A gente pensa que vai ser jovem para o resto da vida e esquece de planejar a velhice. Minha ficha caiu há alguns anos, quando meu querido Alexandre Schiavetti comentou sobre os melhores lugares para envelhecer e eu me toquei que Salvador não é a cidade ideal para viver a maior idade. Se o universo permitir que eu envelheça, quero vivenciar essa fase em lugar tranquilo. Quero poder andar pelas ruas com acessibilidade garantida, pois sei da fragilidade de quem já não poderá correr, de quem vai ter um equilíbrio comprometido, que necessitará de boas calçadas e quero, principalmente, estar rodeada de pessoas que respeitem os idosos. Quero uma cidade com modernidade, mas sem pressa, sem violência tão exacerbada, que faz dos velhinhos o alvo preferido dos malandros.
Desde 2010, quando estive pela primeira vez em Montevideo e reparei na qualidade de vida que a cidade oferece e na quantidade de idosos que transitam pelas avenidas largas, praças e ramblas (calçadões da orla), eu venho elencando a capital do Uruguay como o mais provável lugar que quero envelhecer. Tomei coragem e fui passar uma semana em terras celestes. Foi mágico. Vivenciei experiências de turistas e de moradores locais.
A escolha de onde se hospedar foi em função dessa proposta. Queria um bom bairro residencial. Fiquei em Punta Carretas. Pensei em alugar um apartamento, mas o frio me deixou em dúvida. Um hotel ofereceria mais tranquilidade se tivesse problemas com roupas, calefação, lavar louça, etc. E escolhi bem. Um apart hotel, o Punta Trouville, simples, limpo, bom preço, onde era proibido fumar, com café da manhã farto e delicioso, com ótimos funcionários, rua super tranquila e com muitos lugares para deixar o carro estacionado, numa rua paralela à rambla, rodeado de bons restaurantes, lojas e perto do shopping mais bonito da cidade. Como era apart, tinha microondas e fogão elétrico, tudo de cozinha que me permitiu ir à super mercados e comprar iguarias para pequenas refeições no hotel. E o legal é que no dia seguinte, ao sair para passear, voltava e encontrava tudo muito arrumadinho e trocado. Foi ótimo!
Aluguei um carro Spark, da Locadora Canin, que o meu amigo Gustavo já aluga há mais de dez anos e foi ótimo. Preço bom, carros novos, e uma disponibilidade maravilhosa. Tratei com o José Luis, dono da locadora, por whats app e email. Ele me enviou o carro no aeroporto e já saí de lá motorizada. Com o frio, chuva e vento, estar de carro foi uma 'mão na roda'.
A semana nos reservaria estar no olho do furacão na notícia mais quente da copa no período. Assisti o jogo do dia 24 na pequena cidade de Piriápolis, a 90 km de Montevideo. A Celeste ganhou, a mordida do Suárez passou despercebida naquele dia e curti com o povo na rua. A nação estava muito feliz. Aliás, com frio de 7ºC, o povo Uruguaio fez o clima esquentar depois da vitória contra a Azzurra. E fiquei impressionada como os jovens uruguaios saem do 'normal' na comemoração esportiva. Vi, tanto em Piriápolis quanto na rambla próxima ao hotel, muitos jovens exagerando no álcool e dirigindo, impedindo motoristas de prosseguir, criando muita algazarra. Polícia perto, mas nada de violência ou de notícias sobre episódios violentos em função disso. Complicado foi entender e lidar com os ânimos uruguaios, nos dias seguintes, quando o assunto era a punição da Fifa ao jogador. O Suárez é muito querido. Camisas nas ruas, só do 9, canecas com a frase 'Deus salve o Rei', em Inglês, e com Suárez usando coroa. E propaganda com o rosto dele em todas as esquinas. Enfim... o moço era a grande esperança. Eu achei excesso a mordida, achei que esse moço, tendo mordido dois outros jogadores anteriormente, deveria ter passado por um tratamento psicológico para não repetir tal comportamento sob pressão e, na minha cabeça, mesmo que tivesse sido injusta a quantidade de jogos que ele ficou impedido, ainda assim, a Celeste e a nação já sofriam por terem que suportar um fato como este. Mas daí a tirar do Suárez a responsabilidade da ação e culpar a 'máfia brasileira' que queria que a Celeste fosse penalizada, hum, não entendi muito. Pois bem, Celeste desclassificada. Muita tristeza. Eu que torço pra Celeste já há algum tempo, fiquei sentida e não esperava ver, mas vi, Uruguaios torcendo pelo Chile, e um garçom que me tratou mal em pleno Mercado del Puerto, porque eu estava em um grupo de brasileiros. Mas de maneira geral, observei muita educação, simpatia e cortesia naquele país. E já sou uma uruguaia de coração.
Pensando na Maior Idade, fiz atividades de quem nada tinha para fazer. A sede não era de ficar correndo atrás das atrações. Percorri boa parte do bairro à pé. Andei horas pelas ruas do centro da Ciudad Vieja. Observei o ritmo, as pessoas, turistas e moradores, artistas, vendedores ambulantes... Sentir o tempo sem pressa... Por conta disso, eu estava na praça mais importante da capital e participei de uma manifestação popular contra a FIFA e o excesso de punição ao Luiz Suárez.
Um dos lugares que mais gostei de ir, o MAM, Mercado Agrícola de Montevideo, com restaurantes mais simples mas de boa qualidade, doces variados e onde experimentei uma cerveja artesanal com muita variedade de cores e sabores. O Tannat uruguayo é famoso no mundo inteiro, mas eles adoram cervejas!!!
Outro lugar ímpar foi o restaurante La Perdiz, com a linda e simpática Jéssica (que não gosta de foto) e que nos atendeu exercitando o português dela. Lá experimentamos uma tábua de mariscos, com dois peixes, lulas, vieiras e camarões, maravilhosa! Falam muito da carne uruguaia, mas eu destacaria também os pescados, mariscos, a diversidade do jamón (presuntos e fiambres maravilhosos) e as pizzas retangulares.
Neste restaurante, no aeroporto Carrasco, eles cultivam as rúculas que vão nas pizzas. Maravilhosas.
Em 2010 eu achei linda a fachada do Teatro Sollís. Na época fiquei apenas um final de semana e não consegui ver um espetáculo. Dessa vez, mesmo com grana curta, comprei ingressos em lugares baratos, apenas para entrar, conhecer e ter a experiência de vivenciar o ambiente do teatro. Lindo demais!!!! Foi muito interessante ver como os idosos saem à noite, vivenciam mais o que o cidade tem a oferecer. Diferente de cidades brasileiras do nordeste. Aqui, acho que pela violência, pelos desconfortos, o idoso acaba mais isolado em casa ou só faz programas com família. Lá, muito normal, ver idosos sozinhos, em grupos ou casais, em todos os lugares. Os pontos de ônibus estão sempre com muitos idosos. No Sollís, por exemplo, acho que eu era uma das pessoas mais novas da platéia.
É claro que eu tinha que mostrar ao meu bem as atrações turísticas e também fui a alguns lugares que são obrigatórios, como Mercado del Puerto e o Prédio Legislativo. O fato de ser inverno limitou muito, mas eu já tinha ido no verão e visto o quanto a cidade tem praias maravilhosas, que ficam cheias e animadas (apesar de não ser praias oceânicas, mas não perdem em nada, pois é o maior rio em largura, do mundo, na Bacia do La Plata). Por isso queria sentir mesmo o clima de frio, os restaurantes com as churrasqueiras imensas, onde ficam as carnes divinas. Todos os lugares que entramos, tiramos os casacos, pois tudo com calefação, em temperatura de 24, 26, 28 graus, super confortável.
Como estava de carro e ficava rodando pelas ruas também, descobri a confeitaria '25 de Mayo', única, 'rica', um mimo de lugar, cheia de confeiteiros super simpáticos, onde estive por duas vezes, comprando o melhor suspiro que comi na vida, além dos docinhos divinos (na foto da mesa com a ceia dá pra ver), brioches e rosquinhas de dar água na boca.
Bom, foi a segunda viagem ao paíszito, e se Deus permitir, outras virão. E um belo dia, se esse Brasil não mudar, irei de vez, viver naquele lugar calmo e onde as leis funcionam.