Meditações, impressões da vida, memórias revisitadas, crônicas fotográficas, muito blá blá blá... É só para deixar registrado o que penso do mundo (antes que eu morra e não conte, ou mostre, nada a ninguém).
terça-feira, 19 de junho de 2012
Aonde vejo Nira
Pouco mais de três meses que minha avó se foi. Ando pela casa... vejo Nira nos detalhes. Há paninhos bordados e pintados, na cozinha, no banheiro. Cada vez que ia visitá-la, ganhava algo, então são muitos, são lindos, lembram momentos.
Há a colcha de fuxico na minha cama, que vovó fez. Uma dentre as tantas que vi dona Alzenira fazer. Ela ficava horas fazendo os fuxiquinhos. Eu adorava ganhar alguns. E colocá-los em bolsas, biquines, detalhes de roupas.
Herdei uma cadeira de oração, que era da mãe dela, minha bisa Lavínia (Vó Tapuia). O assento levanta e pode-se ficar de joelhos no acolchoado abaixo, um segundo assento. De minha bisa, as lembranças são de uma senhora cega, que sempre nos recebia com carinho e pedia para que nos aproximasse. Passava as mãos pelo nosso rosto, pela nossa cabeça e pedia a quem estivesse na casa que servisse doces e pegasse 'alguns mil reis' para nos dar. E nos davam cruzeiros (a moeda vigente). E eu, menina de 7, 8, 9, 10 anos, achava que ela tinha parado no tempo. Ela desencarnou aos 91 anos.
Um dia eu disse a minha avó Nira que amava aquela cadeira. No ato, ela disse: 'leve!'. A cadeira está na ante-sala do meu quarto, em um cenário só dela. Eu amo mesmo é a lembrança de minha bisa passando a mão em mim e dizendo: 'que bonita essa menina de Aquilino' (meu pai).
Também herdei, mas desta vez depois do desencarne da vovó, a cantoneira que ficava entre a sala e a cozinha da casa de Nira, sempre com um porta-retrato em cima. Agora ela também reina em meu lar.
Vovó me disse, no dia em que me deu a cadeira de oração, depois de perguntar se eu queria mais alguma coisa:'leve quando eu me for, foi de sua tia-avó Alice' (tia Vivi). Tia Vivi era irmã da bisa. Uma senhora de olhos bem azuis, que me surpreendeu quando eu tinha uns 12 anos, porque ela acampou conosco. Na minha cabeça era uma surpresa, como a irmã de minha bisa podia acampar? Meu pai a levou para conhecer Itacaré, para dormir na barraca (que era imensa, com tres quartos) e tia Vivi adorou.
Assim, nas pequenas peças de mobiliário, tenho três senhoras que souberam envelhecer e que marcaram minha vida: Bisa, tia Vivi e Nira.
Com Nira, a relação era umbilical. Acho que nunca tinha ficado tanto tempo sem falar com ela. Já são mais de tres meses. Lembro sua voz rouca dizendo: 'Deus lhe abençõe, minha filha'.
E é nisso que penso, quando passo por tantos detalhes espalhados em casa...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário