Defendi a Tese em plena pandemia. No dia 12 de janeiro de 2021.
Agora é oficial, finalizei os estudos formais: doctorem habemus. E na área que amo, que escolhi e no tema que me apaixonei.
A defesa em si exigiu-me apenas que recordasse do que estudei, do que aprendi, do que consegui pensar acerca do tema. Como entreguei a tese em julho e a defesa foi em janeiro, sim, precisei recordar um pouco. Após a minha apresentação de 20 minutos, tempo que parece tão pequeno para falar de um trabalho desenvolvido em quatro anos, foi a vez de ouvir as considerações dos membros da banca e responder as arguições. A minha banca foi generosa, foi fraterna, foi atenciosa.
A banca para as provas de avaliação da minha tese foi composta por:
Durante as avaliações, os seis professores presentearam-me com palavras tão bonitas nas suas considerações, de valorização do tema, dos resultados, da importância da pesquisa, de todo o rigor científico. Claro que apontaram detalhes de como alguns autores poderiam ter sido melhor explorados, também sugeriram que eu poderia ter estudado outras personagens além do Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, ou ainda sugeriram uma ferramenta metodológica a mais na avaliação das imagens. Mas não discordaram de nada, foi sempre na sugestão do que poderia estar melhor, pois nada é perfeito e na ciência, é bom que nunca o seja.
Ouvi-los foi um momento único! A nota máxima pareceu-me um troféu de copa do mundo. Eu, nas disciplinas que cursei na UM, nunca consegui tirar a nota máxima em nenhuma tarefa. Nem eu, nem nenhum dos meus colegas. Daí eu sabia que era algo para verdadeiramente acreditar que o trabalho estava bom e que a defesa foi bem feita.
No dia seguinte a minha co-orientadora escreveu-me:
"Não imagina a alegria que me deu ontem o modo como correu a sua prova. A Alene esteve mesmo bem e o resultado foi bem merecido."
Nesta foto está a Professora Madalena com o seu sorriso lindo, a Valéria Castanho e a Cristiane Venâncio, as duas amigas que esse doutoramento me permitiu ter e que eu espero conservar para sempre.
Eu já falei da ligação espiritual com a minha orientação, com a minha co-orientadora, mas volto a recordar aqui...
Preciso também agradecer aos amigos que lá estiveram e por insistência deles, pois eu, nesse processo de bipolaridade emocional, não convidei as pessoas. Eu estava a me sentir absolutamente sem vontade de exposição.
Mas foi mesmo uma alegria vê-los na platéia, todos a demonstrarem muito carinho:
A Tereza, o Enrickson.Meu filhote Arthur, que também ficou atento a cada etapa da defesa, inserido na sala, a ouvir tudo o que era dito pelos professores, além de estar ao meu lado.
Marcus, meu amigo que, tenho certeza, vibrou em energias positivas pois é uma pessoa que medita e sempre em boa vibe.
E Abílio, meu colega de turma que foi quem trabalhou com um tema com proximidade ao meu tema e, sem dúvida, foi a pessoa que mais me possibilitou acesso a livros, artigos, material fisico ou digital, na tarefa de revisão de literatura. Minha enorme gratidão ao Abílio.
Também agradeço às pessoas que não conheço pessoalmente e que assistiram, pois o link estava exposto na página do ICS/UMinho.
Até tive um bonito retorno da Marina Polo, que fez questão de encontrar-me pelo facebook, e dizer-me que gostou do tema e do clima alegre e leve da defesa.
Realmente, o fim da defesa foi uma comemoração virtual. Rimos, falamos abobrinhas, descontraímos.
Entretanto, cumprida a tarefa e o objetivo alcançado, eu preciso falar da enorme montanha que eu me senti a subir neste doutorado. De todo o esforço que ele exigiu. Vou devagar. Segue o fio...
Fazer um doutorado é como cozinhar o juízo, como colocar os miolos do cérebro para funcionar na carga máxima. É algo muito solitário, mesmo com ótimos orientadores, como foi o meu caso.
Explico porque é cozinhar o juízo: é que num primeiro momento estamos empenhados em coletar dados, em ter conteúdo para analisar, em rever metodologias e assim vamos reunindo dados em forma de números, imagens, textos, entrevistas...
Foi o que fiz durante quase três anos. Reuni autores, citações, fichamentos, imagens (1.590), foram nove entrevistas e decidi trabalhar com seis delas. E eu me senti afogando num mar de material.
Foi tanto, tanto para analisar e fazer processos de indução, dedução e abdução, que eu parecia não ser capaz de dar conta. E eu, por ansiedade, fiquei paralisada no terceiro ano do doutorado. Eu começava algo e parecia que nunca teria fim.
A ansiedade me levou a um estado deplorável. Eu acabei em processo que exigiu intervenção médica, psiquiatria, psicologia e todos me deram a mesma resposta: medo de não conseguir. Medo de errar. Medo de produzir algo confuso. Medo de não terminar o doutorado. E o ciclo de medo provocou uma bola de neve que saiu da mente, do emocional e tomou o corpo. Somatizou.
Eu fiquei sem vontade de sair de casa, sem vontade de interagir com outras pessoas. Todas as vezes que alguém perguntava: como está a tese? como está o doutorado? eu confesso: eu queria xingar!
Terminei um relacionamento afetivo sem nenhum motivo (e peço desculpas públicas ao Hadi). Penso que ele não percebeu nada, pois era um namoro bonito, uma relação respeitosa, cheia de amizade, fazíamos tantas coisas legais nos finais de semana e eu, sem motivos, do nada, do nada, eu quis apenas ficar longe dele. Mas não era só dele. Eu quis ficar distante de todos e de tudo.
E não importa se as pessoas estão apenas sendo delicadas, se estão mesmo preocupadas conosco, se estão de alguma forma a dizer que se importam... se perguntam sobre a tese, soa sempre como cobrança. Autocobrança.
Também parei de querer encontrar os amigos, parei de querer ir até na UMinho e principalmente lá. Toda hora que ia lá e encontrava um conhecido, a pergunta de sempre: e a tese?????
A biblioteca da UMinho parecia me engolir. A cada hora eu encontrava um autor novo. Já tinha mais de 200 páginas escritas com citações e minhas interpretações acerca delas e eu ainda tinha uns 30 livros na fila para terminar a leitura.
Engraçado como a banca sempre sugere novos autores... eu penso que o meu tema, sem mudar nada, com tudo igual, até as mesmas fontes e material coletado, cabem mais uns dois doutorados.
Neste processo de cozinhar meu juízo, eu me perguntava a toda hora: qual a hora de parar de procurar novos autores? qual a hora de ignorar novos artigos? E se alguém escrever algo que eu penso ser uma conclusão da tese a discordar do que penso? e se alguém estudar algum dos processos evolutivos da parte tecnológica ou editorial que eu estou estudando e disser algo novo e relevante?
E eu me sentia afogando cada vez mais.
O que eu não compreendia era que os meus resultados não eram o mais importante. O processo de amadurecer a pesquisadora, o processo de amadurecer a investigadora, o processo de certeza ética e metodológica era o mais importante.
Doutorado, por melhor que se explique o que é, ainda é algo confuso. Mas para mim, o que ficou claro é: nasceu alguém sem certeza de nada, nem mesmo dos resultados, mas com a certeza de ter sido ética, de ter tido rigor científico, de ter tentado analisar os dados com imparcialidade e de ter tentado oferecer respostas às dúvidas que a hipótese levantava.
Das certezas que eu tenho agora: eu sofri, amadureci, vibrei, descobri, analisei, criei, evolui. E nada é para sempre certo ou é certo para todos.
Alguém vai sempre contradizer o meu resultado.
Eu vou sempre aprender algo e sem saber se o que aprendi servirá para outrem que não apenas para mim.
E a maior das certezas, o doutorado foi a maior montanha que eu subi. Estava sozinha, quase caí. Mas finquei a bandeira lá no pico da minha maturidade emocional, muito mais do que da minha maturidade acadêmica. Pois quase enlouqueci.
Agora é descer, humildemente arrastando a bunda no chão, para não cair de vez, nesse palco egoíco que é o mundo acadêmico.
Feita a defesa, preciso confessar que a espiritualidade amiga esteve sempre comigo, principalmente nos momentos em que eu pensava em desistir e nos quais eu me achava pequena demais para a tarefa monstruosa de analisar tanta coisa. Alguns dirão que era meu inconsciente... só hipóteses.
Eu sei que ficou muito ainda por analisar e quando o diploma sair, já reconhecido em solo brasileiro, tenho que escrever artigos. Mas agora eu só sinto um cansaço, uma preguiça acadêmica.
Sem contar que adoeci depois. Foram três dias de cama, só não achei que era covid por causa de dores de pescoço, ombro e braço, nada de febre ou tosse.
A pergunta que martela meu juízo agora: será que ainda quero estudar algo novo????