quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quando o virtual vira abraço

'Sabe? eu tinha medo de morrer e nunca ver seus olhos...'. Escrevi isso há pouco, num mail, para um amigo com quem me correspondo há 14 anos.
Era início de 1997, eu fazia parte de um Fórum de Fotógrafos (Foto-BR), e me correspondia com fotógrafos de todo o Brasil e de algumas partes do mundo.
Depois migramos para a Photosynt, e nesse meio tempo, eu e Ro escrevemos 'Fotojornalismo: história, técnica e arte'.
Fui cuidar da vida, virei repórter de TV e nos onze anos seguintes continuei escrevendo para muitos dos amigos da lista. Nesse meio tempo, conheci pessoalmente muitos deles, nas maravilhosas reuniões na casa do Flávio e da Annie (que saudade! Evandro, Rogério, André, Marcos, Thiago, Arthur Max... papo muito bom, onde fotografia, vinho, vida eram assuntos da hora), vi Tibico duas vezes (uma em Feira de Santana e outra em Itabuna), e muitos outros nesta estrada da vida. Mas uma pessoa em especial, eu não tinha tido oportunidade de conhecer. Até nos falamos pelo telefone, mas nada de olho no olho.


Uma amiga viajou, foi a Buenos Aires. Eu queria que ela me contasse depois como era o meu amigo. Ela o encontrou. Levou-lhe uma lembrança, me trouxe presentes dele (edições maravilhosas da Fotomundo). E quando ela chegou ficamos conversando e ela me falava de um homem muito inteligente, um verdadeiro cavalheiro.

Isso eu já sabia. Quando nos conhecemos, foram tão intensas nossas conversas, todas por email. A internet era uma novidade e eu estava descobrindo a força da palavra, muito mais atraente que corpo, voz, química de pele. Era possível gostar de uma pessoa de forma virtual. E eu nunca esqueci o quanto os seus mails me fizeram bem.
Eu estava me separando de um namoro longo. Estava mudando de cidade, deixando emprego seguro, deixando minha vida inteira e ele me mostrava, em seus mails, o quanto eu deveria acreditar em mim.

Vida que segue, toma rumos diferentes. E nós nunca perdemos o contato. As vezes se passavam meses sem uma palavra, e depois eram vários mails de vez, como desabafos... eu soube quando seus romances acabavam, quando ele quase teve um infarto (pré-infartou), quando saia de barco em vacaciones, quando vieram as crises na Argentina, quando fez 50 anos e ficou um pouco deprimido...
e ele sabia quando eu estava em nova etapa da vida, quando engravidei, quando Arthur nasceu, quando me separei de Cris, quando fiz mestrado, quando abandonei a TV e comecei a lecionar audiovisual e fotografia. Amado Bec. Becquer Casaballe de minhas recordações, sem nunca ter visto seus olhos.
E foi assim, anos e anos de mails. Sempre em mensagem do tipo 'feliz ano novo', um emaranhado de planos, de sonhos. E foi assim este ano. Até que me bateu um estalo.
Em 2008 estive no Peru, em 2009 em Cuba.
Este ano eu já planejava caminhar mais um pouco pela América Latina, porque não Montevideo e Buenos Aires? E porque não, já? Esperamos tanto por um longo abraço...
E aí, no mail de ano novo, contei a ele: vamos nos ver.
Finalmente vou conhecer a cor dos seus olhos e ouvir sua risada. Ah, meu amigo virtual, passarás da bi para a tridimensionalidade e eu, confesso, agradeço ao universo a realização desse abraço.
Ele vai acontecer no próximo 08 de fevereiro...

> Lo que me pasa es algo tan dificil de poner en palabras: durante tantos años nos hemos estado escribiendo, contándonos nuestras cosas, pasando diferentes situaciones en la vida que ahora, que todo eso toma una forma corpórea, con sus sonidos y voces, lo que hace mucho más complejo, profundo y trascendente, que me provoca tantas sensaciones nuevas.  Amado Becquer Casaballe

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