sábado, 30 de setembro de 2017

Sobre verão e inverno em Portugal

Eu cheguei em agosto de 2016 e confesso que não estava preparada para o final do verão europeu. Sofri nos primeiros dias com um calor que me paralisava. Eu já morei em cidades quentes e cá me pareceu uma mistura de Cuiabá com Petrolina. Então foi um susto. Teve dia de 42 graus, sem umidade, uma coisa estranha. Passei muito mal. E havia incêndios em todo o lado. Eu via helicópteros todo o tempo, a carregar água para jogar nos incêndios, pois os arredores de Braga, onde eu vivo, estava em chamas.
Este ano o calor foi mais ameno. Houve um número menor de incêndios, porém houve um incêndio que foi uma tragédia, em Pedrogão, que matou mais de 60 pessoas, encurraladas nas estradas tomadas pelo fogo dos dois lados, pois Portugal tem muita plantação de eucaliptos, pinus, plantas que queimam fácil e estavam bem secas com o calor.
Mas o que mais me intrigava no verão de 2016, eu recém chegada, era ver tantos estrangeiros na cidade e tantas lojas no centro com placa de fechada para férias.
Este ano eu entendi, cá o verão é vivido ao máximo.

Em agosto, as cidades portuguesas são invadidas por franceses, holandeses,  ingleses e por um monte de portugueses que moram fora. Esses portugueses, que  foram embora daqui há anos, atrás de melhores trabalhos, são chamados de  imigrantes. No verão, eles retornam para ver a família que aqui ficou. Eles voltam muita vezes com maridos ou esposas e com filhos que falam outras línguas... então o que mais se ouve é outro idioma nos locais de turismo. Há meio que um preconceito local com os imigrantes, porque esses portugueses que se foram para melhorar de vida, voltam com carrões, gastam muito no turismo e tratam os residentes locais com uma certa arrogância, então virou uma rixa interna. Eu, como observadora, fico comparando com brasileiros que vão trabalhar em serviços braçais em outros países e voltam com seus narizes empinados a articular inglês e dizer que moram nos states... é igualzinho!
Mas o verão cá é mesmo uma festa. Turistas e portugueses lotam as praias, os shoppings, os parques, é uma loucura. Mas é também um tempo de eventos a céu aberto, tempo de shows, de cultura, de alegria.
No ano passado, quando setembro chegou, trazendo o outono, eu fui tomada pela surpresa de observar  os dias com variações  incríveis de temperatura. Este ano foi igual. O clima oscila tanto... Os dias iniciam com 9, 10 graus. Super  frio. No meio do dia, já estamos em 23, 24 graus e lá pras dez da noite, chega-se a 7, 8 graus outra vez. É uma montanha russa para quem tem sinusite como eu. E vi todas as árvores perdendo suas folhas, as folhas ficando amarelas, queimadas, caindo cada vez mais. Para uma brasileira que sempre viveu em áreas tropicais, foi impressionante ver a ação do tempo tão definida sobre os processos da natureza.
Quando novembro chegar, já estaremos no inverno. O inverno cá ao norte é uma fase estranha. Banhos rápidos. Aquecedor no banheiro. As pessoas ficam muito em casa. Não há eventos nas ruas. As pessoas andam cabisbaixas. Muita roupa, para sair de casa, dá uma preguiça. E quando se chega em local aquecido tem que ir descascando a cebola, como se diz por aqui, ir tirando as peças: luvas, cachecol, casaco grosso, casaco interno, as vezes o local é tão quente que se não estivermos com uma camiseta por baixo de tudo, vamos ficar suando. E na hora de ir embora, voltar a vestir a cebola. É uma novela.
Cá em Braga são sete meses de muito frio e cinco de calor. Eu me lembro quando em final de maio consegui vestir uma bermuda e colocar uma sandália. Desde outubro eu só usava botas e blusas de mangas longas. Ver minhas pernas de fora, amarelas, porque sou parda, foi até engraçado.
Então eu estou aproveitando esses últimos dias de setembro para usar minhas rasteiras, enquanto ainda posso. Na semana passada fiz fotos da chegada do outono, cenas cinzas, numa praia linda, de Esposende.

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