
Como assim eu não avisei que não voltaria?
No grupowhats que meu filho fazia parte? como escrevem isso? como verbalizam isso? E ninguém, ninguém da família, da grande família (mais de 30 membros no grupo e pelo menos 25 convivem comigo desde sempre),  desfez aquilo, muito embora a irmã da avó estava na hora em que eu avisei que não voltaria porque meu filho queria ir dormir na casa do pai, nada foi dito.

Fiquei muito sentida. Eu já fazia terapia, mas não soube lidar com o fato.
E me afastei da família, sem uma única conversa que esclarecesse tudo.

Eu mostrei a Arthur o diálogo depois, quando fui devolver o celular. Ele leu e também entendeu como algo injusto, afinal eu avisara. Então eu o fiz entender minha posição, meu sentimento de tristeza e expliquei porque, dali em diante eu passaria a ter uma atitude de ex-mulher com o pai dele e com a família.
Com o passar dos dias, conversei com Cristiano e ele me mostrou que não achou correto tal diálogo, nem participou e assim retomamos nossa pacífica convivência, muito embora eu também o tenha achado conivente com tudo.

Já com a família, não consegui retornar ao convívio. Sempre que penso neles, eu os visualizo conversando sobre a minha pessoa e me diminuindo perante meu filho. Não consigo me imaginar nas reuniões sendo alvo de conversas pelas costas, em que minha conduta é questionada ou diminuída. E me vejo sendo traída mais vezes.

Também ficou uma mágoa que fui trabalhar nas terapias. Tive até que mudar de terapeuta, porque a minha antiga terapeuta é espírita e não entendia como eu podia guardar rancor e mágoa.
Sou humana. Estou buscando evoluir, mas não sou perfeita e na minha imperfeição, a mágoa estava imperando sobre a minha razão.
Um ano. Um ano de distanciamento. De análises. De terapia intensiva.
As vezes sonho e no meu sonho tudo está resolvido. Encontro a família, trocamos sorrisos.

Um dia, vamos voltar a conviver. Arthur nos une. Teremos formaturas, casamento dele, nascimento de filhos,... são muitas as ocasiões em que famílias separadas precisam conviver.
Eu sei e estou procurando me curar.

Sei que todo mundo erra, eu erro e errei quando busquei ajuda com a avó, afinal ela não tem que arcar com favores para a ex-mulher do seu filho. Errei também quando não consegui conversar com eles e esclarecer tudo. Errei quando não perdoei as falhas da fala, da palavra. As falhas do pensamento, do julgamento.
Errei.

Mas eu também me enxergo ainda como vítima da língua ferina e da má fé. E na minha imperfeição, ainda não encontrei como curar esta dor.

Mas temos Arthur. Ele é neto único e sobrinho único. Ele nos unirá, o tempo também ajudará. Talvez a gente nunca consiga falar abertamente sobre tudo isso. Talvez a gente nunca mais consiga conviver como antes.
Mas acredito que o nosso amor ao Arthur nos fará pessoas tranquilas em um mesmo ambiente e os sorrisos vão brotar.

O mais interessante de tudo isso foi meu filho dizer: ' é mamãe, agora você realmente se separou do meu pai'... eu fiquei pasma. Não é que o menino enxergou mais do que eu?

terça-feira, 7 de julho de 2015

A primeira vez...

Como mãe, as vezes me deparo com a primeira vez de Arthur em coisas simples, as vezes dolorosas, as vezes prazerosas, que me faz refletir este papel espetacular de ajudar a formar um adulto.
Nas duas últimas semanas, ele enfrentou a pior de suas doenças (até o momento): a catapora. De alguma forma, meu menino vivenciou dores e preocupações que nunca antes tinha vivido.
Quando, ao sabermos que ele tinha catapora, altamente contagiosa, tivemos alguns cuidados por conta de várias pessoas do convívio não terem tido, e isso levou a um certo afastamento necessário e uma separação de objetos de uso pessoal (copo, toalha, etc.), que gerou diversas emoções. O vi refletindo sobre preconceito, rejeição, isolamento. Aproveitamos para refletir sobre quem tem AIDS, quem precisa viver isolado, quem sofre ao ser rejeitado...
E quando falamos da preocupação estética em ficar marcas, caso ele coçasse, vi meu menino seguir à risca a indicação e tomar o remédio anti-alérgico com satisfação. Diga-se de passagem que ele foi vacinado e sua catapora foi leve, com poucas bolhas. E como ele não coçou, acredito que não deixará marcas.

Também vivenciou uma viagem longa, de três dias pelas estradas do Brasil.  A catapora iniciou durante a viagem. Penso que a viagem o afetou a tal ponto de não deixar a doença vir com força. Diria que, mesmo doente, curtiu muito.

Tudo o que vimos no caminho, que desconhecíamos e que suscitava dúvidas, como uma certa curiosidade geográfica, por exemplo, que ele me perguntava e eu não sabia, eu o pedia para anotar e que em breve pesquisaríamos. E fomos atrás... eu, aumentando o meu conhecimento sobre esse lindo Brasil e ele, despertando ainda mais o que admiro no ser humano, um inesgotável desejo de aprender.

E os sabores? fomos a um mercadão em São Paulo, desses que amo visitar, e ficamos olhando a diversidade de temperos, cheiros, cores, texturas. Visitamos empórios e foi uma festa para o paladar.
É muito bom poder oferecer uma primeira vez em algo bem gostoso. Fico pensando sempre que ele vai lembrar, sempre que voltar a comer, a sentir os cheiros, de que fui eu quem o apresentou a essas sensações. E conversar sobre cada sabor novo é o mais legal de tudo isso, porque eu redescubro coisas esquecidas, quando no relato do menino, me deparo com a sensibilidade da descoberta, as primeiras impressões em cada novidade. É um presente!