terça-feira, 29 de novembro de 2011

O pior cartão de visita

Ontem fui dormir com a sensação que estou em um Estado de 'mentirinhas'. A Bahia não é um Estado de Alegria. Tampouco um lugar para turistas virem para desfrutar diversão e cultura. 'Ah, que bom você chegou, bem vindo a Salvador, coração do Brasil, ah, você vai conhecer, a cidade de luz e prazer'... essa canção ficou tão distante: ontem, em Salvador, eu colecionei decepções... Recebi meu primeiro guest CS (companheiro do CouchSurfing). O perfil é sempre muito parecido: Um viajante que adora conhecer lugares novos, pessoas novas, culturas novas. O escolhido foi Juan, que tem 21 referências positivas e passou pelo Uruguai, México, Colômbia, Argentina e no Brasil percorreu Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. Como boa anfitriã, falei para ele do quanto Salvador tem lugares interessantes, falei sobre algumas comidas, mas também o quanto tivesse cuidado com seus pertences e que não fosse a lugares estranhos, com pouca gente e escuro. E lá fui eu, conforme o tempo me permitia, levá-lo à primeira impressão da cidade. Saímos de Stella pela orla, paramos na praça dedicada a Vinicius. Ele conhecia o poeta cantante e suas canções. Gostou da praia, mesmo com um carro tocando um pagode do 'piscapisca', dando uma situação da musicalidade (ou falta dela) de nossa população. E expliquei o problema da falta de iniciação musical nas escolas... lembrei de Cuba, onde a cada esquina tinha um pequeno grupo sempre com cordas, sopro e percursão. Depois segui mostrando Itapuan, um bairro cartão postal, tanto por conta das músicas quanto pela paisagem e fama boêmia. Mas vimos ruas sujas, não parece um bairro para receber turistas. Percorremos a orla e paramos para comer um acarajé na Dinha, no Rio Vermelho. Eram 16:30h e não havia acarajés prontos. Era preciso esperar no mínimo 15 a 20 minutos. Na Bahia do acarajé, na baiana mais famosa... Fomos à Casa de Yemanjá, do outro lado da rua, para eu explicar um pouco sobre as festas de largo. Vários homens bêbados reunidos na frente da casa, um cheiro de sujeira. Mas entramos. Tudo muito mal conservado. Mas falei da tradição da festa. E demos uma volta perto do Mercado do Peixe, que também não 'inspira' nem turista nem essa baiana que morou anos fora e que tem um nariz sensível. Voltamos e comemos acarajé e seguimos de carro até o Campo Grande. No caminho, tudo que via, de vida cultural, estava fechado. Era segunda-feira. Dia que baiano não recebe turista. Nada funciona neste dia... como eu tinha compromisso e anoiteceria em breve, não tive coragem de deixá-lo no Campo Grande, por mais que ele estivesse disposto a caminhar. Expliquei que, diferente de outras capitais no mundo, Salvador não era feita para caminhadas (calçadas quebradas ou ocupadas por entulho, carros, camelôs) e lembrei do quanto caminhei em Belo Horizonte, em Buenos Aires e em Havana. Mas ainda assim o deixei na ladeira da Barra e marcamos perto do Cristo, quando retornaria para pegá-lo após meu compromisso. Ele caminhou e caminhou. Eu fui e voltei. E na volta minha surpresa ruim: Juan foi assaltado. Levaram dinheiro e seu aparelho celular com seus arquivos de vídeo, foto, música, e o mais importante, seus contatos telefônicos. Ele estava triste. Foi assaltado por tres jovens, perto do Cristo. Enquanto pensava no quanto gosta do Brasil e que pretende procurar emprego temporário e ficar um pouco mais. Talvez no Rio de Janeiro... Contei a ele que também tivesse cuidados extras no Rio. Pedi desculpas pelo ocorrido. Senti vergonha, tristeza, e uma sensação de impotência amarga. A Bahia é um Estado de medo. E de decepções. Salvador é linda. Eu sempre fiz propaganda positiva da cidade, principalmente da paisagem e do seu povo alegre, bem resolvido. Principalmente quando morava em Cuiabá e Campo Grande e já influenciei muitos a virem pra cá. Não nasci em Salvador, mas a defendo como se fosse minha de origem, porque é uma cidade cheia de luz e história, com patrimônio imaterial imenso, além de arquitetônico e paisagístico. Comprei casa aqui, estou criando meu filho aqui. Quando usei o termo 'pior cartão de visitas', quis dizer que cidade mal cuidada, mal administrada, que não está apta a receber o turista, onde ocorre um assalto (o primeiro da vida de Juan), é uma triste maneira de deixar lembrança. O pior cartão de visita no sentido de Salvador ter se apresentado a ele de maneira complicada, onde em todos os lugares onde o levei estavam sujos, com odores complicados, fechados, com atendimento parcial ou sem atendimento e para completar, um assalto em plena Barra. Não vou justificar meu desconhecimento sobre o ponto do Cristo, na Barra. Nasci no interior, mas venho a Salvador desde menina. E moro aqui há um ano. Mas pensei que por ser na Barra, ter iluminação diferenciada, e ser um ponto turístico, em pleno final de novembro, fosse policiado. Sabe? eu fico triste por aceitarmos com passividade essa desconstrução do que é Salvador, como cidade turística, para Juan. Não sei se ele voltará um dia. A impressão foi a pior possível. Acho lindo a defesa que os soteropolitanos fazem da cidade, mas não podemos fechar os olhos às dificuldades que ela apresenta. Cidade não é só paisagem. Não é só seu povo. É a possibilidade de, na polis, ser democrática em acesso, ser acolhedora e solidária, ser organizada e digna. Eu quero uma Salvador melhor. Para mim, para meus amigos, para meus convidados, para todos. PS: essas fotos foram tiradas dois dias depois do post, fomos aos mesmos lugares. Afinal as primeiras fotos foram perdidas no assalto, pois estavam no celular.
ah, e dias depois olha o que Juan mandou pra comunidade do CS em Salvador: Juan Sidarta posted this message to: Salvador da Bahia Hola People... soy Juan, la persona asaltada el viajero q ha decidido despues de mi viaje por toda America latina escoger Brasil como pais de Residencia¡¡ Disculpad pero me comuniacare en español mi lengua q creo es facil de entender, solo quiero decir q lo q me paso en Bahia quiza me pudo haber pasado en cualquier otra ciudad de Brasil, o en otro lugar de Salvador y no el Cristo, o en otra parte de america latina... en cada pais q he visitado la gente del lugar me advertia de los problemas de seguridad de la ciudad, por tanto esto no es problema unico de Salvador, sino no tendria tantos visitantes como tiene... Es un problema de America Latina en general... no tengo los datos estadisticos delictivos de cada pais o ciudad y probablemente podrian ser adulterados... esto no quita q las personas perdamos la capacidad critica de un mundo mejor... cualquier persona q haya vivido en otras partes del mundo, como europa por ej sabe q lo q aqui es normal alli no lo es¡¡ Quiero decir q no tengo ningun rencor a Bahia, menos despues de conocer a personas como Alene¡¡ o despues de haber visitado la reunion de Couch y poder coincidir con chicos como Vinicius y Marilia u otros más¡¡ personalmente yo ya hice las paces con Salvador... Ha sido un lugar donde me encontre bellas personas... y eso es con lo q me quedo, lo demas como dije es un problema de america latina (quiza seamos todos responsables, como seres humanos)en general, pero no por ello no dejen de ser criticos con su ciudad¡¡ estas cosas no deben de pasar¡¡ Brasil esta emergiendo economicamente, en breve será un pais en boca de todo el mundo, tienen todo el potencial para ser un gran pais¡¡ pero no dejen de ser criticos con lo q consideren injusto¡¡ Un abrazo, y gracias especialmente a Alene y Vinicius¡ beso Marilia¡

6 comentários:

Pedro Henrique de Abreu disse...

É. É isso mesmo. Salvador é uma grande emboscada, um grande engodo. E ai de quem insista no contrário.

wille disse...

Salvador é uma péssima cidade para turistas. Não dá pra caminhar, não tem transporte público bom, os poucos atrativos ficam distantes uns dos outros e estão mal cuidados.

Fabio Fernandes disse...

Só estive uma vez em Salvador, para participar de um minicurso de Jornalismo Online. O curso, ministrado na UFBA, foi excelente. Já a cidade... Adorei a comida (ainda que os restaurantes mais badalados fossem até mais caros do que no Rio ou em SP, o que me surpreendeu), mas a segurança realmente era precária. Não fui assaltado, mas passei um sufoco no Pelourinho à noite e por muito pouco não me levaram o pouco dinheiro que eu tinha - e o que me espantou também nessa noite foi que aparentemente um dos taxistas ali na região fazia parte de um esquema para roubar turistas.

Nada que nunca tivesse existido no Rio, veja bem - mas a segurança em Salvador me pareceu inexistente. O que me deixou triste, porque adoro a Bahia e quero voltar.

Anônimo disse...

O Brasil inteiro está assim, se vc esta caminhando a pé pode perder bolsa, celular, carteira e o que mais tiver...

São nossos adolescentes (viciados no crack ou não)que se sentem impunes e a vontade pra praticar delitos e a população que se sente impotente!

Prof. Rafael disse...

Estive em Salvador pela primeira vez em outubro do ano passado. Gostei muito da cidade, de Itaparica, de tudo que vi, mas ficou claro que Salvador só presta você com grana pra pelo menos alugar um carro. Sou de Recife, tambem temos nossos problemas de insegurança, portanto, não costumo dar mole pra ladrão, minha cara feia não é fome!
Fim de ano estarei ai pra minha segunda visita, altamente preparado, com bom humor e espirito aventureiro. "Pega ladrão!"

Te amo Salvador.

Barbaro Visigodo disse...

Prezado Anônimo concordo plenamente com você, no que os outros comentaram concordo em partes, e discordo da forma com que foi abordado, pelo autor da postagem principal, Salvador esta abandonada e mal cuidada, no entanto a culpa é dos próprios moradores que não tem educação para não jogar lixo nas ruas e não depredar a cidade.
No entanto quanto a questão do assalto, realmente é lamentável, mas quero que me aponte uma única cidade no mundo onde turistas não são assaltados ou ate pior, as cidades que você comentou que andou livremente pelas ruas, são as mesmas cidade onde outras pessoas foram assaltadas. Seu que você ficou triste pois seu amigo foi assaltado visitando um lugar que você indicou e isso te faz se sentir culpado, no entanto você tem que levar em conta que ele poderia ser assaltado em qualquer outro lugar.
Precisamos muito de melhoras na segurança de Salvador, assim como na sua preservação. Cabe a população a maior parte desta mudança.
Então não deixe um fato que infelizmente aconteceu aqui, mas que poderia acontecer em qualquer outra cidade do mundo te encher de medo, só tenha cautela.