terça-feira, 10 de outubro de 2017

A herança da Burocracia

Esta semana eu tive uma alegria, receber a Sandrine, uma ex-aluna, hoje uma colega de trabalho, também funcionária da UFRB, que veio para Portugal, para fazer seu mestrado. Eu fico sempre muito feliz de ver um ex-aluno em progresso. É engraçado como eu sinto um orgulho de mãe nesses casos (Freud deve explicar).
Eu a recebi e conversamos muito sobre esta fase de adaptação inicial.
Quem chega toma um susto. Os portugueses são de uma burocracia enorme. Somos mesmo herdeiros de quem gosta de papel e comprovantes. Cá, quando se chega, não é possível fazer nada, sem o NIF. O número de identificação fiscal, correspondente ao nosso CPF. Mas para tirar o NIF nós precisamos que um português nos acompanhe ao órgão das finanças e que se responsabilize por nós. Agora imagine você chegar em um país estranho, onde não conhece ninguém, e ter que conseguir um nativo para se responsabilizar por você? A Sandrine estava desesperada, atrás de um português gente boa.
Eu, quando cheguei, dei muita sorte. Eu aluguei ainda no Brasil, pelo sistema airbnb um quarto para eu ficar por um mês, na casa de uma jovem portuguesa.
E quando cheguei, conversamos muito, gostamos uma da outra e hoje ela é uma grande amiga, a Isabel. Foi ela que se responsabilizou por mim e logo consegui ter meu NIF.
Com o NIF é possível ter conta em banco, alugar uma casa, ter contrato de luz, água e telefone, comprar coisas em lojas com recibo caso precise trocar, se cadastrar em órgãos de saúde e cidadania, enfim existir em Portugal. Sem NIF, nada feito.
Outra coisa importante é ter logo um endereço cá, e quando chegamos, precisamos de um tempo para saber onde é melhor morar, encontrar um bom lugar, escolher uma acomodação confortável e de preferência, para quem vem estudar, mobiliada e com aquecimento central. Pois é, mas é um desespero para ter logo a morada, como se diz por aqui, pois sem o endereço também fica impossível abrir conta no banco, ter número no sistema de saúde...
Eu, quando cheguei, fiquei tão desesperada que acabei alugando o primeiro apartamento apresentável e quando dei por mim, estava morando em local sem transporte público, frio e sem aquecimento central. Penei por um ano nesse local. Então agora estou aconselhando minha amiga para que tenha paciência.
Ela chegou e está um pouco atordoada com tantas filas que já pegou, com tantos documentos que teve que mostrar, com tanta burocracia. Isso porque ela veio com visto de estudante, que também deu o maior trabalho para obter.
As vezes as pessoas acham que é simples, rápido e fácil estudar fora, mas não é não, no sentido burocrático. É preciso uma dose de paciência extra e também de dinheiro para gastar com taxas e mais taxas.
Eu já soube de pessoas que vieram sem o visto e tiveram que voltar ao Brasil para tirar o visto correto, pois vir como turista não dá direito a nada, apenas 90 dias para transitar pelo país, mas não pode estudar, trabalhar e não consegue nem tirar NIF.
O meu conselho a quem quer morar fora é leia a legislação do país escolhido com relação a receber estrangeiros, leia sobre o que é necessário para estar legalizado. Eu conheci pessoas que estão ilegais e elas vivem em sobressalto, morrem de medo de se depararem com a polícia. No meu antigo prédio eu vi a abordagem dos policias de imigração no mesmo andar, na porta de um vizinho, ficaram na porta fazendo perguntas e pedindo documentos. É uma situação constrangedora que não se quer vivenciar. Mas para isso é preciso seguir a lei e andar em dia com a burocracia.


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