quinta-feira, 16 de julho de 2020

Já não tenho grandes amores

Vivi dois grandes amores: um na adolescência, o meu primeiro namoradinho, e outro na juventude. Nos dois eu ainda achava que era possível mudar o comportamento  das pessoas que amamos. Achava que eu também poderia mudar em minha essência. Mas o final destes amores me mostrou que não. Por mais que sejamos amados e amamos alguém, não se muda ninguém, tampouco abrimos mão do que nos torna diferentes. E esse fator diferencial entre as pessoas é o que pode unir e depois afastar.
No meu primeiro amor, eu queria que ele estudasse e percebesse no estudo, a valoração que eu dava. Ele passava horas a cuidar do corpo, se exercitava muito, desfilava como modelo, chegou a desfilar com Luma de Oliveira entre outras beldades (ai, que ciúmes!!!), era um rapaz muito lindo (eu acho que era o rapaz mais lindo da cidade) e acho que ele queria que eu fizesse o mesmo comigo: que eu me cuidasse e me vestisse como as suas amigas. E eu, estudando muito, fazia teatro, iniciando os primeiros empregos aos 16 anos. Éramos de mundos tão diferentes. E isso nos atraiu, depois nos afastou. Eu o quero muito bem. Sinto em mim um amor doce por aquela primeira paixão, um amor puro, que só deseja o melhor ao moço com quem troquei o meu primeiro "Eu te amo". 
O namorinho acabou e por algum tempo eu e ele fomos amigos. Até que ele, num terceiro casamento, conheceu alguém que o proibiu de ser meu amigo. Mas eu amo a família dele, que considero um pouco minha. Rezo pela sua mãe, falecida há mais de uma década, todos os dias. Eu a amo muito, a Lia Ramalho do meu coração, que Arthur, meu filho teve o prazer de chamar de vovó. Uma das irmãs dele, considero uma das minhas melhores amigas.
Depois, o meu segundo amor, foi mais intenso e entendi melhor como nossa mente humana funciona quando estamos enamorados. Existiam elementos importantes de afinidades e até vivemos juntos numa mesma casa, onde chegamos a ter, cada um, o seu quarto, o seu espaço de privacidade, e isso era muito bom. Meu pai e minha mãe estavam num processo de distanciamento e depois resultou em separação. Os pais dele também tinham se separado com dor, rancor e problemas. Eu e ele nunca dissemos que éramos marido e mulher. Nunca casados. Sempre namorados. 
Entretanto, numa época em que os meus pais, minha avó paterna, meus tios, todos esperavam que eu me casasse, pois sou a única filha da casa, eu dizia que era cedo. E quando os meus dois irmãos, que são homens e devem se casar mais tarde, se casaram, aos 21 e 22 anos, eu vivi uma luta particular, ideológica, para provar a todos que eu não queria casar.
E quando os meus dois irmãos tiveram os seus primeiros filhos, o Erick e o Victor, dos quais eu sou a madrinha, eu vivenciava uma nova luta ideológica para demonstrar que eu não queria ter filhos na época. Eu apenas observava a rotina da relação que eu havia optado ter, que já completava tempo suficiente, na cabeça de todos, para casar e ter filhos.
Éramos tão parecidos, eu e o meu segundo amor: mergulhávamos no conhecimento e enquanto ele descobria tudo sobre informática, início dos anos 90, quando ninguém sabia bem o que era isso, eu mergulhava em fotografia. Íamos juntos ao Paraguai comprar coisas de informática e de fotografia. Eu logo comprei uma câmera eletrônica semi-profissional, uma EOS da Canon, (custou uma grana!!!, com duas lentes maravilhosas, uma delas super clara). Logo comprei outra câmera tb EOS, ainda mais moderna, montei minha assessoria fotográfica, comecei a trabalhar como repórter de TV, de rádio, assessora e fotojornalista com consultoria para empresas diversas. Viajava, conhecia MS todo.

E passávamos horas falando de coisas interessantes. Ele era igual a mim, adorava pegar estrada.  Viajávamos por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em incontáveis viagens de muita conversa. Eu enveredada no jornalismo e ele quase largando a veterinária, sua profissão de origem para se dedicar à tecnologia. Mas existiam manias e vícios que nos afastavam e não houve vontade certa para abandonar tais manias e vícios. Eu sou maníaca em limpeza. Ele era viciado em largar tudo para limpar depois. Eu tinha mania de banho antes de dormir, ele tomava banho cedo e ficava feliz. Eu adorava sair para dançar, ele achava que ir a uma discoteca era coisa de solteiros, à procura de paquera. Eu queria viver em casas separadas, ele queria continuar na mesma casa... e assim as diferenças nos desuniu.

E nos separamos com dor.
O tempo curou.
Eu o amo e vou amá-lo para sempre: ele ajudou-me a eu me tornar o que sou hoje. Mais determinada, mais independente, mais mulher.
Falo com ele quase sempre. Seu nome figura entre aqueles a quem agradeço na Tese. Ele, quando eu estava em Portugal, me emprestou diversas vezes dinheiro, pois o euro subia e o salário de mestre, sem bolsa, não cobria as despesas. Ele confia muito em mim, pago sempre, sou capricórnio. Tenho palavra. Sou eternamente grata ao Wil.
Levei algum tempo para gostar de outra pessoa com a sensação de que ela era um amor. O pé atrás estava lá. E foi assim com o pai do meu filho. Ele já não foi um grande amor, mas um amor na medida certa, um amor que me fez perceber que não ia mudar ninguém e que eu não estava interessada em mudar ninguém. Mas que, enquanto estivesse bom para todos, estaríamos juntos. Foi um bom namoro, divertido, de dançar horas, fazer rapel juntos, viajar pelos sertões da Bahia. 

Planejamos um filho, sabemos o dia em que foi feito.
O final, mesmo tendo uma criança de um ano e meio a nos requisitar, que foi planejada e amada, foi um final tranquilo, na medida em que finais podem ser.


E hoje, apesar de discordamos política e ideologicamente em muita coisa, o considero um amigo. Temos diálogo. Eu o amo na medida em que amo tudo o que possa fazer o meu filho feliz. E desejo para o pai do meu filho sempre o melhor, porque ele me deu o que eu tenho de melhor neste planeta: Arthur Frederico.
E sigo assim desde então, tendo amores na medida certa. Sem muito stress e sofrimento, cheios de momentos lúdicos. Os meus amores nem sabem que são amados, que são amores. As vezes são amores do imaginário, da admiração. São amores impossíveis. Como o meu amor pelo Bono Vox do U2, ou pelo Justin Trudeau, Premier do Canadá (risos).
E nos relacionamentos que andei a ter depois de filho criado, nem declaramos, eu e a outra pessoa,  o amor leve que tivemos. Não digo EU TE AMO há muito tempo para um homem.
Porque já não se declaram os sentimentos hoje em dia. Sentimentalidades estão fora de moda. Mas os amo, pois na medida em que me fazem ou fizeram feliz, merecem esse amor. E sei que são pessoas maravilhosas porque escolhi estar com elas por algum tempo, porque me escolheram e viram qualidades em mim, apesar dos meus terríveis defeitos.
Mas, declaradamente, sabem de minha estima e sempre que nos vemos são grandes abraços, que nos colocam no colo. 
E mesmo sabendo que esses amores vão ficando no passado, sempre sem retorno, porque não vamos mudar, então sabemos que é preciso aceitar o outro como é, e se não há chance de conviver, manteremos o contato afetivo à distância.
Sei que ao envelhecer, corro o risco de olhar pra trás e me perguntar porque não consegui manter nenhum dos meus amores. Mas sei também que no caminho terei essências ricas que vivenciei, na medida em que esses amores se deixaram amar e me amaram, da maneira que podiam e queriam. E isso é enriquecedor como ser humano.

Um comentário:

Anabel Guerra disse...

Ai, que eu queria comentar tanto... mas é tudo tão profundo, que não consigo.
Gosteibde te ler, e me vi em algumas colocações, embora os meus finais não tenham sido tão tranquilos. A questão de "olharnpara trás e oerguntar por que não consegui manter os meus amores..." ainda é oesada para mim. Enfim... sigo amadurecebdo um pouco a cada dia.
Saudades , amiga... bom te ler, sempre!!! ❤