sábado, 12 de março de 2016

Entre o 11 e o 13

Nira, minha avó paterna, nasceu dia 11 de Março. Arthur, meu filho, nasceu dia 13. Sempre fico a pensar na importância desses dois seres em minha vida. E no miolo que me preenche, da massa que fui feita e que me alimentou, como ser humano.
Muito embora tenha mãe e avó materna guerreiras, maravilhosas e cheias de lições de vida, eu sempre estive a refletir sobre minha avó paterna, ao observar como ela viveu e de que forma isso me impactou. Minha avó teve grandes perdas _dois filhos se suicidaram, aparentemente por motivos fáceis de resolver, um filho jovem médico, que morreu de AVC dentro do consultório, uma outra filha (de criação) de aneurisma, e meu pai, com cirrose. Ela enterrou a todos com tristeza e resignação. Nunca vi minha avó revoltada. Vi algumas vezes, falar que Deus havia esquecido dela, pois para ela, viver perdas era ruim e filho não deveria morrer primeiro que os pais. Mas ela me ensinou, com sua postura resignada, a compreender que a vida é feita também de morte. Vamos ver morrer quem amamos e vamos morrer e deixar quem amamos ao longo do caminho. Ao meu filho, tenho tentando fazê-lo entender a naturalidade desse percurso, ele que acabou de perder um primo irmão, amado e fica de vez em quando, se questionando sobre a presença da morte em vida.
Nunca vi minha avó ociosa, estava sempre entre linhas e panelas, bordando ou cozinhando, coisas deliciosas ou lindas. E sempre para os outros. Era uma mulher de doação.
Com ela observei o valor do trabalho, de estar sempre ativo, de buscar aprender sempre. Nira comemorou aos 89 nos o fato de  aprender  uma técnica nova de entrelace e até morrer, aos 96, fez muitas toalhas com pontos variados e cada vez mais difíceis. Só eu tenho pelo menos umas seis lindas toalhas que ela me deu, com essas franjas trabalhosas e bonitas.
Eu penso que herdei muito de Nira.
Nunca fico parada. Estou sempre acumulando serviço, dizendo sim a coisas que ocupam tempo, que dão trabalho. E aprendendo coisas novas.
E Arthur segue pelo mesmo caminho. Faz judô, xadrez, teatro, inglês, espanhol... é estudioso, participa dos escoteiros. Não se nega a nada, muito companheiro e participativo.
E assim vamos densificando e cristalizando nossa morfopensene. Nossa forma de lidar com pensamento, sentimento e energia, pautada em uma realidade construtiva diante da vida, que muito me alegra. Não quero deixar grandes heranças materiais.
Mas esta sim, que herdei e estou vendo que Arthur herdou, esta sim, me deixa satisfeita.

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