Fernando Pessoa
Convivendo de perto com a dor, a dor do outro, a dor de quem amamos, faço reflexões todo o tempo. A maior delas: como a dor é individual, subjetiva e oscilante. Por mais solidária que eu tente ser, não tenho como sentir a dor do outro. Nem o outro, sentir a minha. E como eu me resigno diante da dor inevitável, quando sei que ela faz parte do processo, eu não entendo como o outro blasfema e mal diz a dor, sabendo que ela é uma dose mínima do milagre da vida.
Mas compreendo.
Se a dor é de cada um, e sente quem a tem, como eu, saudável, posso experimentar, por menor que seja, a sensação da dor lancinante de quem teve o peito aberto?
Quando a dor oscila, e entra momentos de riso, penso que a dor se foi. No quanto a vida simplifica sem dor. E ela volta, de forma até maior que os primeiros dias do pós operatório, e penso como a cura, em alguns casos, é um processo cruel.
Esquecer uma dor física é tão bom. E o retorno dela, ainda mais forte, traz uma sensação de que algo errado está ocorrendo no organismo. Será que há algo inflamado? será que algum ponto interno se rompeu? será que ficou algum equipamento cirúrgico ou produto hospitalar dentro do organismo? Não é para rir, mas a dor traz fantasmas enormes... inseguranças e neuras.
Enquanto isso, minha cabeça viaja nas mil reflexões diárias de quem, estando sem dor, só ora para que a dor do outro passe logo.
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