segunda-feira, 9 de julho de 2012

Off Flip... fui salva pelo circuito alternativo!

Tudo muito de última hora: arruma a mala aí, vamos ali, em Paraty, para a Festa Literária Internacional. Pouca bagagem, muita disposição e uma ansiedade enorme: será que conseguiríamos ingressos para as mesas maravilhosas da programação? Por internet não dava pra garantir mais nada. Vendas encerradas, apenas a possibilidade de tentar na fila, meia hora antes do início de cada mesa. Apesar da enorme tenda, onde aconteciam as mesas oficiais, foi frustrante saber que não tinha mesmo ingressos disponíveis. Apenas em uma delas foi possível. E maravilhosa!!! Com o autor espanhol Javier Cercas e o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez, sobre como a história real foi trabalhada em seus romances. Cercas falou sobre fatos que para ele são como pequenos delírios ficcionais coletivos, onde cada pessoa tem sua versão, e não se sabe ao certo o que houve, então o escritor ganha liberdade para romancear, mesmo em um assunto real (a tal liberdade poética). Eu ficaria mesmo na Tenda dos Autores, por sinal com decoração lindissima na área externa e no saguão)... Mas depois de tentar mais quatro vezes e nenhuma outra vaga, principalmente nas mesas que falavam sobre Carlos Drummond de Andrade, ou sobre fotografia e literatura, o jeito foi partir para outros circuitos. Na casa de cultura também haviam filas enormes de gente tentando ingressos de última hora e só conseguimos uma única mesa. A escritora inglesa Annalena McAfee, que foi jornalista cultural durante anos e criadora do suplemento literário do The Guardian's, falou sobre as mudanças de rotina desde que deixou o jornalismo e partiu para a literatura. O Paulo Roberto Pires, escritor, jornalista e editor da revista Serrote também estava na mesa e falou sobre os desafios de ser jornalista da área cultural e como não se pode ficar preso apenas aos releases enviados por assessorias. É preciso frequentar as livrarias e os circuitos alternativos, para descobrir novos bons autores. Sem Tenda e sem Casa, fomos para a cultura das ruas, e como o universo conspira e sempre existem os alternativos, nos deparamos com a OFF Flip, organizada por um coletivo de artistas (Silo Cultural), com apoio da Prefeitura, com cerca de 80 atividades paralelas à FLIP, em botecos, restaurantes, salas de cultura, livrarias, galerias de arte, mercado do peixe... Tudo de grátis, enquanto as mesas oficiais oscilavam entre R$40,00 e R$10,00. Na Off Flip tem palestras, recitais, bate-papos super legais com autores, exposições... Bom, vi um Sketch baseado numa entrevista imaginária com Drummond, onde o texto mesclava trechos de entrevistas reais com o poeta e declamações de alguns de seus poemas mais famosos. Vi o Antonio Campos, curador da Fliporto, que falou sobre o livro na era digital e um novo modelo de negócios para a cadeia do livro, com algumas novidades, pra mim, como o conceito do e-vook (e-book com vídeos pequenos, que dêem mais sabor à leitura), a necessidade dos novos autores, ainda sem editora, em colocar pílulas de seus textos em sites e blogs, que abram o apetite do leitor, para que este busque contato com o autor (que agora terá como tendência ser seu próprio editor e promotor), e o site pode ter uma plataforma para vendas diretas, o que achei uma auto-gestão interessante para o autor. Ainda na Casa dos Autores, vi o poeta Osório Couto falando de como escreveu o livro 'A mesa', sobre Drummond, e do contato que teve com contemporâneos do poeta em Itabira. Vi numa “Conversa de botequim”, perto do Cais, o escritor português José Luis Peixoto falando sobre suas obras, dentre elas “Livro”, seu último romance publicado no Brasil. Moço jovem, de vida simples e história ímpar, José me emocionou muito com seu jeito de pensar como nós, brasileiros, lidamos com os escritores. Para ele, a Flip é como um espaço mágico onde todos que escrevem viram seres especiais. Mas ele foi mais profundo, ao dizer que toda pessoa faz algo especial no mundo e deve ter boas histórias. E ser escritor é ofício como outro qualquer, quando percebemos que os escritores também dependem dos ofícios dos outros, dos ofícios que não dependem da palavra. E para fechar, Felipe Pena, professor da UFF, que denominou a FLIP de 'fashion week literária' e falou da importância do circuito alternativo nesse contexto. Ele falou sobre os estudos que vem fazendo sobre critérios que a mídia e a crítica usam para empoderar os 'melhores autores' e na contra-partida, como autores de talento nem sempre são 'descobertos' mas acabam encantando e ajudando a formar novos leitores. Na frase do Felipe: 'são autores que provocam no leitor o desejo de virar a página'. Encantador é ver professor com estudos assim!!!!E para fechar, o pré-lançamento do “Geração Subzero” _ uma coletânea de contos organizada por Felipe com 20 autores que ele considera muito bons. No boteco estavam cinco deles, que falaram sobre suas obras. A Flip, a Off, o tanto de informação que circula... penso que ir a um evento assim é uma aula pra vida inteira.

2 comentários:

wille disse...

Que bacana! Tenho vontade de participar da FLIP.

Anônimo disse...

É isso aí! Bem legal, Alene, a sua aventura literária em Paraty.
Gláuber.