sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Morro de amores

Eu conheci Morro de São Paulo, na Ilha de Tinharé, quando era muito jovem. Adolescente ainda. E Morro era apenas uma vila de pescadores. Não tinha prédios, apenas sobrados, não tinha hotéis, apenas pousadas caseiras. Os moradores alugavam quartos em suas casas para os pouco turistas. Tinha um orelhão da Telebahia, ainda com fichas, na rua da Fonte, e a fila era enorme sempre, para falar com minha mãe e dizer que eu estava bem. Mas já tinha restaurantes interessantes, tanto de moradores quanto de turistas estrangeiros que, tendo ido pela primeira vez, foram tomados de uma paixão por aquele lugar e lá ficado.
Penso que, se eu fosse mais velha, e se tivesse de onde herdar algo e não precisasse estudar, teria ficado em Morro pra sempre, naquela primeira vez. Lembro de ter visto o pôr do sol no Forte. Eu estava com poucos amigos, mas o lugar estava cheio, com muitas pessoas desconhecidas mas que tinham um sorriso no olhar, uma cumplicidade. Alguns tocavam violões em seus pequenos grupos, mas todos de alguma forma estavam ouvindo música. Alguns casais abraçados, uns pareciam namorados, outros pareciam amigos. Todos admirando um astro lindo, o sol, que se despedia do dia, à oeste. E do outro lado, a leste, não demorou quase nada, uma lua que nasceu saindo do mar, enquanto eu estava deitada na parede do Forte, a parede mais grossa que eu já tinha visto na minha vida. A fortaleza de Morro. Um cenário inebriante. E a lua fez um caminho de luz rasgando o oceano. Vi que muitos estavam fumando canabis, mas eu não estava. Eu era muito conservadora quando jovem.
Mas ainda assim, havia algo mágico, algo que preencheu meu espírito naquele lugar.
Lembro que a cada descoberta, desde a paisagem panóptica do Farol, o banho de argila no caminho para Gamboa, a noite cheia de pessoas a transitar com suas sandálias ou pés descalços, na areia da rua mais importante da vila. Ao interagir, eu ouvia cinco, seis línguas diferentes... Tudo-aquilo-junto-misturado,  deixou-me cheia de um sentimento de pertencimento.
Nos anos seguintes, sempre que podia, ia à Morro. 
Eu fui morar fora, em MT e depois MS, mas sempre que visitava a  Bahia, ia ao Morro.
Levei os meus irmãos, levei a minha mãe, levei amigos... e ao observar as alterações no lugar, eu ficava sempre com certa nostalgia.
Colocaram luz elétrica nas praias, construíram prédios e grandes hotéis. O Morro passou a ter baladas, os moradores e pescadores da vila se foram, pois cederam lugar aos empresários. O Morro foi vítima da gentrificação. 
Boa parte da mata foi retirada para virar desde aeroporto, até grandes resorts. Calçamento, telefone celular, internet.
Mas o meu sentimento de pertencimento permaneceu. Esta semana fui apresentar Morro de São Paulo a Arthur.
Como lá não tem carro e tem que subir e descer ladeira, sempre que fui, nos últimos anos, deixava Arthur de fora do programa. Ele só tem 8 aninhos mas andou, caminhou, cansou! nem fomos ao Farol. Mas fomos até a quarta praia. Ele também se apaixonou.
A todo momento ele dizia: mamãe, a água é linda, a vista é linda... gostou das ruínas, das casas da vila, ele ficou mesmo deslumbrado.
Penso que o meu menino é como a mãe, um ser visual, que é tomado de amores por belas paisagens.

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