sábado, 3 de outubro de 2009

Para Arthur Frederico

Hoje descobri que escrevo boa parte dos textos aqui para você, meu pequeno. Hoje você tem apenas seis anos, mas se fosse um homem gostaria de te dizer tantas coisas. E como sei da fluidez da vida, da facilidade da passagem e da impossibilidade de comunicação fácil pós desencarne, fico cá com meu blog, na esperança que um dia você busque no google e ache na net esses monólogos, que tanto queria que fossem diálogos.
Eu sempre achei que não teria filho. Você nasceu e eu já tinha cruzado a fase em que acreditamos que seremos apenas titias, eu já tinha Erick, Isabelle e Victor. Era uma boa tia. 
As vezes acho que sou impaciente com a sua infância e trato 'meu bebê' como um homenzinho. É que nas leituras sobre personalidade, eu li que forma-se um homem a cada dia de vida até os 7 anos, depois, esqueça. Tenho apenas mais alguns meses para tal tarefa (árdua) e melindrosa...
Arthur, és meu bem mais precioso. Eu nunca tinha ajudado a construir personalidades antes. E temo que tal tarefa seja muito maior do que a minha capacidade de discernir o que é certo e o que é errado.
Alguns temas polêmicos, que gostaria de conversar:
Eu uso tatuagens, três e quero mais duas. Fiz tatuagens depois que você nasceu. Mas se você quiser ter tatuagens não me peça. Faça-o depois dos 25 anos, pois antes vou criticar.
Meu mundo é a minha medida, sou meu maior exemplo e não espere que eu concorde com coisas que eu não faria.
Ei, eu não gosto de nenhuma droga. Não é moralismo. Já namorei quem fumava maconha, mas ele não me oferecia. Eu realmente não gosto da mudança de consciência sem domínio. Nunca namorei quem gostasse de beber muito... e não curto cigarro.

Prefiro viagem astral, meditação, sonhos mediúnicos e coisas do gênero.
Alcool muito pouco, só para ficar assanhada, tipo vinho bem acompanhada. E cervejinha gelada em dia de sol.
Seus dois avôs (paterno e materno) morreram em consequência de uso abusivo de álcool no organismo. Veja os maus exemplos, filhote, aprenda com eles, são receitas de como não fazer.

Não trepe com todo mundo. Eu não faço isso. E não é porque sou careta, pudica ou tenho moral mais que os outros. Eu não trepo. Eu até transo. Explico: trepar é animal, não precisa nem saber o nome. Não precisa saber do que o outro gosta, qual a comida preferida, se tem até mesmo sentimento.
Caso queira trepar compre uma boneca de inflar, daquelas de sex shopping; você não vai se machucar nem machucar ninguém.
Já transar é fazer um sexo gostoso, com gente que a gente gosta, mas sem aquele ritual que fazer amor exige.
Eu, filhote, gosto mesmo é de fazer amor, de me preparar, de saber onde e porque estou tocando e sendo tocada.
E no final sobrar um sorriso que me enche a alma. Então tem que ter sentimento.
Fizemos você assim, eu e teu pai, hoje meu amigo, antes namorado por anos e grande amante. Você foi feito com muito amor e foi muito esperado. Por isso eu e seu pai somos amigos. Porque esse amor à você nos une.

Ah, isso é sério: é preciso conservar bons sentimentos por aqueles por quem já nos apaixonamos. Senão negamos nossas escolhas. Como odiar quem um dia escolhemos amar? que erro grosseiro de análise de personalidade se odiarmos nossas antigas escolhas. Tá, tem gente que tem defeitos terríveis e que só descobrimos depois, por isso desapaixonamos. Mas ela tem qualidades, e são essas que devemos focar para manter a amizade.

Voltemos ao sexo. Use camisinha. Sempre. E também dê remédio para não ter filhos para sua namorada, não deixe que a responsabilidade seja só dela. Estás a fazer um ato de amor se não tiveres filho antes da hora. Cuidar de crianças é ph... muda tudo. Mas quando se quer, se planeja e se organiza, como foi no seu caso, muda tudo pra melhor.

Então, vamos aos temas polêmicos ainda. Eu sou de almas, gosto de gente, meu gênero é feminino, mas não gosto de rótulos, por isso não me definiria heterossexual, coisa tão humana. Por isso, se você escolher ser gay, pode me contar sem medo. Eu já me apaixonei por algumas mulheres, seres maravilhosos. E algumas sabem do meu amor incondicional por elas.
Outras não compreenderiam, então tive que guardar pra mim essas paixões. São paixões por suas almas, tão cheias de qualidades.
Já meus amores por homens duraram bom tempo e sempre deram certo. Acabaram porque tudo tem fim, e paixão sempre tem fim... e como ainda não achei ninguém que eu realmente queira ver do meu lado todo dia, com ou sem cabelo, sem dente, sem sexo, sem saco... então ainda estou só. Acho que poupei a mim, com meus grandes amores (Wilson e Cris) de chegarmos à dolorosas separações. Como foi tudo tranquilo, na medida em que os rompimentos podem superar, hoje sou amiga e desejo sempre o melhor para eles.

Ah, Arthur, um outro tema muito sério: Profissão. Filhote, seja feliz, escolha ser feliz e tudo o que fará será bem feito. Descobri que essa loucura de universidade, de já estar na nona disciplina diferente em 3 anos, não me abala. Eu curto tanto lecionar. Fico triste com a falta de tempo pra fazer melhor. Quando estava na UESC e tinha minhas disciplinas definidas, eu era o 'must'. Mas agora, fico estudando, estudando, pensando as melhores metodologias e gasto tanto tempo... não tenho nem tempo pra mim. E pouco tempo pra você... E fico me perguntando se fiz as escolhas certas.

ah, outra coisa que é ph...: escolhas. Olha, nunca temos certeza. Então não fique remoendo, não vale a pena. Já fez? foi ruim? refaça de maneira melhor, recomeçe...

Se um dia você observar minhas carteiras de trabalho e os poucos meses que fiquei em alguns empregos, pense nisso. E o fato de ter começado Letras e Direito, de ter feito jornalismo, mestrado em Meio Ambiente, doutorado em... educação??? será? não sei. Não espere respostas prontas.
Nunca se acomode, eu nunca me acomodei. Por isso tantas cidades, tantos lugares, tantos empregos, tantas casas, sem casamento, sem acomodação...

Por fim, filhote, acredite em algo. Pode ser no universo, na natureza, no seu coração, como fonte de luz e mais, acredite que tudo isso não tem fim. Permanecerás.
Eu acredito na energia que rege tudo isso. Sou feliz assim.

Amo você. Nunca esqueça.

2 comentários:

Isa disse...

São ensinamentos legais e importantes. Experiência é realmente bom, agora você tem paciência e possibilidade de criar um homem de bem, com princípios, inteligente, que pensa por si só, pensa em si, e que pensa no outro.

Abraços, Alene!

Rodrigo disse...

Alene, achei muito legal essa digressão... estou apreensivo com a chegada de Luna e aprender a ser pai, pois ninguém sabe como é, acredito que seja algo intuitivo. Aprendi com seu texto.