sábado, 27 de fevereiro de 2010

A roda de samba

Ontem fui ao Bairro Santo Antonio, a um boteco que fica numa esquina da rua que contorna a praça do Forte da Capoeira. Lá, fui apresentada a um samba, que rola todas as últimas sextas-feiras do mês, que é pra lá de interessante. Começa cedo e termina à meia noite.
Meu amigo Leo, que me levou ao lugar, me avisou: o boteco é simples, não tem garçom. Tem que pagar a cerva, levar pra alguma mesa, que já está sendo dividida por muita gente e os copos se perdem, as cervejas se dividem e assim fazemos amizades. Ontem conversei com muita gente e me senti, rapidinho, parte daquele lugar.
No meio do salão, mais de 12 músicos numa grande roda de samba. Gente que se reúne ali, traz seu instrumento e participa democraticamente e ludicamente de um momento cheio de energia.
Vi alguns senhores, já de cabelos brancos, revelando seus belíssimos repertórios (Adoniran, Noel, Cartola, Pixinguinha...), e um, em especial, me chamou a atenção com sua cuica chorosa, vestido de verde e rosa, em pleno coração de Salvador. Ele tinha no olhar e no riso, um conhecimento de samba, que muitos almejavam ali.
Somos um pedacinho do Rio naquele lugar. E senti saudade do samba que vi com meu querido amigo Arthur Max, nos anos de 1998, lá no alto de Santa Tereza.
Todos em volta cantavam os sambas, sugeriam, como que retirando do baú de lembranças, músicas da infância ou da mocidade, como tesouros que não se ouvem mais por aí(como eu, que via meu pai ouvir e cantar, e me apaixonei pelo samba ainda menina). Quero, quando meu filhote Arthur estiver maior, ter a possibilidade de apresentá-lo a eventos como este. Onde se ouve música popular, de qualidade, feita pela povo e para o povo, com uma dose mágica de prazer em cantar e entoar verdadeiros hinos de brasilidade.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A mais rica das viagens

Tá, conheci lugares lindos, experimentei sabores diferentes e pude vivenciar o cotidiano de Buenos Aires nos nove dias na cidade (caminhando pelas calles, sentada tranquilamente nas plazas, só em atitude de flâneur, a observar tudo, em lugares pouco turísticos, ou em lugares turísticos com atitude de morador). Também pude apreciar as paisagens de Uruguay (desta vez como turista, pois foram apenas três dias em Uruguay). Li, vi e fotografei tudo aquilo que aos meus olhos saltaram como novidade. E está tudo em meu diário.
Mas a mais rica das viagens foi conviver com meu amigo Amado Becquer Casaballe. Alguém que já admirava há mais de uma década, já lia os seus textos, que ele me enviava pelo correio ou email, ou pela ocasião da vinda de Indaiara à Buenos Aires, quando me enviou livros e revistas que edita. 
Poder conversar com alguém que tem a vivência e a experiência de vida e do fotoperiodismo, que lê muito acerca de fotografias e dos grandes fotógrafos, debater teorias, apreciar o que gosta através de seus livros, seus discos, seus gostos musicais, suas fotos. 
Conhecer os seus amigos, os seus lugares preferidos, e mais, ganhar presentes sem preço, como um cartaz que anuncia uma exposição do Fotógrafo Ernesto Guevara, meu querido El Che, que era fotógrafo, além de médico e comandante de revoluções.
Muito rica viagem... Porque o universo mais rico está no cotidiano, em conhecer universos diversos aos nossos. Esses ficam sempre em nossa memória e em nossos corações.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O melhor dos abraços

O abraço foi melhor do que eu esperava, havia muito carinho e logo nas primeiras conversas, recordações de anos de comunicação. E novamente me toma a alma a força das palavras...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quando o virtual vira abraço

'Sabe? eu tinha medo de morrer e nunca ver seus olhos...'. Escrevi isso há pouco, num mail, para um amigo com quem me correspondo há 14 anos.
Era início de 1997, eu fazia parte de um Fórum de Fotógrafos (Foto-BR), e me correspondia com fotógrafos de todo o Brasil e de algumas partes do mundo.
Depois migramos para a Photosynt, e nesse meio tempo, eu e Ro escrevemos 'Fotojornalismo: história, técnica e arte'.
Fui cuidar da vida, virei repórter de TV e nos onze anos seguintes continuei escrevendo para muitos dos amigos da lista. Nesse meio tempo, conheci pessoalmente muitos deles, nas maravilhosas reuniões na casa do Flávio e da Annie (que saudade! Evandro, Rogério, André, Marcos, Thiago, Arthur Max... papo muito bom, onde fotografia, vinho, vida eram assuntos da hora), vi Tibico duas vezes (uma em Feira de Santana e outra em Itabuna), e muitos outros nesta estrada da vida. Mas uma pessoa em especial, eu não tinha tido oportunidade de conhecer. Até nos falamos pelo telefone, mas nada de olho no olho.


Uma amiga viajou, foi a Buenos Aires. Eu queria que ela me contasse depois como era o meu amigo. Ela o encontrou. Levou-lhe uma lembrança, me trouxe presentes dele (edições maravilhosas da Fotomundo). E quando ela chegou ficamos conversando e ela me falava de um homem muito inteligente, um verdadeiro cavalheiro.

Isso eu já sabia. Quando nos conhecemos, foram tão intensas nossas conversas, todas por email. A internet era uma novidade e eu estava descobrindo a força da palavra, muito mais atraente que corpo, voz, química de pele. Era possível gostar de uma pessoa de forma virtual. E eu nunca esqueci o quanto os seus mails me fizeram bem.
Eu estava me separando de um namoro longo. Estava mudando de cidade, deixando emprego seguro, deixando minha vida inteira e ele me mostrava, em seus mails, o quanto eu deveria acreditar em mim.

Vida que segue, toma rumos diferentes. E nós nunca perdemos o contato. As vezes se passavam meses sem uma palavra, e depois eram vários mails de vez, como desabafos... eu soube quando seus romances acabavam, quando ele quase teve um infarto (pré-infartou), quando saia de barco em vacaciones, quando vieram as crises na Argentina, quando fez 50 anos e ficou um pouco deprimido...
e ele sabia quando eu estava em nova etapa da vida, quando engravidei, quando Arthur nasceu, quando me separei de Cris, quando fiz mestrado, quando abandonei a TV e comecei a lecionar audiovisual e fotografia. Amado Bec. Becquer Casaballe de minhas recordações, sem nunca ter visto seus olhos.
E foi assim, anos e anos de mails. Sempre em mensagem do tipo 'feliz ano novo', um emaranhado de planos, de sonhos. E foi assim este ano. Até que me bateu um estalo.
Em 2008 estive no Peru, em 2009 em Cuba.
Este ano eu já planejava caminhar mais um pouco pela América Latina, porque não Montevideo e Buenos Aires? E porque não, já? Esperamos tanto por um longo abraço...
E aí, no mail de ano novo, contei a ele: vamos nos ver.
Finalmente vou conhecer a cor dos seus olhos e ouvir sua risada. Ah, meu amigo virtual, passarás da bi para a tridimensionalidade e eu, confesso, agradeço ao universo a realização desse abraço.
Ele vai acontecer no próximo 08 de fevereiro...

> Lo que me pasa es algo tan dificil de poner en palabras: durante tantos años nos hemos estado escribiendo, contándonos nuestras cosas, pasando diferentes situaciones en la vida que ahora, que todo eso toma una forma corpórea, con sus sonidos y voces, lo que hace mucho más complejo, profundo y trascendente, que me provoca tantas sensaciones nuevas.  Amado Becquer Casaballe