sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Por tudo e mais um pouco...

Estou na UFRB desde 2006. Acompanhei muito do que vejo hoje ainda no papel, nas reuniões, nas ações de poucos, nas confusões de muitos. Vi professor Paulo Gabriel Nacif, então reitor pró-tempore e Professores Adriano Pereira e Geraldo Costa, então diretores de centros, com seus celulares particulares, em diálogos intermináveis, resolvendo pepinos ou com seus carros particulares, com combustível do próprio bolso, indo aos Centros ouvir professores e estudantes, levar cadeiras (prof Adriano levava geladeira, ar condicionado)... ninguém me contou, eu vi. Era uma UFRB que nascia sem verbas, sem nenhuma estrutura e muita força de vontade. Eu, prof recém contratada, que viera de Itabuna, sem nunca ter estudado na UFBA, sem conhecer ninguém, que fiz um concurso com 11 concorrentes, com gente da USP, com doutorandos, passei sem ter nenhuma amizade, indicação, dica, nada. E por isso respeitava aquele povo todo, que nunca tinha me visto antes, que olhou meu currículo e acreditou no meu potencial para dar conta de uma assessoria de comunicação de uma Federal...
E os anos foram se passando, e vi como é difícil fazer acontecer numa instituição federal. Fui EUQUIPE por um ano, com meu gravador, com minha câmera de filmar, com minha câmera de fotografar, sem sala, sem telefone, sem nada... E quando César Velame chegou, um moço talentoso em informática e cheio de vontade de fazer, mas que um concurso o tinha colocado como técnico para montar data-show em salas de aula, respirei aliviada, a ASCOM teria uma equipe. Eu e César, por dois anos, sozinhos, aprendendo a colocar software livre em tudo, a não onerar a UFRB com montagem de sites, fazendo revistas eletrônicas, intranet, bancos de dados e publicações de professores, blogs, galerias de fotos... (enquanto o portal de outras instituições, também em Joomla - software livre, custava milhares de reais) e os equipamentos foram chegando depois das intermináveis licitações, as câmeras, depois de anos (após os intermináveis pregões), e tudo para imprimir era muita dificuldade, o vídeo levou meses, o livro dos 5 anos, exato um ano para ficar pronto, o prédio do CAHL, três anos para o IPHAN nos entregar... e nesse processo todo, o homem que vi batalhar tanto foi sendo gradativamente 'queimado' na visão dos alunos, que só conseguiram enxergar a morosidade e a falta.
Falta! falta sim: restaurantes universitários, moradia para todos, mais livros nas Bibliotecas... faltam mais câmeras, câmeras melhores (já dei aula um semestre com uma câmera, e era a minha, a minha amada NIKON FM10, a única na mão dos meus alunos frustrados). Ai angústia de prof de federal no interior. Mas meus alunos dessa turma capenga são bons fotógrafos, porque desenvolveram a sensibilidade do olhar, aprenderam composição e quando os equipamentos chegaram, ou quando puderam comprar suas câmeras, exercitaram o que aprenderam com meu blabláblá...
Tá, eu já disse que falta, faltam mais bolsas, auxílios, a galera que está aqui precisa, tem como grande esperança para mudar a vida, terminar um bom curso de graduação. Mas eu também já disse que tudo demora mesmo. Que pra ver uma USP, tem que sentir uma UFRB crescente, que dá um passo por vez. Mas um dia chegaremos lá (tenho que acreditar nisso!!!!)
E os estudantes estão agindo. Pararam tudo. Fecharam as salas. Não querem aulas e querem tudo o resto. Justo. Também quero que eles estudem tendo condições para isso. Também quero salas com um mínimo de conforto térmico para dar aulas (não temos ar condicionado num calor de 40 graus na sombra, que os ventiladores barulhentos não vencem); quero mais câmeras, quero gabinete para me reunir com meus orientandos, quero mais livros. Quero um salário mais digno.
Só acho que greve no Brasil tem sabor de férias e tenho medo. Tenho medo da morosidade da greve. Hoje vou pra Valença, ver família, amigos, Morro de São Paulo. Na semana que vem, se ainda tiver greve, vou ao Cinema, ao teatro...
Arrumem outra forma de mobilização, porque a greve que conhecemos nos leva a paralização, literalmente falando.


Fotos de Gustavo Ferreira

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo principalmente com seu último parágrafo, Alene. Só estou na UFRB há mais ou menos 1 ano e meio e já encontrei tudo pronto, inclusive o caos (a falta de coisas).
Discordo da greve porque pra mim ela soa como estagnação. É óbvio que do jeito que está não dá pra continuar e a gente tem que parar de dizer que instituição federal é isso aí mesmo pq isso gera um conformismo absurdo, só que com greve eu não sinto que as coisas se resolvam, até pq o que precisa ser resolvido leva um certo tempo, é um processo. E enquanto se resolve a gente fica em casa vendo a vida passar? E depois volta pra um semestre corrido, mal executado, mal assimilado? Não é isso que eu quero, educação ruim eu já tive a minha vida toda nas escolas públicas pelas quais passei, quero educação de qualidade, quero aulas!

Celina Pereira disse...

É Alene. É uma luta sem fim. Também nao acredito na greve como a melhor forma de tentar lutar pelas coisas justamente pela "cara de férias" que você falou. Estou em Cruz preocupada, receosa. Vejo que os colegas estão tentando lutar pra que algo mude, que estão tentando gritar os problemas e tentar obter uma posição. Mas é muito difícil... as coisas são lentas. Você viu o embrião da UFRB e eu vi um pouco também. Fico triste por às vezes não saber o que fazer ou não acreditar que o que faço dará resultado... força pra gente!

Amauri disse...

Alene... meus parabéns... é exatamente isto... eu vou fazer 40 anos e já vi situações parecidas com esta em outros lugares, tive amigos que se sentiram Guevaras Tupiniquins, mas que no final estavam mais pra Quixotescos Cervantinianos perdidos entre a real medida da intenção e consequências de seus próprios atos. É muito louvável e justo aspirações de melhorias urgentes para todos. Mas por enquanto, neste braço de ferro, já tivemos perdas muito difíceis de serem reparadas. Ficamos divididos e "PARALISADOS" forçadamente... é o efeito "mobilização" pela "paralisação"... paradoxo não? Enquanto vejo colegas serem atacados verbalmente por se mostrarem em oposição à greve, só penso em uma pergunta: E a liberdade de pensamento? E os direitos humanos já tão deplorados? É proibido ter opinião? Como demonstrava o mestre Paulo Freire, é uma lástima que o oprimido ao libertar-se do opressor, torne-se o próprio... Porque quando justificamos atitudes de desrespeito aos estudantes obrigando aos próprios a abandonar a sala de aulas junto com o professor e dando 10 minutos para sairmos da Universidade como foi feito no Cahl com a turma de artes, temos neste momento a inversão de papel dos atores...
Sou uma das primeiras pessoas da minha família a passar do 4º ano primário, terminar o colégio num supletivo noturno e ser aprovado em cinco Universidades, sendo quatro Federais, e a UFRB é minha escolha com muito orgulho, pois aqui é onde poderei fazer alguma diferença real para mim e para a sociedade que custeia meus estudos aqui.
Agora só nos falta passear por Aragão, La Mancha e Cataluña.... e quiçá um Sancho amigo nos ajude.
Amauri
Artes Visuais