quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Um horizonte belo

Cheguei de BH com uma sensação maravilhosa da diferença que a educação efetivamente causa. Brasileira, grande, no sudeste, com formação mista (tem muita gente de muitos lugares), a cidade de Belo Horizonte é totalmente diferente de São Paulo, Rio... e, meu Deus, muito, muito diferente de Salvador, no nordeste. Não que a localização geográfica tenha tanta importância assim, mas ver uma capital, que não esteja ao sul, com um aspecto ainda de cidade do interior, mas com tudo de bom que uma grande cidade pode proporcionar, é maravilhoso. Assim como fiz em Buenos Aires, Lima e em Havana, caminhei muito por BH. Subi e desci ladeiras por dois dias. Fui às praças, lindas, bem cuidadas e seguras. Fui à duas bibliotecas, centros de cultura, fui ao comércio. Caminhei. Também peguei bus (9211, 9214, 4665). Almocei no Mercado Central (onde vi 'deumtudo' e provei docinhos e comidas mineiras, fiquei hospedada em Hostel (Laemcasa) em Santa Tereza. Foi uma viagem barata, pra uma reunião de trabalho sem apoio institucional. Mas também foi uma viagem flanêur... para curtir a cidade, até porque a reunião foi apenas na noite do segundo dia. Não vi engarrafamentos, apesar de andar numa segunda-feira das 8h ao meio dia pelo centro. Usei banheiro público em dois shoppings, no Mercado Central (sou mijona mesmo, porque bebo muita água para evitar pressão alta) e em todos os banheiros paguei R$0,50 e encontrei os espaços limpos (quem paga, cuida mais). Não vi sacolas plásticas - todo mundo tem uma sacolinha de feira, comprei a minha.
E fiquei encantada com tudo. Achei a cidade limpa e bem sinalizada. Falando nisso, olha o prédio da Secretaria de Educação... imponente!!! não é á toa que Minas sempre foi o estado mais abençoado com universidades e bons índices da educação pública. Foi uma viagem breve, mas espero voltar lá mais vezes, e aproveitar mais desse jeitin mineirin de receber.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Para Lulu

Minha vida está congelada, Lulu, desde a última vez que te vi. Cheguei em casa depois desse show lindo, mas o meu coração ainda está na energia cantante de quem acaba de te ver num palco... Madrugada... mas eu ainda estou em uma sexta que parece não querer acabar. Só me interessa voltar ao ponto de onde eu parti. Lembro do primeiro show (Expoita - Itabuna, menina ainda, nos tempos em que a região do Cacau recebia os artistas top do rock nacional). E lá estavam eu, Binho, Tiane, Murilo e Aldrin. Aldrin Góes, apaixonado por estar ali, gritava feliz, era de uma energia radiante. Era o seu maior fã. Naquela época era só fechar os olhos, e deixar o corpo ir, no ritmo... Tudo era muito lúdico. Tudo bem, tudo zen, meu bem. E hoje foi como se eu voltasse no tempo e visse aquela menina, lá, naquela platéia. Uma outra época... Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará. Mas hoje, por um momento fiz a viagem de volta. Eu vi todos os sonhos destes últimos anos. Lembrei de quando te vi em Cuiabá, e de uma vez em que você deu entrevista na Rádio CBN Pantanal, onde eu trabalhava, em Campo Grande... e fui relembrando Lulu, do quanto suas músicas sempre revelaram um tanto de mim. Sempre me senti plugada na vida, curando a ferida. Porque sabia que nem sempre é "so easy" se viver... as frases iam marcando momentos, fases que não foram fáceis, mas que ajudaram a me tornar o que sou hoje. 
E lá estava eu, insistindo na questão do desejo, pra não deixar se extinguir. 
 As suas letras tão utópicas, falando de cura, de uma nova humanidade, mais bonita e sincera. 
Eu acho tão bonito isso de ser abstrato baby. A beleza é mesmo tão fugaz. Mas Lulu, vi que a vida passou. 
Estou com o dobro da idade que tinha no primeiro show e falta eu acordar. 
Ser gente grande prá poder chorar... 
Sabe que eu não tenho um único CD ou DVD seu? 
E sempre dancei todo o tempo, em todos os shows que fui... 
E nesse não foi diferente, cantei todas as canções e só pensava: Vamos dançar, luzir a madrugada. Inspiração pra tudo que eu viver. 
 Mas você precisa entender meu jeito de te querer, pode até não ser como você imaginou. 
Quando você cantou que ainda era o último romântico, achei que parecia um sonho de criança sob o sol da manhã. E fiquei pensando, será que eu não vejo, não ouço nada? Só o passado rondando minha porta feito alma penada... 
Foram duas horas de viagem no tempo, Lulu. Depois acabou. 
E o final parecia me trazer de uma outra dimensão. O retorno foi cruel. Não vou dizer que foi ruim. Também não foi tão bom assim.
Mas se minha vida ninguém manda não e eu vou além desse sonho... Considerando justa toda a forma de amor, aqui sou eu sozinha, do outro lado não sei não... 
 E tomei consciência que hoje meu tempo voa, escorre pelas mãos e mesmo sem se sentir que não há tempo que volte, Lulu, eu vou viver tudo o que há pra viver. Eu vou me permitir...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dias perdidos

Ando com sede de viver. E dias rotineiros me cansam agora. Estou em casa. Em horário integral de mãe (o que é raro, já que viajo tanto). Mããããeeee... a palavrinha doce se estende na boca desse guri de 8... (toda hora sou requisitada). Consigo ver uma tela onde sou a protagonista 'meio sem saco para nada', depois de um dia inteiro correndo... atrás do quê? 
Fiz café da manhã. Levei menino na escola. Fui comprar material de construção (loja abrindo). Depois fui providenciar a troca do botijão que acabou (coisa de mulher dona-de-casa). 
Fui ao médico (duas horas de espera, dez minutos de atendimento). Fui ao mercado. 
Improvisei o almoço. Respondi email. 
Fui de novo comprar material de construção. Fui encomendar mármore para alpendre da varanda (está no fim essa saga de reforma). 
Aproveitei para comprar uma periquita para meu periKito (acho que foi o que salvou o meu dia, a cena dos dois juntinhos na nova gaiolinha).
E fui de novo, novamente, comprar material de construção (loja fechando).
Moço da loja me olhou como quem olha uma mulher burra que nunca lembra tudo, mas é o meu pedreiro, que acha que eu tenho todo o tempo do mundo pra ir buscar coisas e não me diz de uma vez só o que falta (estou meio abusada). 
Molhei as plantas e adubei algumas que estavam meio feinhas, malcuidadas com esta reforma. Providenciei janta para o guri. Lavei a camisa da escola. Respondi email. 
 A jornada está no final e vou tomar um banho pra ver se ganho a noite, porque o dia pareceu meio perdido.

sábado, 17 de setembro de 2011

Mais perto de Herbert...

Lembro que quando ouvi a notícia de que Herbert Viana tinha sofrido um acidente de avião, em que sua esposa havia morrido e ele estava em coma, eu fiquei muito triste, me perguntando o que seriam dos filhos... depois ao saber que ele estava se recuperando, eu me questionava como teria ficado ao saber que a mulher com quem dividia a vida havia morrido... E depois, quando escutava este Herbert recuperado cantando, sentia um homem tão mais sofrido naquela voz que já era a mesma de antes, com tantas entonações diferentes (talvez fruto de sequelas, de vivências). Hoje, ao assistir 'Herbert de Perto', Doc de Pedro Bronz e Roberto Belini, muitas dessas perguntas da época foram respondidas. Como sou 'molemole', chorei (normal, choro mesmo com grandes emoções), e ver imagens de antes e o Herbert vendo tudo isso e uma dor naquele olhar que doeu em mim, lembrei do 'punctum' do Barthes... fui atingida pelas imagens do doc. Fui ferida pela história de amor desse moço, a história de vida, e de morte... porque esse moço quase morreu, quase tomou o caminho da Lucy e teve uma experiência fora do corpo que só reitera minha certeza de pós vida. Senti Herbert tão perto. E uma vontade de abraçar, ainda que pela força mental, esse astro da música pop-rock de uma geração inteira...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Passe (de verdade) pela vida

Ontem, na terapia, trabalhamos a energia da sensualidade. Todo o grupo. Estávamos em doze. Tínhamos que, depois de trabalharmos nossa sensualidade para conosco (há tres sessões que fazíamos isso, com luz apagada, em pequenos exercícios de toque, cheiro, danças...), desta vez, com luzes acesas e deixando que o outro nos visse, nos mostrarmos sensuais e ainda, num segundo momento, dançar para o outro, olhar o outro com sensualidade, tocar o outro... E foi muito interessante. Vimos alguns, sempre tão secos, tão duros, terem um meio sorriso provocante e um olhar convidativo que nos levava a sorrir com vontade, por dentro. Era como se eles estivessem se descobrindo, como se estivessem se percebendo, percebessem o seu próprio poder sensual despertar. Olhos mais brilhantes, pessoas que demonstravam, com movimentos mais suaves, que tinham algo para mostrar... E ao final, fizemos um inventário de emoções do que o estado de ser 'sensual' é capaz, de como se porta, de como se sente: O ser sensual está sempre presente no que faz, é observador, e tenta capturar o olhar do outro, numa eterna conquista. 
Se move de maneira mais lenta (não lerda, nem largada), mas tem uma consciência corporal e fala mais tranquila, sem arrastar, apenas elabora melhor a sua fala, sem aquele tom desenfreado dos apressados, ou para dentro, dos tímidos. O ser sensual fala para fora, mas sem voz alterada, por isso sua voz sai suave, harmônica. 
É como se comandasse cada movimento, ao mesmo tempo em que faz tudo de forma muito intensa, concentrada, mas natural, sem pose... e isso torna o ser sensual um ser poderoso. 
Como a sensualidade não é uma emoção reta, nem dura (ela é maleável, ondulante), o ser sensual anda, olha, toca, de forma que a sua energia pareça ondulante. É um ser vibrante, sinestésico, porque para ser sensual, tem necessidade de se tocar, de tocar o outro. É um ser consciente do seu poder, um poder de estar inteiro no que faz. 
Então manipula uma energia que o faz ser notado. Nunca passa despercebido nos lugares. E não é vulgar, porque a sensualidade não é sexualidade explícita. Ela é a energia de quem se curte, se namora, que está satisfeito consigo mesmo, se preenche sem necessariamente precisar do outro, mas ao mesmo tempo, deixa o outro participar, na medida que interage, neste olhar e gesto de captura. 
 E depois desse inventário maravilhoso, que, de alguma forma todos nós nos encontrávamos, nosso terapeuta falou sobre essa necessidade de retomar o estado de ser sensual nos dias atuais. 
 Sim, precisamos deixar a pressa um pouco de lado, deixar de ser automático, de tirar um tempo pra nós mesmos, e nos prepararmos para nós mesmos, nos namorarmos, de nos arrumarmos para nós, de nos tocarmos mais, de sentirmos a refeição, o banho, cada coisa que fazemos com mais intensidade. 
De não deixarmos a vida passar, como se tudo fosse apenas viver um dia após o outro, mas capturar o tempo pra nós, sentindo-o, em cada coisa que fazemos e com isso criar um outro tempo, que não se mensura em minutos, mas em 'estados de sentimento', se sentindo fazendo, se percebendo, e com isso, passando de verdade, pelas coisas, pelas pessoas, pela vida...

domingo, 11 de setembro de 2011

Um 11 de setembro que mudou minha vida...

Era uma manhã comum de trabalho na TV Santa Cruz em Itabuna. Tão comum que nem lembro o que tinha feito de reportagens. Estava no bus do link que fazia as transmissões ao vivo, era por volta das 11h, e  eu me preparava para entrar ao vivo com uma entrevista no BA meio dia. Então o moço que operava a mesa de corte falou algo de forma assustada e todos olhamos para a telinha do bus de onde vinham imagens direto da Globo Rio. 
E era uma cena de filme: uma torre de prédio pegando fogo e o narrador, acho que era o Carlos Nascimento, falando do 'acidente' com um avião em NY e logo depois, outro avião se chocando com a outra torre, acho. 
E outro que atingiu o Pentágono...eu, chocada, só pensava: Deus do céu... será a terceira Grande Guerra? 
O Link ao Vivo foi cancelado. O jornal local e estadual também. As 12h, corremos para a TV. 
Eu largava às 13h. Deu minha hora, corri para casa para ver mais TV e abraçar minha mãe. E fiquei pensando no perigo que o mundo corria. 
Pensando na falsa sensação de segurança que eu tinha. 
Pensando que a vida estava por um fio. 
 E querendo prolongar isso... foi ali, naquele dia, que o desejo de ter um filho ficou forte. 
Uma incoerência... terrorismo, mortes, tragédias... e eu pensando em ter um filho. Lembro que liguei para o pai de meu filho, que na época era meu namorado há um ano e meio, e disse do medo que senti e do desejo de ter um filho, no qual ele prontamente concordou. 
E dali em diante passei a planejar a melhor época. Comecei a fazer exames. 
E no dia 02 de Julho de 2002, dia do anoversário do moço (Cris), engravidei. E mudei a minha vida. Eu dei um novo sentido para ela.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um dia de milagre

Todo dia, há cerca de 04 meses, eu acordo e dou bom dia a um serzinho amarelo, verde e azul que me encantou quando eu passava em frente a uma loja de produtos para animais em Cruz das Almas. Era um entre 15 ou mais periquitos australianos que disputavam o espaço mínimo de uma gaiola. E ele era o mais quieto, parecia desambientado. Não resisti e trouxe para morar comigo, eu que sempre fui contra a criar pássaros em gaiolas. Ele se chama Kito. Kitokito.
Logo que ele chegou, o Aleschi (Alexandre Schiavetti) veio dormir aqui na casa nova (velha) e eu disse que ele ia dormir ao lado de Kitokito. E pela manhã ele acordou todo alegre me contando que Kitokito cantou e que viu também em minha casa a Recareca (uma perereca) que estava morando no banheiro do quarto que ele dormiu. Como somos ambientalistas (o Aleschi foi meu orientador de mestrado), e sabemos que pererecas só gostam de ambientes limpos, aprovamos a casa!!! Mas então... nesses 04 meses fui tirando Kitokito da gaiola e deixando que ele ficasse horas fora, no meu ombro, na minha cabeça, caminhando pelo quarto, acompanhando minhas cantorias no banho, ouvindo música clássica enquanto estudo, curtindo a rede, e eu e Arthur, curtindo Kito.
Como deixo a gaiola com a porta aberta enquanto ficamos com ele dentro de casa, hoje dei a maior bobeira. Levei Kitokito para o banho de sol, com a porta da gaiola aberta. Coloquei na varanda sem reparar nesse detalhe e fui trocar a comida, água e limpar a parte de baixo da gaiola; Só ouvi o barulho do voo... e senti meu coração ficar pequeno. Foi como se me achatasse. A constatação que meu lindo serzinho tinha voado pela varanda para a praça cheia de árvores que fica em frente à minha casa. E pensei: 'Jesus, proteja Kitokito. Ele é tão bobinho, um gato pode pegá-lo'.
Comecei a chorar. Arthur tinha dormido na casa da avó, que fica a 500 metros. E eu liguei pra lá, era cedo. E ele atendeu. E eu só disse... 'Kito voou para a praça', já chorando. E ele chorando de lá disse: mamãe, ele vai se perder... e depois desse drama todo eu o convenci a ir para a escola, porque ele queria vir ficar comigo. E fiquei na varanda, em oração. Pedindo um milagre. E dez minutos depois veio andando uma senhora carregando uma coleira que puxava um cachorrinho e na mão, um maço de penas amarelas, verdes e azuis. E eu gritei lá de cima: é meu, é kito! e desci para resgatar meu serzinho. Ela contou que ele estava no chão, e que ia ser devorado pelos gatos que tem aos montes por aqui. Ah, milagres existem. Kitokito de volta é um deles.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Por tudo e mais um pouco...

Estou na UFRB desde 2006. Acompanhei muito do que vejo hoje ainda no papel, nas reuniões, nas ações de poucos, nas confusões de muitos. Vi professor Paulo Gabriel Nacif, então reitor pró-tempore e Professores Adriano Pereira e Geraldo Costa, então diretores de centros, com seus celulares particulares, em diálogos intermináveis, resolvendo pepinos ou com seus carros particulares, com combustível do próprio bolso, indo aos Centros ouvir professores e estudantes, levar cadeiras (prof Adriano levava geladeira, ar condicionado)... ninguém me contou, eu vi. Era uma UFRB que nascia sem verbas, sem nenhuma estrutura e muita força de vontade. Eu, prof recém contratada, que viera de Itabuna, sem nunca ter estudado na UFBA, sem conhecer ninguém, que fiz um concurso com 11 concorrentes, com gente da USP, com doutorandos, passei sem ter nenhuma amizade, indicação, dica, nada. E por isso respeitava aquele povo todo, que nunca tinha me visto antes, que olhou meu currículo e acreditou no meu potencial para dar conta de uma assessoria de comunicação de uma Federal...
E os anos foram se passando, e vi como é difícil fazer acontecer numa instituição federal. Fui EUQUIPE por um ano, com meu gravador, com minha câmera de filmar, com minha câmera de fotografar, sem sala, sem telefone, sem nada... E quando César Velame chegou, um moço talentoso em informática e cheio de vontade de fazer, mas que um concurso o tinha colocado como técnico para montar data-show em salas de aula, respirei aliviada, a ASCOM teria uma equipe. Eu e César, por dois anos, sozinhos, aprendendo a colocar software livre em tudo, a não onerar a UFRB com montagem de sites, fazendo revistas eletrônicas, intranet, bancos de dados e publicações de professores, blogs, galerias de fotos... (enquanto o portal de outras instituições, também em Joomla - software livre, custava milhares de reais) e os equipamentos foram chegando depois das intermináveis licitações, as câmeras, depois de anos (após os intermináveis pregões), e tudo para imprimir era muita dificuldade, o vídeo levou meses, o livro dos 5 anos, exato um ano para ficar pronto, o prédio do CAHL, três anos para o IPHAN nos entregar... e nesse processo todo, o homem que vi batalhar tanto foi sendo gradativamente 'queimado' na visão dos alunos, que só conseguiram enxergar a morosidade e a falta.
Falta! falta sim: restaurantes universitários, moradia para todos, mais livros nas Bibliotecas... faltam mais câmeras, câmeras melhores (já dei aula um semestre com uma câmera, e era a minha, a minha amada NIKON FM10, a única na mão dos meus alunos frustrados). Ai angústia de prof de federal no interior. Mas meus alunos dessa turma capenga são bons fotógrafos, porque desenvolveram a sensibilidade do olhar, aprenderam composição e quando os equipamentos chegaram, ou quando puderam comprar suas câmeras, exercitaram o que aprenderam com meu blabláblá...
Tá, eu já disse que falta, faltam mais bolsas, auxílios, a galera que está aqui precisa, tem como grande esperança para mudar a vida, terminar um bom curso de graduação. Mas eu também já disse que tudo demora mesmo. Que pra ver uma USP, tem que sentir uma UFRB crescente, que dá um passo por vez. Mas um dia chegaremos lá (tenho que acreditar nisso!!!!)
E os estudantes estão agindo. Pararam tudo. Fecharam as salas. Não querem aulas e querem tudo o resto. Justo. Também quero que eles estudem tendo condições para isso. Também quero salas com um mínimo de conforto térmico para dar aulas (não temos ar condicionado num calor de 40 graus na sombra, que os ventiladores barulhentos não vencem); quero mais câmeras, quero gabinete para me reunir com meus orientandos, quero mais livros. Quero um salário mais digno.
Só acho que greve no Brasil tem sabor de férias e tenho medo. Tenho medo da morosidade da greve. Hoje vou pra Valença, ver família, amigos, Morro de São Paulo. Na semana que vem, se ainda tiver greve, vou ao Cinema, ao teatro...
Arrumem outra forma de mobilização, porque a greve que conhecemos nos leva a paralização, literalmente falando.


Fotos de Gustavo Ferreira