terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nós superamos as barreiras

Hoje eu e minha mãe somos grandes amigas. Cúmplices. Íntimas. Confiamos uma na outra e contamos tudo o que nos vai na alma. Mas nem sempre foi assim. Por muito tempo ela foi a figura repressora. Só sabia me condenar quando eu revelava algo que não condizia com a maneira que ela achava correta, para uma mulher pensar ou fazer.
Foi assim quando eu decidi ir para Cuiabá, para estudar e também para viver um grande amor. Eu tinha dois empregos, tinha iniciado dois cursos de faculdades... como assim, ir para viver um grande amor? Eu não tinha 'juízo'? 
Ela nunca entendeu porque eu não queria casar. E ouvi por muitos anos o discurso da necessidade de ter filhos quando eu afirmava de que eu não teria. 
E ela se angustiava quando eu largava um bom emprego, 'só' porque não gostava do ambiente de trabalho??!! (larguei vários). 
E quando eu decidi ter um filho sem casar na igreja com o pai do bebê (que era moço honesto e queria casar na igreja e constituir uma família)... eu continuava 'sem juízo'. 
Como eu largo a vida de repórter para ser mãe no máximo de tempo que eu poderia? 

É, eu não era igual a ela. Não buscava estar nos padrões. E isso, de alguma maneira, era uma barreira. Ontem reclamei com ela a falta do toque durante a infância. Não lembro de abraços calorosos e brincadeiras de toque entre ela, eu e meus irmãos. Lembro que eu dormia no sofá, só esperando a hora de meu pai me pegar no colo e me levar para minha cama e me colocar embaixo dos lençóis com dengo e beijinho. 
Não lembro de nenhuma cena onde ela tenha feito isso. Era um beijo frio, o dela, em algumas poucas ocasiões. Ela diz que sempre me deu beijo quando saía e nos deixava em casa. Ou nas ocasiões especiais (aniversário, natal, etc.). Não ficou em minha memória esse beijo formal. 

Eu beijo Arthur toda hora, todo dia, acordo meu filhote com beijos no pescoço, no 'subaco', nas costas, nos pés. Rolo com ele, como se eu fosse aquela criança que fez pouco isso com sua própria mãe. 

Porque isso me lembra o pouco toque que tenho com ela. Ontem ela me contou que sua mãe não a beijava. Que ela sempre ficava esperando o beijo, e ele nunca vinha. Ficou frustrada diversas vezes por não ter com minha avó uma relação de toque. 

Ontem falamos também de como nossa relação foi mudando ao longo dos últimos anos. De como fomos nos tornando íntimas. De como ela se escandalizava comigo, mas de como também foi percebendo em mim o quanto eu era livre e do quanto fui vanguarda para ela. E que essa minha maneira de ser que tanto a deixava confusa, porque percebia que no final eu tinha feito a melhor escolha sempre, também a deixava livre para ela ser quem ela quissesse. Fiquei feliz dela perceber que não estou aqui para julgá-la, para condená-la. Ao contrário. Eu a quero feliz. 
 Acho que era isso que fazia com que eu e Áquila fóssemos tão amigos. Meu pai não me julgava. Ele me ouvia, analisava, aconselhava, mas em nenhum momento ele tinha uma palavra de condenação ou crítica. Por outro lado ela sempre foi uma guerreira. 
Meu pai não era um bom marido. Era chato, exigente, ciumento, não queria que ela trabalhasse nem estudasse. E com a bebida e o jogo, na minha adolescência, foi se tornando um homem frustrado e amargo, e trazia para o relacionamento deles essas frustrações. Ela voltou a estudar, começou a trabalhar, passou a sustentar a casa e nos prover com bens materiais, e ser nosso exemplo de superação. E se em minha cabeça de filha eu tinha essa mãe que me condenava, tinha também uma mulher exemplar, alguém para me espelhar, para ser meu ídolo, mulher forte e batalhadora. Talvez por isso nunca tenha desistido de ser amiga dela. E mesmo recebendo crítica eu contava pra ela o que me ia na alma, ainda que ela não entendesse. 
Disse a ela ontem que pra mim, ela evoluiu tanto. Quando vejo uma nova mulher que sai pra se divertir, arrumou namorado depois de 23 anos de solteirisse convicta. Que hoje se enfeita, se cuida e quase não se queixa de dores, doenças (antes era hipocondríaca). Hoje tenho uma mãe que me apoia em tudo e me vê apenas como uma mulher que tenta ser feliz. Que procura o bem estar dela, sem se preocupar com o que os outros vão achar, vejo-a parecida comigo. 
Quando já não me oferece apenas a palavra crítica e sim, o apoio e damos risada juntas de nossos equívocos, escolhas, caminhos... Fiz fotos dela. E pedi que risse, que se soltasse, que deixasse a menina aparecer. Que acordasse seu ser sensual, que viva intensamente... e vejo essa mulher linda, que admiro cada vez mais, que quero levar como exemplo para uma neta, se um dia tiver. E sinto essa alma amiga, que conquistei nesta reencarnação e que devo ter na família espiritual para todo o sempre... que assim seja!

2 comentários:

Bel disse...

Que lindo!!!
Minha experiência com minha mãe é parecida, conto aqui: http://www.deixoler.com/2011/08/sim-isso-quer-dizer-amor.html
E a gente que viveu tudo isso, tem mesmo é que repartir, pra fazer com que as outras que ainda não viveram esse tempo de paz, saibam que é possível!
Dê um beijo nela por mim!

Anônimo disse...

Alene, amiga querida! Marilene, mulher guerreira, bela e sensual!
Adorei o relato, amei as fotos e senti muito orgulho por conhece-las.
Abraco bem apertado e saudoso nas duas.
Rosangela