Meditações, impressões da vida, memórias revisitadas, crônicas fotográficas, muito blá blá blá... É só para deixar registrado o que penso do mundo (antes que eu morra e não conte, ou mostre, nada a ninguém).
domingo, 29 de julho de 2012
A trilha que não trilhei...
Eu estava na maior expectativa para o offroad Costa do Dendê, em Taperoá: voltar a ver a galera das trilhas, sentir emoção à flor da pele, curtir paisagem de Mata Atlântica, enfim... E lá fomos nós, no vermelhinho TR4. E o início da aventura já me mostrou que seria legal: em comboio pegamos a estrada de Maragojipe a Nazaré e gostei do que vi. Paisagem de tirar o fôlego. Até o pneu furado no carro de Clayton não tirou nosso bom humor...
Dia seguinte, já em Taperoá, preparativos, pose para fotos, o Jipe de Jorge foi atração para todo mundo e não dava pra ficar sem pose nessa máquina de 1951!!!
Quando a organização foi fazer vistoria no carro da Aless e viu que estava sem pneus lameiros, desaconselhou nossa participação, porque a trilha é de lama muito densa. É lugar com mais de metro de lama, pra vencer pisando fundo!!!! Mas Jorge e Clayton deram a garantia que rebocariam caso o vermelhinho ficasse atolado. E lá fomos nós. Aless no volante, euzinha na fotografia, Thais de 'Zequinha' (co-piloto) e Moy, no batizado de aventuras automobilísticas radicais, como o elemento masculino daquele universo feminino.
Meia hora de uma trilha que duraria 10 horas e confesso que não estava preparada para o desafio da lama. Fui ficando cada vez mais temerosa porque os pneus lisos faziam o carro deslizar muito e por algumas vezes vi o veículo em que estávamos, passar muito perto de árvores. Atolamos duas vezes.
Fomos rebocados. Depois rodamos no meio da pista. E na saída de tanta lama, por conta de estarmos desavisados que Clayton estava encalhado _ estávamos sem rádio_ deslizamos e batemos... o carro de Clayton ganhou um sinal vermelho mas o TR4 tinha sofrido com a colisão.
Aí eu entreguei a toalha... queria sair do ringue!!!
Jorge desaconselhou Aless a prosseguir com o TR4. E eu sabia que as meninas queriam muito continuar a trilha. Então conversei com Moy e resolvemos sair da caravana (eram mais de 60 carros), salvando o vermelhinho de ficar hiper super encalhado. As meninas prosseguiram em outros carros.
Nove horas depois esse povo chegou, todo mundo com lama nos cabelos, roupa, mãos, uma coisa!
O Jipe de Jorge perdeu uma roda, ficou no meio da trilha (foi rebocado no dia seguinte), o carro do Renato pendeu pro lado, teve gente que deu meia noite e ainda estava no meio do caminho...
E eu? eu só tinha uma história pra contar: eu dirigi o vermelhinho até a praia de Pratigi, ele tomado de lama ainda e por onde passávamos, o povo me olhava como se eu tivesse sido capaz de ter controlado aquela máquina em um offroad!!! o final do meu dia só teve emoção de turista: comi peixinho na beira do mar e fiquei de papo com Moy, curtindo as paisagens da região.
Se fiquei triste por não ter feito a trilha completa? acho que se o carro da Aless estivesse com os tais pneus e com rádio, eu teria chegado ao final da aventura! mas do jeito que estávamos, não, não fiquei triste, fiquei aliviada de sair... eu gosto muito desse carrinho da Aless, ele é senhor companheiro de aventuras. E ter salvo o vermelhinho me encheu de alegria em ter optado por desistir...
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Cultivando um leitor
Hoje foi um dia especial para filhote. Ele conheceu um dos seus autores preferidos, o Antonio Cedraz, da 'Turma do Xaxado'.
Mariana deu um livro autografado do Cedraz, dedicado a Arthur, quando ele tinha seis anos, e ele se encantou.
Na sexta, sabendo que a escola iria trazer o autor para apresentar sua obra, ele logo tratou de me pedir dinheiro para comprar três outros livros dele e de pegar os seus antigos, para mostrar ao escritor como estão usados, lidos e relidos.
Arthur ganhou seu primeiro livro ainda bebê, um desses livros de plástico, acolchoados, que ia até para a banheira.
Adorava. Aospoucos foi se encantando com aqueles objetos que faziam viajar, seja pelos desenhos ou pelas histórias. Começou a ler no início dos 5 anos e desde aquele período desenvolveu um 'cocô intelectual', onde só vai ao banheiro acompanhado e se não ficarmos atentos, o tempo do vaso sanitário dura todo o livro.
Tem a coleção do 'Diário do Banana', os 'Quadrões' do Maurício de Souza, alguns livros de história de pintores (ele adora história da arte), livros sobre invenções, fábulas, Bíblia ilustrada (que comprei em um sebo e é editada em Lisboa), tem gibis e a sorte de ser primo de Luís Augusto Gouveia, autor da maravilhosa série 'Fala Menino', que deu a ele também alguns exemplares autografados.
Vejo em meu pequeno o melhor dos hábitos, cultivado com dedicação e encanto. Não sei se ele vai gostar um dia do que eu gosto de ler, mas ficarei feliz se, ao desencarnar, meu filho souber o que fazer com meus livros...
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Off Flip... fui salva pelo circuito alternativo!
Tudo muito de última hora: arruma a mala aí, vamos ali, em Paraty, para a Festa Literária Internacional.
Pouca bagagem, muita disposição e uma ansiedade enorme: será que conseguiríamos ingressos para as mesas maravilhosas da programação? Por internet não dava pra garantir mais nada. Vendas encerradas, apenas a possibilidade de tentar na fila, meia hora antes do início de cada mesa. Apesar da enorme tenda, onde aconteciam as mesas oficiais, foi frustrante saber que não tinha mesmo ingressos disponíveis. Apenas em uma delas foi possível. E maravilhosa!!!
Com o autor espanhol Javier Cercas e o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez, sobre como a história real foi trabalhada em seus romances. Cercas falou sobre fatos que para ele são como pequenos delírios ficcionais coletivos, onde cada pessoa tem sua versão, e não se sabe ao certo o que houve, então o escritor ganha liberdade para romancear, mesmo em um assunto real (a tal liberdade poética).
Eu ficaria mesmo na Tenda dos Autores, por sinal com decoração lindissima na área externa e no saguão)...
Mas depois de tentar mais quatro vezes e nenhuma outra vaga, principalmente nas mesas que falavam sobre Carlos Drummond de Andrade, ou sobre fotografia e literatura, o jeito foi partir para outros circuitos. Na casa de cultura também haviam filas enormes de gente tentando ingressos de última hora e só conseguimos uma única mesa.
A escritora inglesa Annalena McAfee, que foi jornalista cultural durante anos e criadora do suplemento literário do The Guardian's, falou sobre as mudanças de rotina desde que deixou o jornalismo e partiu para a literatura. O Paulo Roberto Pires, escritor, jornalista e editor da revista Serrote também estava na mesa e falou sobre os desafios de ser jornalista da área cultural e como não se pode ficar preso apenas aos releases enviados por assessorias. É preciso frequentar as livrarias e os circuitos alternativos, para descobrir novos bons autores.
Sem Tenda e sem Casa, fomos para a cultura das ruas, e como o universo conspira e sempre existem os alternativos, nos deparamos com a OFF Flip, organizada por um coletivo de artistas (Silo Cultural), com apoio da Prefeitura, com cerca de 80 atividades paralelas à FLIP, em botecos, restaurantes, salas de cultura, livrarias, galerias de arte, mercado do peixe... Tudo de grátis, enquanto as mesas oficiais oscilavam entre R$40,00 e R$10,00.
Na Off Flip tem palestras, recitais, bate-papos super legais com autores, exposições... Bom, vi um Sketch baseado numa entrevista imaginária com Drummond, onde o texto mesclava trechos de entrevistas reais com o poeta e declamações de alguns de seus poemas mais famosos. Vi o Antonio Campos, curador da Fliporto, que falou sobre o livro na era digital e um novo modelo de negócios para a cadeia do livro, com algumas novidades, pra mim, como o conceito do e-vook (e-book com vídeos pequenos, que dêem mais sabor à leitura), a necessidade dos novos autores, ainda sem editora, em colocar pílulas de seus textos em sites e blogs, que abram o apetite do leitor, para que este busque contato com o autor (que agora terá como tendência ser seu próprio editor e promotor), e o site pode ter uma plataforma para vendas diretas, o que achei uma auto-gestão interessante para o autor.
Ainda na Casa dos Autores, vi o poeta Osório Couto falando de como escreveu o livro 'A mesa', sobre Drummond, e do contato que teve com contemporâneos do poeta em Itabira.
Vi numa “Conversa de botequim”, perto do Cais, o escritor português José Luis Peixoto falando sobre suas obras, dentre elas “Livro”, seu último romance publicado no Brasil. Moço jovem, de vida simples e história ímpar, José me emocionou muito com seu jeito de pensar como nós, brasileiros, lidamos com os escritores. Para ele, a Flip é como um espaço mágico onde todos que escrevem viram seres especiais. Mas ele foi mais profundo, ao dizer que toda pessoa faz algo especial no mundo e deve ter boas histórias. E ser escritor é ofício como outro qualquer, quando percebemos que os escritores também dependem dos ofícios dos outros, dos ofícios que não dependem da palavra.
E para fechar, Felipe Pena, professor da UFF, que denominou a FLIP de 'fashion week literária' e falou da importância do circuito alternativo nesse contexto. Ele falou sobre os estudos que vem fazendo sobre critérios que a mídia e a crítica usam para empoderar os 'melhores autores' e na contra-partida, como autores de talento nem sempre são 'descobertos' mas acabam encantando e ajudando a formar novos leitores. Na frase do Felipe: 'são autores que provocam no leitor o desejo de virar a página'. Encantador é ver professor com estudos assim!!!!E para fechar, o pré-lançamento do “Geração Subzero” _ uma coletânea de contos organizada por Felipe com 20 autores que ele considera muito bons. No boteco estavam cinco deles, que falaram sobre suas obras.
A Flip, a Off, o tanto de informação que circula... penso que ir a um evento assim é uma aula pra vida inteira.
Para mim, Paraty, para nós todos!!!!!
A estrada maravilhosa parecia anunciar uma viagem de sonho. Eu acho que foi a estrada mais bonita que vi na vida, desde o Rio de Janeiro, passando por Mangaratiba, Angra dos Reis, até Paraty (Rio-Santos). Muito verde e muito azul.
Uma combinação de arrepiar. É olhar em volta, a perder de vista, mata e montanha. Parque Nacional da Serra da Bocaina, a APA do Cairuçú, a Reserva da Joatinga, e ainda, fazendo limite com o Parque Estadual da Serra do Mar... tem Mata Atlântica por todo lado. E quando vi a praia de Jabaquara, onde fiquei hospedada, por sinal em uma pousadinha super tranquila, a Brisa Marinha, não podia imaginar cenário mais lindo para acordar todo dia e caminhar até a FLIP.
O passeio de barco, no Fenix II, ao som de boa música ao vivo, por 5 horas, com direito a desfrutar 4 paradas para banho rodeado de peixinhos, conhecendo um pouco da história de algumas das ilhotas da Baía de Paraty (são 65 ilhas, mas vimos um terço delas apenas), foi TDB - tudodebom.
As cenas se descortinavam, eu, como sempre, tentando captar o que meus olhos não guardariam para sempre. E os clicks foram tantos.
Gosto de pensar que minhas crônicas fotográficas revelam os detalhes do todo, as pequenas cenas que iluminam minhas retinas.
Se em tupinambá, paraty significa rio do mar, é fácil entender as ruas que se alagam com as mudanças da maré.
Muito conservado, o centro histórico com seus casarios faz a gente imaginar quem andou por ali nos séculos de exploração do ouro, levando suas tropas pelas ruas estreitas e ainda hoje de calçamento tão irregular, parecendo leito de rio. Na FLIP era tanta gente indo e vindo...
Dos encantos mais encantadores da cidade, independente do evento internacional, ficou a admiração pelo Teatro de Bonecos, do espetáculo que vi: 'Em concerto', algo que me desconcertou, com encanto e magia. Apenas músicas, manipulação e os pequenos personagens que falam tanto sem emitir um único som. Eu fiquei sem palavras. É, foi uma viagem de sonho.
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