segunda-feira, 12 de junho de 2017

Os amores inventados

Hoje é o dia dos namorados no Brasil. Meu primeiro dia sem namorado em cinco anos... Por isso, uma reflexão.
Há períodos que precisamos inventar um amor. Vivi um longo período assim. Andava triste, sem me apaixonar há um bom tempo, achava a vida tão sem graça. Mas então que conheci alguém interessante, cativante e bom de conversa, com uma energia de alegria que tinha muito a ver comigo. Ele se dizia carente de amor, que precisava também viver algo especial. E criamos um universo só nosso, capaz de nos enganarmos de tal forma que nos vimos apaixonados. Por causa desse amor eu fiz uma revisão na forma de lidar com filho, com família, com trabalho, com dinheiro. Aprendi com ele a ser mais voltada para mim e para nós.

E foi muito interessante mudar. Vivi experiências diferentes do dia a dia, apenas por enxergar o mundo do outro, como nunca tinha feito antes.

Mas a minha forma de amar incluía fidelidade e a dele, não. Incluía sonhos conjuntos, e a dele, não.
Eu percebia as distorções, mas estava tão crente no universo criado que meu ego se fortaleceu a tal ponto,  que eu me imaginei poderosa a ponto de mudar o outro, de torná-lo fiel ao que eu acreditava.

Não enxerguei as falhas de roteiro, os dramas desnecessários, não enxerguei as mentiras. Penso que eu me iludi na ideia maravilhosa de viver, em vida terrena, o mito da alma gêmea.

Demorei a ver em que peça havia me enfiado, com um papel distorcido. Era um amor inventado por mim e mantido pelo outro, pelo papel cômodo em que ele se encontrava, de me enganar de forma tão perfeita, que se viu acomodado, acreditando que o cenário era bom para mim e para ele.

Mal sabe ele o quanto fez mal a nós dois. Virou uma relação intoxicante. Sempre com o mesmo desfecho. Eu descobria algo que significava traição, ficava com raiva, terminava, e lá na frente, cheio de desculpas, de juras, de promessas de mudança, ele voltava e eu acreditava em novo enredo. E os ciclos se repetiram. Em mais de cinco anos foram três separações e retornos. Uma delas levou horas. Outra levou alguns dias. A última vez levou dois meses. Em todas nós voltamos. E o ciclo se repetiu.

As vezes temos a sensação de que fracassamos quando um amor acaba. Ele dá certo por um tempo pequeno, quando acreditávamos que duraria uma vida. E com medo do nosso fracasso, ficamos a  manter algo que não é saudável.
Enfrentar o vazio que a perda produz é muito complicado. Na verdade, eu sentia que precisava me sacrificar, ou então eu perderia a oportunidade de construir a melhor história de amor da minha vida, mas percebi que meu sacrifício era, ao mesmo tempo, uma crueldade comigo.
Eu tinha que conviver com alguém que se acostumou a me machucar, que agia de forma duvidosa e no fundo, devia rir de mim todo o tempo, consciente de que nada nunca mudaria. Minha auto estima ficou gravemente abalada.
Mas além de um sofrimento real, percebi que eu havia inventado um amor para meu ego. Este amor, que não era amor de verdade, fez-me perceber que sou capaz de amar muito, de fazer concessões, de rever minhas atitudes equivocadas. Foi uma história que me fez crescer como pessoa, que me fez perceber rotas de fuga improdutivas e rotas extremamente produtivas, que me fez rever minha postura com relação à minha vida profissional e espiritual. Ele me fez melhor em diversos aspectos e isso eu o agradeço muito.

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