sábado, 18 de novembro de 2017

Mãe de what's app

A proposta de vir fazer o doutorado em Portugal foi analisada e discutida entre mim, Arthur e Cristiano, como possibilidade, desde que eles colaborassem com uma comunicação efetiva e, no caso de Arthur, afetiva, no sentido de minimizar a distância. Eu já sabia que a saudade e a sensação de estar a perder grandes momentos da vida do meu filho seriam constantes.





Quando Arthur era pequeno, tinha 1 ano, Cristiano iniciou o curso para piloto de avião e eu fui a primeira a incentivá-lo. Eu tinha webcam. E fiz questão de todos os dias ligar a web para Arthur ver e falar com o pai. Cristiano levava muitos meses longe. E foi a relação virtual que fortaleceu o contato, a ponto do bebê dizer "saudade papai" como algo natural, construído pelo contato diário.
E foi a partir desse experimento que eu imaginei também ter uma ação e emoção ativa entre Salvador/Braga, diária e irrestrita, com Arthur, através do what's app.





Confesso que ele as vezes some, passa dias sem dar atenção.  Diz "oi, mãe, tô bem. Saudade. Um beijo. Te amo". Mas tem dia que se anima, liga, ficamos por meia hora ou mais a falar do dia a dia. Algumas vezes eu fiquei triste quando dois dias se passavam e ele nem lia ou ouvia meus áudios. Mas retomei meu terapeuta via skype. E Paulo me fez ver que um menino de 14 anos que faz inglês,  teatro, que está na oitava série, que joga no play... tem o dia a dia cheio. E se por dois dias não me responde, não é que não me ame ou não sinta minha falta. Mas é que mãe não é mesmo prioridade de adolescente.
E é o preço da distância.
Nas horas em que ele me esquece, eu corro para o pai: Cris!!!! O menino sumiu. Ele prontamente me conta o que está acontecendo. E isso acalma meu coração de mãe. Durante este um ano e cinco meses que cá estou, as grandes novidades chegaram por fotos e vídeos. Por ligações de wapp. E eu acredito que embora não tenham a mesma força da presença física, foram importantes no processo de troca e interação que chamamos educação e amor. Houve um período em que Arthur estava sem consciência alguma do seu importante papel dentro da casa do pai, deixando tudo muito desorganizado. As constantes brigas e discussões foram queixas que ouvi de Arthur e também de Cris. Eles não se entendiam nesse ponto. Pedi a Paulo que os atendessem. Paguei seis sessões de terapia para Arthur. Paulo conversou e me garantiu que Arthur é um menino ótimo. Mas claro, é adolescente. Normal a bagunça. Mas o fez ver que ele é parte de uma engrenagem chamada lar. Precisa contribuir mais. E que ser grande e ter independência tem contrapartidas. Mas Paulo percebeu que também precisava conversar com o pai do menino. Lá foi Cris também para uma sessão. E Cris me contou que Paulo o fez perceber o quanto ele era militar em casa e com seu filho. Assim, eu, daqui, estava atenta e participativa.
Isso diminui minha sensação de culpa de estar longe. Mas eu sei que ele está com quem o ama tanto quanto eu. E ele sabe que estou aqui por mim e por ele. Meu futuro melhor garante a ele também um futuro melhor.
Arthur veio à Braga em 2016. Passou 47 dias comigo. Foi ótimo.



 Agora chegará em meados de dezembro. Já estamos a programar sua estadia.
Gostou muito daqui. E talvez essas viagens sejam a contrapartida da minha distância. Vir sozinho para a Europa. Passou por Madri. Agora virá por Lisboa...
Cresce este menino. Cresce esta mãe.  Viver é crescer.

Nenhum comentário: