Dog não era meu cachorro. Não vi Dog nascer, nem crescer. Conheci Dog com 9 anos, enorme, bravo, forte. Eu nunca tinha convivido com um Chow-chow, mas sabia de sua fama de cachorro imperial, da guarda chinesa.
Mas encarei Dog numa boa e reparei no quanto ele era inteligente, observador, e também que era 'na dele', Não era bravo à toa. E me convenci de que Dog não morderia sem motivo. Não demorou muito, eu já passeava com ele, colocava coleira, sempre com respeito e cuidado.
Dog fez 10 anos e vi que ele gostava da aproximação das pessoas. Atraia olhares na rua, gente que puxava papo, parecia um ursão, gente querendo acariciar, Mas seu dono dizia 'esse cachorro é bravo, cuidado, não toque'. Dog havia mordido o pai e a sobrinha do dono. Logo, o receio era justificado.
E enquanto isso eu via Dog envelhecendo. Fez onze, fez doze. E tudo se agravou. Inicialmente, mancando e patas inchadas. O chão do apartamento não ajudava. Depois as pernas a terem dificuldade de andar. Acompanhei nos últimos seis meses, várias vezes em que Dog teve dificuldades para de manter em pé.
Ao longo desses três anos de convivência de toque, entre eu e Dog, o medo e receio não se justificaram e foram se desfazendo. Sempre que eu chegava, ou Arthur, Dog se aproximava, e tanto eu quanto Arthur, ainda com respeito, o acariciávamos, conversávamos com ele, e dava para perceber uma energia de proximidade, como se aquele animal quisesse afago, algo que não achava muito na casa do dono.
Dono cuidava. Andava com ele, alimentava, mas não via dono fazer carinho. Vi poucas vezes, de banho tomado, Dog cheiroso, pêlo lustroso, dono passar a mão com orgulho. Dog demonstrava o fino trato que recebia. Dono tinha uma certa vaidade, tinha um belo cachorro. Mas não via o amigo que tinha.
Por isso criei para Dog a historinha do ser bravo que vende a ideia de distante e intocável, mas que envelhece só, sem toque, sem afago, sem verdadeira amizade.
E Dog, a cada ano, queria mais abraços.
Só vi Joãozinho, filho do dono, que cresceu praticamente enquanto o cachorro também crescia (ele tem um ano a mais que Dog), ser capaz de abraçá-lo sem medo.
E era visível a alegria de DOG quando João estava por perto. Mas João vinha a cada seis meses ou mais. Pouca doação da energia sinestésica ao cachorro.
Seres querem e precisam de carinho.
Há alguns meses, toda vez que eu via Dog, era sempre com um afago na cabeça, no meio da testa dele, as vezes na nuca do cachorro, ou no dorso. E claro, sempre em trabalho de doação de energia, sempre em pensamento: ' oi bonito". E percebi, ao longo do tempo, a alegria dele quando eu chegava.
Hoje, ao saber que Dog estava muito doente, fiz meu último carinho. Hoje, dia do aniversário de Joãozinho.
Nessa última foto, Dog nem movia a cabeça, respirava de forma irregular, não levantava mais, totalmente sem coordenação nas pernas, mas trazia uma doçura no olhar. Penso que Dog merecia que eu escrevesse uma história infantil sobre braveza e velhice. A fama de bravo afastou os afagos. E o velho dog pouco foi acarinhado.
Orei, energizei Dog e o pedi a ele que descansasse, pois tinha sido muito majestoso, bonito, inteligente, asseado, disciplinado, valente, curioso e amigo.
Mais tarde, à noite, soube que Dog morreu. Foi-se embora, o cachorro mais lindo que já convivi. O mais esperto e o menos afagado. Dog se chamava KOWU.
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