quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Gavetas e intimidade

Uma amiga perdeu a irmã em um acidente de carro. O cunhado a chamou, semanas depois da morte, para limpar o armário, doar roupas, limpar gavetas do escritório, do quarto e do banheiro. A minha amiga me contou que se sentiu invadindo a intimidade da irmã e que, nas gavetas, encontrou objetos que davam pista do quanto havia coisas que desconhecia da própria irmã. 
Isso me fez pensar muito. Fiquei pensando em minhas gavetas, em minhas caixinhas, em meus cadernos e agendas antigas. Fiquei pensando em, caso eu morresse, quem limparia minhas gavetas e que tipo de intimidade eu revelaria.
Fiquei pensando no quanto pode ser constrangedor ser chamado para limpar gavetas de alguém e se estamos preparados para tal tarefa. E me dei conta que há poucas pessoas que eu gostaria que tivessem acesso à minhas gavetas.
Eu me dei conta de que, em minha vida, há objetos que guardo que não necessariamente revela algo que faça sentido a outras pessoas. Percebi que tenho objetos que estão comigo há anos, e que se alguém for limpar as minhas gavetas, há de jogá-los fora, porque eles não possuem significado explícito do valor afetivo que têm. Fiquei pensando que há objetos velhos que eu estou apegada que irão para o lixo por qualquer pessoa que se depare com eles. E percebi que, por mais que eu goste do que eu acumulei em minhas gavetas, nada, absolutamente nada, me pertence de verdade.

Um comentário:

Renan Roseira Fernandes disse...

Quando teve essa percepção, considerastes um choque?