sábado, 27 de março de 2010

É lá onde moro...

Três anos e meio no Recôncavo e ainda há muito o que melhorar nas cidades onde a UFRB está instalada. Tenho visto colegas professores e técnicos com dificuldade de alugar casa, preços lá em cima, serviços complicados... Dia desses, eu e Geo, redator da Ascom, fizemos um texto sobre essa situação. Sabe-se que os empresários e os governos municipais estão agindo para melhorar as cidades, mas algumas coisas são urgentes. A galera que vem trabalhar ou estudar tá gerando demandas por serviços e bens imprescindíveis: moradia, alimentação, transporte, lazer, saneamento, saúde, etc.; é preciso uma estrutura que dê assistência à essa população que chega. A comunidade acadêmica da UFRB, nas quatro cidades onde ela está sediada já somam quase seis mil pessoas entre professores, estudantes e técnico-administrativos.E tem três concursos abertos, é mole? Em Cruz das Almas, essa demanda pelos serviços da cidade aumenta ainda mais, pois somam-se à comunidade UFRB, a comunidade de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os empregados da Danco Comércio e Indústria de Fumo, e a Fábrica de Calçados Bibi. 
 Dos problemas enfrentados por quem chega, estão: lidar com o mercado imobiliário, transporte e saúde. A procura por moradia é muito grande, o que fez os preços dos aluguéis subirem vertiginosamente. 
Os próprios moradores da cidade vêem os preços dispararem e se sentem prejudicados. Mas o problema se agrava ainda mais com os estudantes, que acabam sem condições de permanecer nas cidades. Outra queixa é o transporte entre as cidades e dentro delas. Acho que eu não daria conta se não tivesse carro, para estar nos lugares que preciso. 
Tentei usar o ônibus e a van para ir de Cruz para Cachoeira e os horários complicados, mas a estratégia de parar a cada um km para pegar gente no caminho, foi inviável. 
E no centro da cidade? meu filhote não tem como fazer nenhuma atividade extra escolar se eu não puder levar. 
Tá, vamos sair do meu mundinho? Um exemplo claro: na cidade de Cruz, a sede do Campus da UFRB está a quase quatro quilômetros do centro da cidade. Há demanda certa, pois estudantes e muitos funcionários não têm veículo, mas não há um único transporte público que ligue esses dois pontos. 
As vans só circulam da entrada da cidade até o centro. Os bairros periféricos não têm transporte regular. A comunidade acadêmica tem que andar ou pegar moto-táxi. As empresas Viação Santana e RD não perceberam ainda a demanda pelo serviço e oferecem poucos horários entre as cidades. E os problemas de atendimento hospitalar e clínico? muitos. Faltam médicos de diversas especialidades e para fazer alguns exames importantes a gente acaba indo a Salvador ou Feira de Santana. 
Eu até mudei meu plano, saí da UNIMED e fui pra MEDIAL para ter mais opções e ainda assim, tenho que sair da cidade, pois não tem um Eco com dopler, ou outros exames bem mais simples. E numa emergência, como já tive com Arthur, tem que rezar porque não tem clínica aberta à noite. 
 Outra queixa está no comércio. Quem trabalha até as 18h não consegue achar mais nada aberto e tem muita loja que fecha para o almoço... A cidade tem um único posto do correio, inviável a qualquer hora. E caixa eletrônico do Banco do Brasil funcionando em dias de pagamento de salário e aposentadoria é um milagre. 
 É preciso que os empresários e os gestores percebam, a universidade traz progresso para todos, mas eles precisam responder a essas demandas. E a UFRB, em contrapartidade, deve sugerir seminários e debates sobre tudo isso e convidar as empresas de transporte, os gestores para uma análise dessa realidade.

sábado, 20 de março de 2010

Talento dos mestres

Ontem fui ao Centro Cultural da Caixa, na Carlos Gomes. Numa sala para 80 pessoas, com a acústica maravilhosa, assisti a um concerto de João Carlos Assis Brasil. Aos 64 anos, o pianista tem nos dedos a velocidade da eterna juventude dos mestres, uma criatividade para improvisar e o talento para impressionar os simples mortais, que, como eu, só podem apreciar um instrumento, por total falta de intimidade com as cordas, teclas ou mesmo, o couro dos pandeiros. Não toco nada e por isso talvez, me emociona tanto ver alguém dominar tão bem um aparato musical: pode ser até um triângulo, se bem tocado, faz uma diferença... 
Assis Brasil tocou tributos a diversos autores, entre eles Tom Jobim, Ernesto Nazareth, Cartola..., improvisou um 'pout pourri' de clássicos do cinema, brincou com três notas que a platéia sugeriu e nos brindou com o hino do Senhor do Bomfim, dizendo que adora tocar em Salvador. 
Batemos palmas três vezes e ele voltou nas três. Por fim, disse que estava cansado, mas ainda tocou 'fascinação'. É um mestre que realmente fascina. 
Eu, que moro no interior durante a semana, só soube do concerto porque um amigo que adora eventos assim, soube e me avisou. Mas quem não tem grana para viajar e mora no interior, talvez viva uma vida e nunca veja um talento desses de perto. 
 Temos fome de cultura e que ironia, o ingresso foi um kilo de alimento. Hoje e amanhã ele repete a dose, sempre às 20hs. Mas é preciso garantir o ingresso horas antes. Eu acho que fomentar a cultura, dessa forma, fosse talvez a melhor política social para o Brasil. Não tem como sair de um espetáculo desse e não achar que o humano é um ser potencialmente divino sobre a face da terra.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pedaço de mim completou sua primeira fase de vida nesta reencarnação

Arthur está completando 7 anos amanhã. E parece que foi ontem, quando olhei pela primeira vez para um bebezinho magrelo (nasceu com 2,6kg), de olhos enormes, fome vorraz, que me cheirava como se fosse um animalzinho. Em segundos, pensei, tudo ao mesmo tempo: 'é lindo, sadio e esperto... é feio que dói, não tem nada meu!!!'
e depois senti um amor me tomando o peito, uma vontade de ser a melhor pessoa do mundo e de proteger aquela criaturinha indefesa e tão frágil.
O tempo passou rapidamente e ao mesmo tempo parece uma eternidade. O bebê
cresceu, já sabe se virar bem sozinho. Vejo Arthur escovando os dentes, ensaiando os banhos supervisionados, mas sozinho, indo ao banheiro e deixando de gritar: 'mãe, acabei!' e confesso, que alívio!
Ele já não fica de barriga vazia, porque sabe atacar a geladeira, já escolhe a roupa e sapatos que quer usar, seus perfumes e produtos de higiene e penteia o próprio cabelo.
E é um prazer enorme ver essa personalidade se definindo, ganhando suas nuances. Arthur tem bom humor quase sempre, é emotivo, sensível, carinhoso. Dengoso, como todo filho único... Mas justo, reconhece quando erra e sabe ficar de castigo, numa boa, quando sabe que errou. 
Tem admiração pelos seus amigos, primos e colegas da Van escolar, e se briga, se desentende com algum deles, resolve por lá... já me conta como tudo foi resolvido. Independência é o nome da nova fase.
Dizem os escritos espíritas que aos sete anos completamos o período adaptativo do espírito na nova reencarnação. Dizem os psicólogos que aos sete, completamos a maior parte das características da nossa personalidade.


Sabe? sinto um orgulho daqueles, ao ver que pedaço de mim está em passos largos por um caminho tranquilo. Agradeço a Deus a inspiração para todas as decisões acertadas e peço ainda mais paciência para a transpiração que se inicia nesta fase de segunda infância, que só termina na aborrescência.

sábado, 6 de março de 2010

Descobrindo o meu quintal


Tenho viajado para longe, mas também para perto. Já marquei uma ida à Chapada Diamantina: Na páscoa descobrirei uma das riquezas da Bahia. Mas hoje, "eu vim de Ilha de Maré, minha senhora"...
Ilha de Maré é uma das 56 ilhas que compõem a Baía de Todos os Santos. Andamos tanto, atravessamos mais da metade da ilha a pé. Caminhada das 9:30h até as 15hs, com apenas três paradinhas de 10 minutos. Quase morri. O joelho tá pedindo arrego, porque fiz descalça... haja impacto. Começamos pelo povoado de Botelho, passamos por Praia Grande, Passa Cavalo e Itamoabo. A turma toda, cerca de 20 pessoas, teve que vencer alguns obstáculos, porque havia chovido e tava tudo muito escorregadio.
No meio disso tudo, muito mangue para atravessar, atolar a alma e as unhas feitas, escorregar, se divertir, e descobrir um verdadeiro berçario de carangueijos. Foi interessante, pois nunca tinha atolado a alma no mangue (atolar a alma é sentir uma massagem maravilhosa nos pés com a textura da lama).
Eu e meu amigo Maurício curtimos muito essa parte, enquanto a mulherada se queixava do medo de ganhar uma pegada de boca de carangueijo.

Vi gente muito linda pelo caminho: meninos descalços e risonhos, brincando com conchinhas, senhoras a lavar toda a  roupa da família, senhores a tecer seus artefatos para a pesca, jovens no futebol na beira da praia...




Também vi lixo em todo canto, ouvi arrocha e achei muita coisa globalizada, a começar pelo tanto de parabólicas. E lá, numa casinha no meio do nada, a Beyoncè se fazia ouvir... coisas de lugarejos na era da globalização.
Mas a praia é um encanto à parte, agua morna, calma, deliciosa.
E no final do passeio, a natureza se rebelou. Fechou numa tempestade. linda, mas perigosa.