A forma como as ideias e as informações circulam nas
comunidades hackers no desenvolvimento
dos Softwares Livres nos proporciona repensar a maneira como lidamos com o
conhecimento. Hackers são os programadores entusiastas, que atuam de forma
colaborativa. A mídia confunde hackers com
crackers (do verbo quebrar), que são programadores que invadem sistemas
e atuam de forma ilícita.
O compartilhamento hacker não é uma novidade dos últimos quinze anos, quando a internet se tornou tão popular. Há cerca de duas décadas e meia, o
finlandês Linus Torvalds conseguiu terminar um projeto de final de curso, com a
ajuda de diversos hackers. O projeto deu origem a um dos sistemas de
gerenciamento de computadores mais utilizados no mundo inteiro (LINUX).
Os softwares livres são programas desenvolvidos em código
aberto, isso significa que todos os programadores tem acesso às combinações binárias
que deram origem a ele. Quando criados, os códigos são logo jogados na rede,
nas comunidades, e os hackers
transcrevem em diversas línguas um manual do software, testam, relatam
os problemas (os bugs) e, ao descreverem suas dúvidas e acertos, colaboram para
que tudo se resolva rapidamente e se aperfeiçoe cada vez mais. São dezenas, às
vezes centenas de mentes, numa comunidade hacker, voltados para um mesmo fim:
aperfeiçoamento e aprendizagem.
Nestas comunidades, o produto nunca está finalizado, sempre
é passível de ajustes e por este motivo, um software livre tem atualizações
muito mais constantes do que os programas que são de propriedade de empresas,
chamados softwares proprietários. O GNU Linux, por exemplo, tem mais de mil
adaptações específicas, direcionadas para áreas de educação, comércio,
serviços, etc.
Muitos pesquisadores, principalmente da área de educação,
estão atentos a este exemplo de colaboração e aprendizagem e não duvidam que a
metodologia das comunidades hackers pode ser levada para outras áreas. Nada nos
custa repassar o que sabemos, que é nos é valioso porque conseguimos solucionar
problemas, mas que não nos onera de forma alguma ao dividi-lo. Por muito tempo
a ideia de uma sociedade que compartilha conhecimento de forma gratuita,
gerando melhoria de vida para todos, esteve associada às comunidades
alternativas. O capitalismo, com sua busca exagerada pelo lucro, nos deixou
insensíveis às trocas de informações apenas pelo prazer de ajudar o outro e com
isso possibilitar a melhoria da sociedade como um todo.
E é fácil listar uma série de conhecimentos que, se
compartilhados, todos ganhariam.
As tecnologias sociais, direcionadas para melhor produção de
um determinado alimento, difusão de um conhecimento que facilita um serviço,
que agiliza um processo, ganharia muito com a metodologia hacker.
Disponibilizada a informação, imagine quantas pequenas associações, que não
podem pagar por uma consultoria, seriam beneficiadas? pequenos produtores da agricultura familiar,
que as vezes por falta de agregar conhecimento, permanecem com um determinado
problema por anos, quando outros já dominam a solução. É preciso compartilhar
conhecimento. Exemplos bem sucedidos no ensino aprendizagem deveriam existir em
um banco de metodologias aplicáveis, já testadas e aprovadas. Se todos
compartilhassem seus acertos, tirassem dúvidas em redes, prontas para ajudar,
daríamos passos largos, economizaríamos esforços e tempo e soluções mais
viáveis seriam encontradas facilmente.
A internet hoje pode concentrar um sem número de bancos de
informações, de acesso fácil e rápido, tanto para grupos postarem seus acertos
quanto suas dúvidas.
Os exemplos das comunidades hackers deveriam virar modelo
para tantas outras comunidades, assim além de democratizar as informações,
faríamos muito mais produtos testados e aprovados por quem realmente precisa
deles.
Esse acesso a informação rápida e democratizada é a base
para uma sociedade em rede justa e igualitária. Equidade, Fraternidade, eficácia, tudojuntoemisturado!
Mas para isso a alfabetização e disseminação digital precisam
se tornar prioridade. E o uso do software livre, uma premissa básica. Fiz a disciplina de Professor Nelson Pretto em 2009 e ainda me espanta ver o quanto o mundo está distante de pensar de forma hackeniana.
Eu já faço desde 2010 avaliações colaborativas, usando o julgamento compartilhado como forma de dar uma nota nos trabalhos dos meus alunos e tem sido fantástica a experiência. Também tenho rede de blogs de fotografia, para com todos da sala, elogiamos e apontarmos melhoras nos processos de aprendizagem de composição em fotografia.
É isso! inteligência coletiva, colaboração, interação, novos conhecimentos compartilhados. E viva o mundo digital.