segunda-feira, 20 de junho de 2016

A visão limitada do suicídio

Hoje um casal amigo perdeu um filho de 20 anos. Penso que é a pior dor, essa de perder um ser que nasceu de nossas entranhas, que cresceu dentro do nosso corpo, que nosso cálcio produziu seus ossinhos...
E o amor? aquele amor imenso que nos toma o peito quando olhamos no rostinho de nossos rebentos? e esse amor que nos faz planejar e visualizar a felicidade desse filho aos 10, aos 20, aos 30...
e eis que vem a morte, aquela 'coisa' monstruosa e destrói toda e qualquer possibilidade de um filho enterrar um pai, fato natural para qualquer humano. Pois bem, a dor já se fez imensa, penso, quando fico sabendo que a perda não se deu por acidente, não foi por doença, não foi causada por outrem mas foi uma escolha do rapaz.
Na hora eu senti uma dor tão forte, por empatia, me coloquei no lugar desses pais, desolados em perder para a visão limitada de jovem desesperado, que acredita que está no fundo do poço.
O que dizer do suicídio? se não estamos preparados nem educados para a morte, o que dizer da morte escolhida, planejada, realizada por aquele que se foi? Não, não estamos preparados para o verdadeiro livre arbítrio.
Será que ele pediu socorro e ninguém percebeu? é logo o que pensamos.
Será que ninguém o ensinou que na vida tudo passa, tudo muda, tudo é cíclico, que não há mal que dure para sempre nem felicidade eterna?
A vida foi vencida pela visão limitada da juventude que quer resolver tudo às pressas.
Não sabemos lidar com o suicídio. Ele não nos é natural.
Mas nem a morte parece ser. E ela é. Ela é a coisa mais certa da vida. Ela é tão ou mais certa que a própria vida. Tem gente que vem e vegeta. Nem vive. Mas vai morrer.
Tem gente que vem e convive com o mal de Alzheimer, esquece da própria vida, mas também vai morrer.
Tem gente que vive em área de guerra, lutando a cada minuto para salvaguardar-se e a morte pode estar no segundo seguinte. Então, ela é a mais natural das coisas que nos acontece.
E ela nos acontece sempre. Se todos nascem, crescem e morrem, convivemos desde sempre com a morte, de nossas plantinhas, bichinhos, bisavós, avós, pais, amigos, parentes... mas ainda nos é inconcebível a morte de um filho. E percebo o quanto ainda estou despreparada para ela.

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