Estou finalmente fazendo uma terapia... já tinha, quando do desencarne de meu estimado pai, feito duas sessões do estilo mais tradicional, sentada em frente a um terapeuta, falando, falando, falando e achando tudo um saco.
Agora, quatro anos depois, nova tentativa, mas desta vez, é em psicodrama, em uma metodologia muito mais interessante.
Somos um grupo. Vivenciamos experiências no grupo, a partir de experiências individuais e relatos dessas experiências. Trabalhamos com teatro, encenações, diálogos fictícios ou não, criados a partir das necessidades detectadas pelo terapeuta.
Como seres sociais, trazemos uma carga de procedimentos cristalizados e emoções reprimidas que nos fazem muitas vezes infelizes dentro do próprio cárcere que criamos para o que verdadeiramente somos.
Nosso ser humano se perde no ser social que estamos.
Estamos, porque a todo momento, sempre que há necessidade, colocamos máscaras para dar conta do que a vida social nos exige.
Sou a mulher sensual com o meu namorado.
A professora centrada com os meus alunos.
A mãe que dá limites ao meu filhote mas o trata com o maior amor do mundo.
A motorista cuidadosa e medrosa no trânsito caótico de Salvador e a motorista tranquila e voyer da paisagem no Recôncavo...
percebem? sou muitas.
Sou o ser social que o momento exige.
mas e o ser humano? onde ele entra nesta história?
Nas últimas sessões/aulas, nosso terapeuta trabalhou o inventário de emoções, a partir do que eu sinto quando eu tomo consciência do meu momento.
Nesses momentos de ser social, há um ser que é emoção.
Então eu devo me perguntar: 'como eu me sinto?', por exemplo, quando tenho que enfrentar situações complicadas, com pessoas complicadas.
Eu me pergunto 'como me sinto'?
E quando dá, eu coloco "na mesa" esse meu sentimento.
Então, com calma e verdade, falo do meu sentimento, das emoções que me tomam. Sem acusar, sem molestar, apenas deixando claro o que me vai no coração.
Não é uma questão de achismos, é sentimento.
Quem pode contestar o que eu sinto?
E de forma prática, um exemplo do dia a dia: quando estou no trânsito caótico, no meio do engarrafamento, com medo do flanelinha que me olha como se eu tivesse culpa por estar ao volante...
Eu me sinto incomodada, sinto que pago o preço de ter um país desigual, sinto que fico com a adrenalina lá em cima em estado de alerta, sinto que meus olhos não param, como se pela visão eu pudesse prever a reação dos outros motoristas nervosos que tentam me cortar, avançar ou até passar por cima de mim.
E é essa emoção que me faz mal. Não queria estar ali.
Depois desse inventário, o terapeuta nos pediu que analisássemos o que podemos fazer para buscar o bem estar. Há como mudar a situação? há como melhorá-la? se não há, como posso mudar essa emoção que me faz mal? como buscar meu bem estar?
E é nesse trabalho de construção de emoções que estou... o trânsito desta capital mal planejada ainda é meu maior desafio.
E estou vencendo-o de modo lúdico depois do inventário: estou fazendo uma campanha com amigos para que me enviem músicas que gostam e que eu nunca ouvi, e fico ouvindo quando estou nos engarrafamentos, tornando assim o momento ruim em momento bom.
Muito rock and roll, muito dance music e lá vou eu cantarolando e rindo, a tentar driblar as emoções complicadas que consomem o meu ser/estar humano.
Um comentário:
Acho que todo mundo precisa de uma terapia em grupo. Hoje, o caminho mais fácil é se adequear a situação, mas, até que ponto isso nos faz bem?
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