quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Tejo meu doce tejo

Eu morava em Mato Grosso do Sul quando fui apresentada à Banda Madredeus. Era o ano de 1996. O meu co-orientador de TCC de graduação, Hélio Godoy, deu-me um CD  no meu aniversário. A banda era muito famosa na época e eu ficava horas a ouvir. E muitas das canções falavam de Lisboa e do Tejo.

Aprendi a gostar deste rio cheio de memória e de história, mas nunca pensei que eu navegaria um dia nele, ou mesmo o conheceria, o Rio do Fado.
Até que um dia, após decidir que iria estudar o doutorado fora da Bahia, em 2015, sonhei (na verdade foi projeção astral, porque era muito real) com uma mulher, de rosto redondo, aparentava uns 60 anos, pelos poucos fios de cabelos brancos e rugas, um olhar bondoso, e de fundo, no sonho, eu escutava "Tejo meu doce Tejo"...

Ela olhou-me com muito carinho e ouvi o sotaque típico português: "vais voltar para donde já viveste um dia".
Sem necessitar de explicação, eu entendi mentalmente que ela referia-se a um doutorado em Portugal. E eu pensava (no sonho, mas não verbalizei), a minha preocupação com um orientador, já que na Bahia, as quatro vezes que fiz uma disciplina como aluno especial para tentar ter carta de compromisso de orientador, eu fui bem sucedida na disciplina e mal sucedida em obter a carta.
Daí, mesmo sem eu perguntar, ela disse-me: "não tenhas preocupações, será a melhor orientação de todas, estarás em boas mãos".
Acordei aos poucos, lembrando-me dos detalhes do rosto redondinho, os cabelos curtos, a voz firme mas serena. E o olhar doce.
Nos dias que se seguiram, pesquisei 3 universidades, encontrei 3 cursos com linhas que senti afinidade. Fiz seleção, passei em todas mas acabei por escolher a UMinho, em função da ênfase na semiótica social e por ter lido um texto de 3 autores, entre eles Martins e Oliveira. Fui pesquisar Martins e vi muitos outros textos de Professor Moisés Lemos Martins, que embora não seja o meu orientador, é o capitão dessa minha travessia.

Fui conhecer o Tejo ao fim de 3 meses cá. Apaixonei-me.
Ao fim do primeiro semestre, após finalizar as disciplinas com ótimas notas, lá estava na hora de apontar 3 nomes de possíveis orientadores. Coloquei o nome de doi professores com afinidades tecnológicas e de uma professora que tinha um nome que gosto muito, pois a minha mãe, avó e bisavó tinham o sobrenome dela: Madalena. 
Ok, a Comissão do doutoramento que escolhe. Escolheram um dos professores e a ela. O primeiro encontro entre eu e ela, fui recebida em sua sala com atenção, emprestou-me 5 livros, dois deles autografados pelo autor, conversamos muito. Ela é absolutamente maravilhosa comigo. E quando lembro da mulher do meu sonho, é como se eu visse a minha orientadora daqui a uns 20 anos. Puro mistério. Mas mistério benevolente, um presente do universo.


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