E os medos existenciais... medo de sequelas, de falhas, medo de ir e não voltar... medos humanos de quem sabe que ficará com o coração nas mãos dos outros (dois médicos vão operá-lo). Foi um mês difícil. Nervoso, irritado, vi ele brigar com tudo e todos, inclusive comigo. Até tratei com minha terapeuta a minha dureza, ao dizer a ela que achava que ele estava manhoso demais. E ela, que já operou o coração também, me falou de cada etapa, das dores, e de como é difícil lidar com essa questão de manipulação de um órgão tão vital. Puxa, que insensibilidade a minha, me toquei. E pedi desculpas a ele, há cerca de uma semana, por não ter a referência de dor, como a dele e as vezes parecer que acho tudo fácil de ser superado. Ele, talvez por conta da ansiedade, passou muito mal por dois dias antes de viajarmos e eu, ao seu lado, só rezava e rezava... Com a falta de referência de quem nunca operou, mas que tem um apego espiritual ao princípio que a Divina Providência protege e providencia o melhor, eu só o conforto e digo todo o tempo: confie! Estamos em São Paulo, no Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese. Consegui acompanhá-lo nesse momento difícil e estou participando de todo o processo do pré-operatório. Antes de ontem fez cateterismo. Ontem já ficou internado, nos procedimentos que antecedem a cirurgia.
Conheci um dos médicos que vai operá-lo ontem, e ele nos explicou que, como meu amado tem duas cirurgias anteriores, os médicos precisam primeiro ir garimpando, para achar o órgão com cuidado, pois é um coração já manipulado duas vezes, há procedimentos anteriores que modificaram a estrutura original, então é nisso que levarão um certo tempo, para não desarrumar o que foi feito, e depois, fazer o novo procedimento, neste caso, a substituição de parte da aorta que está dilatada.
Vejo os olhos do meu bem se encherem de lágrimas. Vejo um homem forte virando um menino...
Pois bem, acompanhei o pós cateterismo no hospital e o pré-operatório. As diversas picadas (três enfermeiras em duas horas vieram tirar sangue, um absurdo! porque uma não tira tudo????)... conversas com cirurgião, com anestesista, com equipe que auxilia, um super ritual...
Eu fico tensa, imagino ele! Depois de amanhã, sábado, ou no domingo, quando ele voltar da UTI, eu serei sua acompanhante. Já soube que fica complicado tudo, que dói demais, e espero um 'moço menino bebê' para eu cuidar. Mas eu espero mesmo, é que Deus coloque ele no colo, que o universo conspire para que os cirurgiões façam o melhor, inspirados pela espiritualidade amiga, e que todas as orações dos pais, dos filhos, dos irmãos e das pessoas amigas, que o querem muito bem, o ajudem a passar por tudo isso.
Ps: volto aqui para dar retorno. Hoje é dia 28. São 16:10h. Foi uma cirurgia complexa, mais de seis horas, terminou ontem por volta das 20h, com dificuldades nas primeiras horas. Superou após a madrugada. Acordou depois das 8h de hoje e já está conversando. Vai ficar em observação na UTI, mas se Deus permitir, desce para quarto amanhã as 13h. Vou 'internar', serei acompanhante. A todos que enviaram boas energias, meu muito obrigada. O Universo, com sua lei do retorno, com certeza, devolverá a cada um, em boas energias, tudo o que desejou a meu amado.