quinta-feira, 30 de junho de 2016

Novela da vida real

Fui ao INSS para pegar uma certidão de tempo de serviço para averbar em minha instituição, já que comecei a trabalhar ainda muito jovem e depois de dez anos em órgão público, é hora de somar e saber quanto de tempo eu já tenho de contribuição à previdência pública.
Agendei há exatos cinco meses e lá fui eu, 45 minutos antes da hora marcada (capricórnio me governa, como perco tempo estando sempre adiantada ou no horário!). Ao chegar, como sempre costumo fazer, observo o ambiente com discrição, mas imaginando as histórias de vida de alguns rostos expressivos ou quando algum fato me chama a atenção para um determinado personagem.
Eu tomei consciência do que significa previdência, quando me deparei com tanto idoso, gente com aspecto de acidentado, com muletas, curativos, andando com dificuldade e para diminuir um pouco o peso da energia reinante, havia mulheres grávidas e outras com crianças de colo.
Sim, todo mundo em busca de seus benefícios.
Duas mães me chamaram a atenção. A mim e a todos. Por isso relato aqui os dois episódios.
A primeira mãe chega com dois meninos. Um maior, com uns sete anos e o outro, com menos de quatro.   O maior ficou na dele, arrastando um carrinho no chão. O menor,  já chegou choramingando, grudado na roupa da mãe, que andava com certa dificuldade, e dizia: não quero entrar, vamos para casa. Ela sentou-se em frente à recepcionista da triagem e enquanto ela explicava uma determinada situação, a voz dele passou a ser mais alta e o choro mais intenso, e os gritos imperativos do menino para ir embora dali. Ela calminha, nem dava bola, ou acariciava ele e dizia para ter calma. Vi todo mundo começar a ficar incomodado. O menino já berrava, puxava a roupa da mãe, já dava para ver a barriga. A sensação era que ele rasgaria a roupa da mãe. E ela educadinha. Nos rostos das pessoas eu ia lendo uma certa indignação, como se faltasse punho da mãe. Havia desaprovação geral com relação ao comportamento do menino. Até que a atendente pediu diretamente ao menino que se comportasse. Como se a mãe nem estivesse ali. Ele nem deu bola.
Já rolava mais de cinco minutos de berros, quando essa mãe se virou devagar, ajeitou a bolsa e deu uns tapas no guri e disse: 'olha aqui, rapazinho, você não se comanda. Eu estou operada, me respeite, daqui a pouco nós vamos, cale a boca e se comporte. Tá pensando que eu não bato só porque tá na rua? quem quiser que fale mal de mim. Menino mal educado!'. Vi que todo mundo mudou a expressão. Havia um olhar de aprovação em todos aqueles velhinhos ali. A atendente disse 'calma mãe, é só uma criança'.
Confesso que eu senti um alívio por esta mãe. Ela agiu na hora certa e muito embora não seja permitida palmada, discursos de violência à parte, eu achei que era preciso estabelecer limite e ela o fez, mostrou que não criava de qualquer jeito. E eu fiquei pensando na hipocrisia de uma sociedade que não sabe o limite entre violência e educação. Não queremos palmadas. Mas como aquela mãe poderia ou deveria se comportar?
A segunda mãe entrou silenciosa,  trazia um bebê no colo, acordado mas quietinho, sentou-se afastada. Olhei para ela e para seu bebê. Era um bebê com a cabeça pequena, de formato diferente. Uma vítima da microcefalia. Vi que muitas pessoas a olhavam.
Fiquei observando os olhares. Eles refletiam pena e curiosidade. Vi que pessoas acompanhadas comentavam entre si. Fiquei pensando no quanto essa mãe deve enfrentar isso no dia a dia. E em que tipo de energia isso se reflete para ela e seu bebê.
Ela era prioridade e logo foi para outro setor. Quando fui chamada também para este novo setor, vi que ela dava de mamar ao bebê e após algum tempo, ela o beijava, com carinho, brincava com ele, sem se importar com nada. As pessoas olhavam e havia olhares de admiração, de aprovação e de carinho. Olhares mais tranquilos. Novas energias no ambiente. E eu vi ali o sentido da maternidade, da proteção e do amor mais profundo que uma pessoa é contemplada quando se é mãe de alguém.
Conto os dois fatos, enquanto dramas reais de duas mães e do social em volta. Desta que tem a tarefa mais árdua, de educar, criar a sociedade do futuro. Daquela que constrói a cada momento o destino da humanidade. A sociedade não valoriza suas mães. Elas são vítimas de julgamentos de todo tipo, desta novela que é a vida real.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Evolução e a ética hacker no mundo atual, um breve apanhado

Esta semana reli o livro do Pekka Himanen, sobre a ética hacker. Gosto muito dessa obra e vale registrar as impressões. O mundo assiste ao crescente da produção de programas de computadores (os softwares) a partir de construções coletivas, onde diversos tecnólogos entusiastas (programadores), denominados Hackers, doam tempo e conhecimento, em prol da evolução desses softwares. Eles estão em todos os lugares do planeta onde há redes de computadores, falam línguas diversas, tem culturas diferentes e já atuam há décadas, sempre de maneira coletiva. Esses programadores criaram o movimento do software livre e um sistema operacional que disputa com as mega-gigantes Microsoft e Apple, seus usuários. Estou falando do Linux, e da ação conjunta de pessoas unidas por uma causa, que trabalham em horários alternativos para que sistemas operacionais e programas sejam cada vez melhores e distribuídos para mais pessoas. 
A análise dos métodos de trabalho, da cultura e do comportamento desses grupos Hackers tem gerado muitos estudos. Li VLEF, do Tiago Melo, há alguns meses e ele fala muito desse universo. Também é sobre inteligência coletiva e algumas peculiaridades de comportamento e valores dos hackers, que Pekka Himanen trata em sua obra. 

O livro tem três partes, assim divididas: A ética do trabalho; a ética do dinheiro e a ética da rede. Os temas são desenvolvidos em sete capítulos, que traçam um paralelo entre a ética protestante e o espírito do capitalismo (com base na obra de Max Weber, escrita em 1904) e a ética dos programadores com este espírito cooperativo de rede, na era da informação. O livro tem prefácio de Linus Torvalds e posfácio de Manuel Castels. A versão em português tem uma capa com ilustração estranha, já que o livro não trata dos crackers ( os programadores que invadem sistemas) e mais, utiliza um segundo subtítulo ‘a diferença entre o bom e o mau hacker’, que em momento algum é tema da obra. A capa, em português, parece um atrativo para vender o livro, em contraposição à divulgação da grande mídia que teima em associar a palavra hacker aos processos ilícitos que acontecem na internet.

O prólogo de Linus Torvalds, criador do Linux, é uma explicação sobre as forças que contribuíram para o êxito do hackerismo. Com a ‘Lei de Linus’, Torvalds estabelece as três categorias de motivações que nos levam a um processo evolutivo na vida. Pela ordem, o autor nos apresenta a motivação da sobrevivência, básica a qualquer ser humano. Em seguida, a nossa vida social, que nos leva a querer ser aceitos, viver em sociedade e até, em um extremo dessa motivação, a morrer pela pátria. Por fim, a terceira motivação seria o entretenimento, definido como exercício mental extremamente interessante e capaz de plantar desafios. Para ilustrar seus argumentos, ele exemplifica o extremo da terceira motivação: alguém que pula de pára-quedas e põe em risco a própria vida (em contraposição à motivação da sobrevivência), está buscando um desafio para não morrer de tédio.

Dinheiro, sexo, comida, guerra... para o autor do prólogo, tudo isso interfere na sobrevivência, se for só para manutenção do homem, mas na atualidade, envolve processos sugestivos que desafiam o ser humano, e por isso estão classificado como entretenimento. Ganhar mais dinheiro do que se possa gastar, fazer sexo sem necessidade de procriar, a gastronomia enquanto hobby ou a guerra enquanto conquista televisionada em nível internacional, se transformaram em ‘jogos’.

Por fim, Torvalds analisa os hackers e sua motivação para o trabalho que desenvolvem. Criar um programa proporciona grande entretenimento e ainda se alcança repercussão social (segunda motivação).

Pekka Himanen inicia a primeira parte do livro com uma análise sobre a ética dos hackers no trabalho. Para um hacker, o computador é pura diversão, cujo processo de programação envolve ludicidade e excitação. O desejo de continuar aprendendo também os motiva, é como dominar a máquina, e programar se torna um estilo de vida apaixonante. O autor encontrou paixão igual no processo de aprendizagem que envolvia Platão e seus discípulos, os artistas, artesãos, pesquisadores e aqueles que trabalham com meios de comunicação.

Himanen não fala sobre ética individual dos programadores, mas sim do comportamento em rede, que põe em juízo a ética protestante de trabalho, que há tempos vigora na sociedade capitalista e exerce influência em nossa vida.  Há mais de cem anos Max Weber  (1864-1920)  descreveu a noção de trabalho no espírito capitalista. A obrigação de ter uma profissão, com horários e regras determinadas e retorno financeiro que permita a sobrevivência. O trabalho como vocação, fim absoluto em si mesmo. Himanen cita autores que escreveram sobre o trabalho (principalmente autores ligados à religião) e faz um contraponto entre o trabalho em rede colaborativa. O Hacker trabalha sem horário fixo, sem a pressão do patrão exigindo resultados, sem visar o lucro ao final da tarefa. E mesmo sem essas pressões, há disciplina, motivada pela paixão em obter resultados que o tornem reconhecido por seus pares. Para o autor, a lógica dessa ética está justamente em burlar o já conhecido comportamento vigente no capitalismo.

No segundo capítulo, a relação do tempo dedicado ao trabalho na ética protestante é comparada ao uso do tempo no universo hacker. Se tempo é dinheiro, é perda de tempo se dedicar a um trabalho sem remuneração? A relação com o tempo dedicado ao trabalho, na ética protestante, se limita à obrigação de trabalhar em horário pré-determinado em horas e dias, pois trabalho é sacrifício. Na era da informação, o tempo ganhou uma racionalização ainda maior, pois a velocidade das inovações tecnológicas propõe o imperativo da corrida contra o relógio. Para os hackers, trabalho é prazer e eles trabalham em horários alternativos. A flexibilidade propõe o trabalho lúdico, onde e quando quisermos, por isso é possível ser feliz em horário comercial, e usarmos a madrugada para trabalhar, pois a rede não pára. Assim o hacker trabalha quando a criatividade o motiva, cumpre suas tarefas e não sua jornada e assim, tem tempo para ‘viver’.

Himanen analisa ainda a ética do dinheiro, como motivo e interferindo no processo de vida e aprendizagem do ser humano. Na ética protestante a semana era dedicada ao trabalho e o domingo era dia sagrado ao descanso. Mas se dinheiro é um fim em si mesmo e a lógica capitalista dita o tempo (ritmo de trabalho), então domingo atualmente é dia de labuta, pois o consumo é motivação. Diferente do ritmo de trabalho hacker, que concebe um domingo de trabalho, se na quinta ou sexta o tempo foi dedicado à família. No capitalismo o domingo de trabalho é puramente para aumento dos lucros.
No campo da aprendizagem, para o capitalismo as boas idéias são propriedades de quem as teve, principalmente se geram dinheiro. Então compartilhar informação, como bem poderoso e positivo não se explica. Mas um grupo se difere, até mesmo no capitalismo, com um modelo aberto de gerar conhecimento: a comunidade científica, que historicamente sempre trabalhou partindo de um problema ou objetivo no qual o indivíduo tem interesse pessoal e é um entusiasta, acha sua solução particular e qualquer um poderá utilizar, criticar e desenvolver esta solução. Mais importante que qualquer resultado final é a informação ou cadeia de argumentos subjacente que produziu a solução.  As fontes sempre são citadas e a nova solução não pode ser mantida em segredo e sim publicada novamente. E esse modelo sem ausência de estruturas rígidas, que congrega paixão e trabalho em grupo, está na prática hacker, que parte em busca da solução de problemas e submete seus resultados a diversos testes. Aprender cada vez mais é o objetivo desse universo e um professor ou pesquisador, neste universo, é alguém que, muitas vezes, acabou de aprender e já quer ensinar. Himanen denomina esse processo de ‘Academia da Rede’. 
Na última parte da obra, o autor fala sobre a ética da Rede e a netiqueta (boas maneiras observadas na comunicação na Rede) e sobre o espírito do informacionalismo. Segundo ele, quanto mais eletrônica se torna nossa era, mais deixamos vestígios ao navegar pela rede, fazer compras nas lojas, preencher cadastros em repartições ou ao responder questionários em sites de pesquisa. Nossos dados estão a todo momento sendo analisados, construindo um perfil de usuário, que deixamos ao usarmos cartões de crédito, fazermos transações bancárias, utilizarmos a internet e até mesmo o celular. Por isso os Hackers estão preocupados com a privacidade e com a proteção dos dados dos usuários da rede e prezam pela segurança no mundo virtual. A autoprogramação, o aumento do tempo dedicado à Rede, a necessidade de manter-se atualizado com as inovações crescentes, que teimam em nos deixar obsoletos com relação aos conhecimentos gerados na nova tecnologia, nos faz dedicar cada vez mais horas ao  trabalho. E esse é o espírito do informacionalismo.
No informacionalismo, há o resgate de virtudes do desenvolvimento pessoal, no sentido de racionalizar o tempo e o esforço gastos nas atividades, já que há informações demais, é preciso filtrar, selecionar e tomar as melhores decisões. Por isso é preciso ter determinação, tranqüilidade, otimizar os processos _ ser efetivo no ‘agora’; ser flexível _disposto a mudar conforme as necessidades; ter estabilidade  _ manter a constância na busca do objetivo; ter dedicação; ter consciência do valor do dinheiro necessário para realizar desejos; contabilizar resultados. E são essas virtudes que transformam a rotina nesses novos tempos: a rotina dos processos nos negócios está em alteração, as linhas de produção desnecessárias são eliminadas, as lentas são remodeladas de tal forma a serem efetivamente produtivas, afinal a automação elimina tempo perdido. E todo esse sistema passa a ser metáfora para explicar a ética que rege o informacionalismo. Com esta ética virtual em voga, o autor percebe dificuldades na aplicação da ética real. A lógica da velocidade, que tanto impera no informacionalismo, é talvez a pior barreira para que a ética real aconteça. Como se, em busca pela otimização, automação, e tudo o mais que rege esta era que vivenciamos, a ética fosse algo à parte. E é exatamente isso que preocupa o autor, que vê na ética Hacker um caminho diferente de comportamento na Rede.
Por isso Himanen propõe sete valores da ética hacker: paixão (entusiasmo que move a aprendizagem); liberdade (com o código aberto que permite o compartilhamento de conhecimento; com o tempo, que os livra da rotina e da jornada de trabalho e os deixa livres para trabalhar como e quando querem); valor social e abertura (que possibilita receber reconhecimento ao compartilhar conhecimento, tornando-o comum a todos); atividade (que envolve a liberdade de expressão em ação e privacidade para proteger seu estilo individual de levar a vida e desprezo frente à passividade): e cuidar (se preocupar com o futuro da sociedade virtual de tal forma que oportunize a todos uma garantia de acesso). Esses valores juntos, levam ao último estágio, quando o hacker se torna criativo porque utiliza suas habilidades, superando-se, e dando ao mundo contribuições valiosas.
Por fim, a obra nos apresenta um posfácio, escrito pelo sociólogo Manuel Castels, que retoma o contexto em que vivemos e as mudanças do paradigma da era industrial para a era da informação.
A ética Hacker e o espírito da era da informação é um livro positivo, porque aponta para uma cultura e uma ética mais humana neste contexto vigente que é o capitalismo. É muito bom ver luz no fim do túnel. As transformações éticas que vinculam tecnologia, democracia e desenvolvimento social e humano já começaram. Mas sem ingenuidade, pois é um  processo ético lento, que envolve uma minoria, pois o capitalismo tem teias amplas e o dinheiro ainda é um valor forte em si mesmo, mas pelo menos, é um começo. E tomar consciência que a colaboração é o caminho humano que resta. 
Vale a pena ler este livro. 

terça-feira, 28 de junho de 2016

Projeções lúcidas

A consciência das minhas projeções eu comecei a ter na década de 1990. Era um período de profundo cansaço, tristeza, muito trabalho, achava a vida complicada, muita saudade da minha família. Não tinha tempo para nada e vivia um vazio de religião. Uma relação amorosa em desgaste e uma sensação de que eu precisava achar sentido nas coisas. As projeções eram muitas. Eu costumava parar o carro embaixo de uma grande árvore, no estacionamento de um dos meus empregos, deitar totalmente o banco do carro, entre 12:30h e 13h, pois era a hora que eu tinha entre um trabalho e outro, e colocava o relógio para despertar e apagava por 20, 25 minutos. Era incrível como eu via cenas, imagens, muito nítidas, nesse pequeno tempo. Nos finais de semana, em casa, sempre dormia aos sábados e domingos a tarde, quando não estava de plantão em um dos meus trabalhos. Costumava sempre estar em emissoras de TV ou rádio e isso gerava sempre trabalhos extras. Então eu vivia sempre muito cansada, pois ainda fazia faculdade à noite.
Com os estudos da Conscienciologia, hoje vejo que eu não tinha sonhos. Tinha projeções.

Projeções

1. Primeiro vi o chão. Vi a cama. Percebi que estava deitada com a barriga para baixo e no sentido vertical da cama. Fiz um movimento para endireitar meu corpo e me vi atravessando meu próprio corpo físico deitado. Fiquei um pouco assustada. Acordei.
Em acordar e estar viva, bem, me dei conta que era um sonho lúcido, estranho, onde estava com dois corpos, um inerte e um com movimento.  Aconteceu por volta de 1994.

2. Acordei e não consegui mover meu corpo. Tinha consciência do meu corpo mas não conseguia mover nada. Senti um certo pânico. Não sei quanto tempo durou. Durante este tempo eu fiquei pensando se eu estava viva ou morta. Então senti meu corpo estremecer e acordar total, com corpo movendo e senti alívio.


3. Vi que estava no meu quarto e vi minha avó materna, que já era falecida, me olhando com carinho. Trocamos olhares carinhosos. Acordei. Era 1995.


4. Eu sentia o ar em volta, a velocidade do meu corpo, senti que volitava. Vi florestas de cima, vi rios, vi cidades. Vi estrada. Vi gente na estrada, caminhando, dia amanhecendo. Era muita gente. Vi que tinham roupas e bandeiras vermelhas. Eram muitos. De todas as idades. Homens, mulheres, crianças. Vi o chão de muito perto. Teve momentos que achei que ia ralar o rosto no chão do tanto que tava perto. Via pedrinhas. Uma sensação de liberdade. Aí acordei. Tudo muito nítido.
Naquele mesmo dia vi na TV um grupo de manifestantes Sem Terra no MS. E tive uma sensação, pela TV, de que era aquele grupo que eu vi no meu 'sonho' nítido.

5. Acordei em pé, ao lado da janela. Olhei lá fora, vi a rua, vi a garagem, percebi que ainda era dia. Pensei que eu era sonâmbula, pois havia deitado à tarde. Lembrava de ter me deitado. Então olhei a cama e para espanto, vi meu corpo dormindo na cama. Susto. Acordei.


6. Eu me vi no quarto onde dormia, em 2007, e na sala da casa havia um grupo dançando, um grupo tribal, com vestimentas estranhas, em festa e alegria. Eu sabia que eu havia atraído tal grupo, e eles dançavam ao som das músicas que tocavam em minha casa. Acordei com uma sensação de tranquilidade, mas tomei consciência que música é mensagem energética.

7.  Parecia sonho. Na casa de minha mãe, conversando com alguém que não lembro, sobre formas vivas dentro de instalações hidráulicas do banheiro do quarto em que eu costumava dormir lá. Um papo meio sobre ciência, sobre seres microscópicos. Então eu me dei conta que estava ali e na hora pensei que eu poderia visitar a casa toda e não apenas o banheiro. Senti o corpo vibrar e imediatamente volitei e meu corpo começou a percorrer o quarto, meu olhar de cima para baixo, com rapidez, vi o banheiro de minha mãe, vi minha mãe passar, vi sua cabeça, ela passava no corredor da casa, e fui subindo, uma sensação incrível de presença ali. Senti minha tensão e uma certa dor na coluna e acordei em retesamento da coluna, incrível.


8.O dia amanhecia. Vi a luz do dia, estava deitada de barriga para cima sob a areia de uma linda praia deserta. Meu corpo vibrou e senti que renovava energias em um maravilhoso Estado Vibracional. Sentia a energia solar em mim. Ouvia o barulho do mar. Tudo muito real. Acordei em minha cama com muita tranquilidade e uma alegria ímpar em meu coração.


9. Vi a sala do apartamento em Salvador. Vi os móveis Pensei que poderia ir ao quarto e fui caminhando pelo corredor. Fiquei com receio de ver quem dormia ali e no medo, acordei.


10. Eu estava em algum lugar que não lembro mas tomei consciência de uma necessidade física (fazer xixi) e de repente estava em meu quarto e vi meu corpo dormindo e 'pulei' nele. Acordei.


11. Acordei e percebi o local que atualmente vivo, mas as imagens não eram nítidas. Vi que estava projetada. Pensei na situação e senti a adrenalina tomando meu corpo e acordei frustrada por não controlar a ansiedade.

12. Acordei e vi que meu corpo dormia. Então volitei e vi meu corpo na cama e vi também meu pai. Ele fumava. Mesmo assim o abracei com saudade. Pensei que pelo tempo que meu desencarnou não havia lógica ainda ter tal vício. Mesmo assim eu volitei e me vi atravessando o oceano. Vi luzes, vi a cidade brilhando embaixo, pensei em Salvador, mas voltei a pensar em meu pai e me vi retornando muito rápido ao meu quarto, vi meu corpo dormindo e vi aquele que eu achava que era meu pai e mentalmente eu disse que ele não me enganava, que não era meu pai. Então seu rosto foi se transformando, era outro homem que não conheço e na hora exteriorizei energia, pedindo que o campo energético fosse reciclado e que tal espírito perturbado fosse embora. Acordei.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Vida em Mutação

Hoje eu me dei conta que estou dando uma mudada radical em minha vida. Vou parar com uma série de coisas que faço no automático. Vou mudar de casa, de cidade, de estado e de país. Meu trabalho rotineiro, que é ler e estudar coisas na minha área, planejar aulas, ministrá-las, corrigir coisas, reuniões, atividades de pesquisa e extensão... tudo isso ficará em stand by até o meu retorno.
Minha casa será desarrumada e rearrumada. Sobrará um apartamento sem personalidade, com um dono apenas no papel. Alguém passará a usar o que era meu, meus móveis, meu espaço. Com isso, me dei conta hoje que  estou em um novo recomeço. Vou ter  novos estudos, áreas que pouco me aventurava antes nas leituras, novas rotinas, menos roupa, hábitos mais saudáveis, como caminhar mais, pois vou me desfazer do carro, vou viver com menos dinheiro, talvez emagrecer, pois ando comendo gostosuras demais e minhas roupas andam muito apertadas.
Vou estar longe das coisas que conheço, de objetos de decoração que gosto muito, não vou conviver com as pessoas do meu trabalho, nem com amigos e nem com meus amados, no dia a dia.
Sim, mudanças exigem preparação. Rompimentos. Com os outros e conosco.
Pois sei que não posso ir com todas as manias, desejos, hábitos, que não se sustentarão, que não são necessários, que só me trarão sofrimento.
Então estou em verdadeiro processo de desapego. Que as energias que renovam possam me ajudar nesse desapegar material e imaterial.
Também estou em processo de eliminação - o 'não é'! Então um dia você acorda e percebe que muita coisa te deixa triste. Não todo tempo, mas tá sempre acontecendo. Lá no trabalho, por exemplo, uma situação que se repete e que te chateia, como o fato de dar aulas em uma sala que nunca está com equipamento em condições de funcionamento, sem que eu tenha que ir atrás de cabos, de técnicos, etc.  Não é o certo. Na sua casa, algo colocado em determinado lugar que toda vez que você vai pegar, te dá trabalho para ter acesso aquilo. Ora, não está no lugar certo. Com uma pessoa que você convive, o jeito dela fazer algo que te deixa irritado. Afff. Tudo isso está a te enviar uma mensagem muito clara:  Não é! Não é natural você ter que ficar irritado, chateado, triste sempre que aquilo se repete e aquilo se repete sempre. Ops, tá na hora de mudar esse padrão. E quem tem que mudar é você. Pois então, pelo não é, estou analisando o que vou conseguir mudar nessa alteração radical de vida.
Disciplina. Estou com a plena certeza que se eu não tiver disciplina, eu vou ter dificuldade para dar conta do tanto de coisas que preciso fazer neste processo de mudança. E de forma prática, é muita burocracia, é muita coisa para encaixotar, para doar, para vender, para organizar, para deixar regularizado, principalmente no trabalho, pois se tudo ficará em stand by, precisa ficar em ordem. E disciplina requer foco, requer objetividade, não procrastinar, não relegar, não jogar embaixo do tapete, não fazer pela metade, não iniciar e parar. Para que a disciplina se torne efetiva, criei uma metodologia: escrever em pequenos pedacinhos de papel o que precisa ser feito, colocar os papéis colados em um quadro que está numa parede por onde passo toda hora. Sim, lembrar e lembrar. Então a técnica foi escrever tudo o que vou precisar fazer para atingir meu objetivo.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

A visão limitada do suicídio

Hoje um casal amigo perdeu um filho de 20 anos. Penso que é a pior dor, essa de perder um ser que nasceu de nossas entranhas, que cresceu dentro do nosso corpo, que nosso cálcio produziu seus ossinhos...
E o amor? aquele amor imenso que nos toma o peito quando olhamos no rostinho de nossos rebentos? e esse amor que nos faz planejar e visualizar a felicidade desse filho aos 10, aos 20, aos 30...
e eis que vem a morte, aquela 'coisa' monstruosa e destrói toda e qualquer possibilidade de um filho enterrar um pai, fato natural para qualquer humano. Pois bem, a dor já se fez imensa, penso, quando fico sabendo que a perda não se deu por acidente, não foi por doença, não foi causada por outrem mas foi uma escolha do rapaz.
Na hora eu senti uma dor tão forte, por empatia, me coloquei no lugar desses pais, desolados em perder para a visão limitada de jovem desesperado, que acredita que está no fundo do poço.
O que dizer do suicídio? se não estamos preparados nem educados para a morte, o que dizer da morte escolhida, planejada, realizada por aquele que se foi? Não, não estamos preparados para o verdadeiro livre arbítrio.
Será que ele pediu socorro e ninguém percebeu? é logo o que pensamos.
Será que ninguém o ensinou que na vida tudo passa, tudo muda, tudo é cíclico, que não há mal que dure para sempre nem felicidade eterna?
A vida foi vencida pela visão limitada da juventude que quer resolver tudo às pressas.
Não sabemos lidar com o suicídio. Ele não nos é natural.
Mas nem a morte parece ser. E ela é. Ela é a coisa mais certa da vida. Ela é tão ou mais certa que a própria vida. Tem gente que vem e vegeta. Nem vive. Mas vai morrer.
Tem gente que vem e convive com o mal de Alzheimer, esquece da própria vida, mas também vai morrer.
Tem gente que vive em área de guerra, lutando a cada minuto para salvaguardar-se e a morte pode estar no segundo seguinte. Então, ela é a mais natural das coisas que nos acontece.
E ela nos acontece sempre. Se todos nascem, crescem e morrem, convivemos desde sempre com a morte, de nossas plantinhas, bichinhos, bisavós, avós, pais, amigos, parentes... mas ainda nos é inconcebível a morte de um filho. E percebo o quanto ainda estou despreparada para ela.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A morada doente

 “Minha casa é o meu castelo” _ Esse é um ditado incontestável. A morada de um homem é seu recanto, local de descanso e conforto, destinada ao essencial da vida: comer, dormir, amar... enfim, é em casa que refazemos as forças para o dia a dia de lutas e embates.

Se o meio ambiente natural é a floresta, os mangues, as restingas, cerrados, etc., o ‘meu’ ambiente é onde escolhi viver, as quatro paredes que me aquecem e me protegem das intempéries. Então, meio ambiente de gente, inclui a casa onde se mora. Mas até que ponto nós temos casas sadias?

Um amigo meu, o Engenheiro Civil Dermivan Barbosa, há algum tempo me contou do número de pessoas que conhece, que estão doentes por conta de suas moradias que apresentam uma série de problemas: Casas sem ventilação, onde a luz solar e o vento não adentram, onde há muita umidade, verdadeiras concentrações de fungos e ácaros. No inverno, elas são escuras, exigem um gasto enorme com luzes acesas e os armários estão cheios de mofo. Já no verão, são verdadeiras estufas, cheias de calor e exigem ventiladores ligados todo o tempo. E ele nem conhece Cachoeira tão de perto. Ele me contava de Itabuna, cidade onde realiza obras de construção e reforma. 
Ah, se ele tivesse que viver em Cachoeira... 
      
A cidade tem um deficit imenso de casas sadias. Duas estudantes universitárias que conheço bem, pois cheguei a dividir espaço com elas, viveram situações complicadas com casas assim, estufas no verão e geladeiras escuras, no inverno. 
Tenho um amigo, ex-aluno, que veio de fora e está com problemas sérios de alergia. Há mais de um mês procura casa para mudar. Casas em que os quartos não têm janelas são as mais disponíveis. E essas casas não estão nos bairros mais periféricos. Ficam nos centros de Cachoeira e São Félix. 
Este assunto deveria ser tratado como um problema de saúde pública,  porque os moradores dessas casas, invariavelmente, estão com alergias, rinites, sinusites, problemas respiratórios de toda ordem e quando o caso é muito sério, desencadeiam depressão, tristeza, por conta de um lar que não atende as condições mínimas de conforto e bem estar. Nosso sistema único de saúde, com certeza, tem que responder por demandas dessa ordem. 
Arquitetos e engenheiros das prefeituras deveriam propor soluções alternativas para os moradores. Talvez uma reforma simples levasse os quartos para a parte de trás da casa, possibilitando uma janela em cada ambiente ou o corredor longo, dessas casas antigas, ganhar uma entrada de circulação de ar, para viabilizar um frescor na vida de seus residentes.