segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Braga ardeu em tristeza e incêndios ao seu redor

Esta semana vivemos uma situação de tristeza e insegurança cá em Braga e é claro, eu precisava escrever sobre o que vi e como eu me senti.
O domingo finalizou com os arredores e as estradas que circundam Braga a arder em fogo. Mas quando digo arder em fogo, não é nada do que conhecemos no Brasil. Lá há sim muitos incêndios em parques e estradas, mas não em torno de uma cidade.
Imagine florestas de eucaliptos, de árvores bem altas. Imaginou? Assim são as margens das estradas cá. Agora imagine estradas bem estreitas, onde passam dois carros bem coladinhos, imaginou? Assim são as estradas nacionais, as estradas pelas aldeias e pequenas cidades do interior. Claro que existem grandes rodovias, são as autopistas. Mas elas foram construídas após a criação da União Europeia, há cerca de 30 anos. Antes o país era interligado pelas estradas nacionais, estradas estreitas, que não cobram pedágios, que aqui se chamam portagens.
Pois bem, essas estradas vivem cheias de tráfego, primeiro porque são lindas, a gente passa pelas pequenas cidades, construções antigas, plantações de parreiras, as uvas podem ser vistas em suas diversas fases, nos quintais das casas. Agora mesmo é época da colheita e as aldeias estão lindas. Mas há longos trechos de plantações de eucaliptos. As aldeias são rodeadas de plantações de árvores que se prestam a virar papel e lenha.
Esse último verão foi quente. Havia meses e não chovia. Eu mesmo viajei diversas vezes, pois fui para Barcelos, Esposende, Apúlia, Póvoa do Lanhoso, Parque do Gerês... enfim, eu vi a estrada e sua situação.
Neste domingo aconteceu algo que eu nunca imaginei. Eram 15 horas e vimos uma névoa estranha na cidade, e logo se soube que havia incêndios nas estradas.

Eu fui encontrar amigos por volta das 17 horas, e dava para ver pontos vermelhos nas montanhas. Ficamos em um bar fechado, todos conversando e éramos um grupo grande, estávamos a comemorar o fato de ser dia do professor e somos quase todos professores no Brasil, viemos para mestrado e doutorado nas mais diversas áreas.
Saímos do local era 21 horas e tivemos uma triste surpresa, todo o céu estava avermelhado.
A névoa havia virado fumaça. Respirar era complicado, víamos o fogo em labaredas pros lados das montanhas onde ficam os Santuários do Sameiro e do Bom Jesus, duas lindas referências de Braga. Soubemos que muitos moradores dos bairros de Falperra, Nogueiró, Tenões (onde eu morei), Lamaçães e outros, já não podiam entrar em casa, os locais estavam sendo evacuados, havia casas pegando fogo. A fumaça já fazia vítimas também, eu mesmo fiquei com a garganta ardendo, olhos lacrimejando e uma dor estranha na cabeça.
Soubemos que as estradas que ligam Braga à Povoa do Lanhoso e à Guimarães estavam ardendo e havia gente que perdeu a vida em carros pulverizados.
Que triste.


A cidade foi tomada por uma sensação de inconformismo, de inoperância do governo, pois há cerca de três meses aconteceu o incêndio de Pedrogão onde morreram mais de 60 pessoas.
Fala-se cá que esses incêndios são fogo posto, gente que, querendo ou sem querer, põe fogo para que as florestas queimem, boa parte são pessoas desatentas que jogam seus restos de cigarro sem prestar atenção onde, ou ainda pessoas alcoolizadas que sentem prazer em atear fogo e ver os vizinhos perderem tudo, ou ainda investidores em função do preço da madeira, que mandam queimar áreas inteiras...
Este ano mais de 50 pessoas foram presas acusadas de fogo posto nas florestas, em todo o Portugal.
Há investigações, inquéritos, para saber de quem é a culpa. Os jornalistas acham que o fogo posto é uma espécie de terrorismo capitalista. Muita gente morre sem motivo, por manter-se uma floresta sem diversidade mas que gera renda, pois papel, lenha, são a base da manutenção dessa enorme floresta em todo o norte de Portugal. Por causa dela, inocentes perdem casas e tudo o que têm.
Há quem diga que o governo de Portugal precisa tomar medidas urgentes para melhorar a questão ambiental e demarcar as plantações de eucaliptos que são de fácil combustão. Limpar melhor as margens das florestas e estabelecer distância maior entre as florestas e as aldeias.

O certo é que o clima está cada vez mais quente, e ano a ano, os incêndios têm feito muitas vítimas dessa floresta sem diversidade, dessa floresta de lenha. Há ainda pesquisas que indicam que os incêndios sejam, na verdade, resultado da auto-combustão dos óleos voláteis libertados pelo eucalipto, especialmente em dias muito quentes, e em locais com muita concentração da planta.
Nós, no Brasil, não valorizamos nossas matas diversas, nossa vegetação tão diversificada, mas creia, cá a paisagem é uma só e cansa a visão. Cansa também saber que é essa vegetação de monocultura, de uma única planta, que causa tamanha tragédia, que destrói muitas vezes o pouco que a população mais pobre do interior possui, e que causa tamanha tristeza no país inteiro.

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